Publicado em: 22/07/2025 às 13:00hs
Um estudo conduzido pela Embrapa Meio Ambiente, em parceria com a Universidade de Rio Verde (UniRV), revelou um aumento expressivo de 128% no uso de herbicidas no Brasil entre 2010 e 2020. O volume de ingredientes ativos comercializados passou de 157,5 mil para 329,7 mil toneladas ao ano. A pesquisa foi publicada na revista científica Agriculture.
Esse crescimento contrasta com a expansão de apenas 24% da área agrícola no mesmo período, evidenciando um desequilíbrio no manejo de plantas daninhas, fortemente vinculado à crescente resistência ao glifosato — principal molécula herbicida utilizada nas lavouras do país.
Segundo a pesquisa, os herbicidas representam 59% das vendas de defensivos agrícolas no Brasil, superando a média global de 52%. Isso indica a predominância do uso desses produtos sobre fungicidas e inseticidas. A razão está na ampla aplicação dos herbicidas ao longo de todo o ciclo agrícola — desde o preparo do solo até o período de pousio.
Com a perda de eficácia do glifosato, outras moléculas passaram a ser usadas em larga escala. Entre 2010 e 2020, o aumento no uso de alguns compostos foi notável:
Esse cenário mostra uma tentativa dos agricultores de manter o controle químico como principal estratégia, mesmo diante da emergência de plantas resistentes, segundo Robson Barizon, chefe-adjunto de Pesquisa da Embrapa Meio Ambiente.
A análise utilizou dados do Ibama, padronizados para atender normas internacionais. Foram excluídos produtos não agrícolas e ajustadas as unidades de medida dos ingredientes ativos. A equipe também cruzou os dados com informações sobre expansão agrícola, áreas de soja e pastagens, fornecidas pelo IBGE e pela UFG.
O estudo mostrou que os herbicidas superaram com folga outros defensivos, devido à sua aplicação em múltiplas fases da produção, diferentemente de fungicidas e inseticidas, que são aplicados apenas durante o cultivo.
A pesquisa aponta que há escassez de métodos alternativos no mercado nacional, como:
Mesmo com avanços nas pesquisas, essas opções ainda não estão disponíveis em larga escala no Brasil. Para os pesquisadores, essa dependência dos herbicidas químicos é insustentável e precisa ser superada.
Atualmente, o Brasil já registra 20 casos de resistência ao glifosato, envolvendo 12 espécies de plantas daninhas, incluindo capim-amargoso, buva, caruru e capim-pé-de-galinha. Também preocupam as plantas voluntárias de milho resistente ao glifosato, que invadem lavouras de soja.
Essa resistência está obrigando produtores a utilizarem misturas mais complexas de herbicidas ou aplicações sequenciais, o que eleva os custos e o risco ambiental, como explica o pesquisador da Embrapa, Sergio Procópio.
Dois fatores históricos explicam o uso intensivo do glifosato no Brasil:
Apesar de simplificar o manejo, essa estratégia intensificou o uso repetido do mesmo produto, o que aumentou a pressão seletiva sobre as plantas daninhas.
Mudanças sociais, como o êxodo rural e a urbanização, reduziram a mão de obra disponível para a capina manual. Isso favoreceu a mecanização e o uso de insumos químicos pela sua rapidez e facilidade de aplicação.
Os pesquisadores alertam que a dependência excessiva de herbicidas ameaça a sustentabilidade da agricultura e sugerem várias medidas para reduzir esse impacto:
Segundo Procópio, a transição para uma agricultura mais equilibrada é urgente. "Não podemos depender exclusivamente de ferramentas químicas. Um sistema sustentável exige diversidade de soluções", conclui.
Assista ao vídeo relacionado ao estudo:
Fonte: Portal do Agronegócio
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