Publicado em: 27/08/2024 às 10:00hs
Nas prateleiras dos supermercados europeus, três variedades de maçã desenvolvidas pela Epagri têm atraído a atenção dos consumidores. As maçãs Luiza, Venice e Isadora são notáveis por sua doçura intensa, suculência e crocância, características que são amplamente promovidas em campanhas publicitárias e atraem investimentos significativos em marketing. O sucesso dessas variedades é fruto da alta qualidade das frutas e das vantagens competitivas para os produtores, que despertaram o interesse de empresas internacionais em transformá-las em um sucesso global.
A trajetória internacional das maçãs da Epagri começou há mais de duas décadas, através de um contrato de cooperação e licenciamento com a francesa International Fruit Obtention (IFO). Neste acordo, a Epagri enviou seleções e cultivares desenvolvidos em Santa Catarina para testes na França. Com a aprovação e o crescente interesse europeu, a IFO passou a buscar parceiros comerciais para expandir a comercialização dessas variedades.
Recentemente, as maçãs Luiza, Venice e Isadora foram incorporadas ao portfólio do Grupo Rivoira, da Itália, por meio de uma parceria comercial firmada há dois anos. O Grupo criou o Clube de Variedade Sambóa, que promove as frutas sob uma marca unificada. Atualmente, 200 hectares de pomares na Itália já estão cultivando essas variedades. A primeira safra comercial, colhida no verão e outono de 2023, recebeu feedback positivo dos consumidores e clientes. “Foi um sucesso. O perfil gustativo das frutas deixou nossos parceiros internacionais entusiasmados e motivados a acelerar a expansão dos plantios,” afirma Gerhard Dichgans, diretor do projeto Sambóa.
A expansão global continua, com prospecção de parceiros em países como Nova Zelândia, Chile, África do Sul, Austrália e Estados Unidos. A previsão é atingir 4 mil hectares de cultivo com as variedades da Epagri nos próximos oito anos, o que permitirá uma produção anual de cerca de 200 mil toneladas de maçãs sob a marca Sambóa. “Visitamos a Nova Zelândia, Austrália e Chile. No Chile, observamos as primeiras plantas de Luiza após a quarentena e notamos que estão produzindo frutos de qualidade semelhante aos da Itália,” acrescenta Dichgans.
As macieiras da Epagri se destacam pela qualidade das frutas e sua adaptação a climas mais quentes. Isso se deve a uma das metas do Programa de Melhoramento Genético da Epagri, que visa desenvolver cultivares com menor necessidade de frio hibernal, facilitando a superação do período de dormência.
Apesar do sucesso internacional e da qualidade comprovada, as variedades Luiza, Venice e Isadora ainda enfrentam dificuldades para ganhar espaço no mercado brasileiro. Desenvolvidas para atender às necessidades dos produtores locais, elas enfrentam a barreira comercial imposta pelas variedades Fuji e Gala, dominantes no mercado. “A competição com as maçãs Gala e Fuji é tão intensa que, apesar das vantagens agronômicas e da alta qualidade, as novas variedades não conseguem se estabelecer no Brasil,” afirma Marcus Vinicius Kvitschal, pesquisador responsável pelo Programa de Melhoramento Genético de Macieira da Epagri.
A Epagri busca transformar seu sucesso internacional em uma referência para o setor produtivo brasileiro, demonstrando a viabilidade de estabelecer um mercado para novas variedades de maçã no país.
Enquanto as variedades de maçã da Epagri ainda não estão disponíveis no mercado brasileiro, a empresa arrecada royalties pela venda de mudas e frutas. Esses recursos são destinados a financiar novas pesquisas que beneficiarão o setor agrícola nacional. Até 2023, a Epagri arrecadou quase € 400 mil (aproximadamente R$ 2 milhões) com taxas de cessão de direitos e royalties. “Os valores devem aumentar com a intensificação da produção e venda das frutas nos próximos anos,” explica Marcus.
Com cerca de 50 anos de experiência, a Epagri é referência no Brasil em melhoramento genético de macieiras, tendo desenvolvido 24 variedades, das quais 17 são híbridas e sete são mutantes espontâneas das variedades Gala e Fuji. O objetivo é oferecer macieiras com características desejadas pelos produtores e consumidores, como alta produtividade, adaptação climática, resistência a doenças, qualidade superior dos frutos e capacidade de conservação em câmaras frigoríficas.
Uma vantagem ambiental significativa dos cultivares da Epagri é a menor necessidade de indutores de brotação, produtos tóxicos usados para quebrar a dormência das plantas. As variedades Luiza, Venice e Isadora são bem adaptadas ao clima ameno brasileiro e têm menor necessidade de frio hibernal. Além disso, essas variedades oferecem resistência genética a doenças e pragas, reduzindo o uso de agrotóxicos e promovendo uma produção mais segura e sustentável. Em reconhecimento a esses avanços, a Epagri recebeu o prêmio máximo no 23º Prêmio Fritz Müller em 2022, na categoria Agricultura Sustentável.
Os cultivares Luiza, Venice e Isadora têm períodos de maturação diferenciados, permitindo uma colheita escalonada. A Luiza é colhida precocemente, no mesmo período ou antes da Gala; a Venice é de meia-estação, colhida entre a Gala e a Fuji; e a Isadora é colhida tardiamente, após a Fuji. Isso possibilita aos produtores brasileiros distribuir a colheita de janeiro a abril, melhorando a oferta de frutas de qualidade ao longo do ano, inclusive na entressafra. “Essas variedades têm o potencial de elevar o padrão de qualidade das frutas disponíveis no mercado brasileiro,” conclui Marcus.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias