Pesquisas

Práticas culturais podem evitar perdas ainda maiores diante do granizo ocorrido na região

Na tarde e noite de domingo e na madrugada de segunda-feira da semana passada, dias 10 e 11, respectivamente, a Serra Gaúcha foi castigada por granizo, chuva forte e ventanias em diferentes momentos


Publicado em: 18/11/2013 às 15:30hs

Práticas culturais podem evitar perdas ainda maiores diante do granizo ocorrido na região

No meio rural, há relatos dando conta de projeções de quebra de até 70% na produção na próxima safra da uva – e de estimativas de perda de 100% mesmo, no caso de hortaliças.

Agora, os agricultores precisam é adotar uma série de práticas, para evitar prejuízos ainda maiores diante dos estragos causados pelas intempéries. Nos casos da viticultura e da fruticultura de clima temperado (pêssego, ameixa etc.), o procedimento específico depende do grau de danos provocados aos vinhedos e pomares, diz o pesquisador em fitopatologia da Embrapa Uva e Vinho Lucas Garrido, também chefe-geral da unidade de pesquisa.

De acordo com ele, nas situações de perdas altas, próximas de 100%, os produtores deverão efetuar uma poda de formação, igual à feita no inverno passado. A seguir, precisarão aplicar fungicidas de contato, para proteção dos ferimentos nas plantas e cicatrização daqueles decorrentes do granizo. Também uma nova adubação é necessária, para que a planta tenha nutrientes suficientes para a brotação e acúmulo de novas reservas, pensando-se na próxima safra.

Para os vinhedos e pomares que apresentam um nível menor de estragos, a recomendação, assinala Garrido, é a aplicação de fungicidas de contato, para proteção dos ferimentos ocasionados nas plantas pelo granizo. Também as frutas danificadas devem receber uma ou duas pulverizações com fungicidas de contato, para evitar que fungos causem o apodrecimento das mesmas, a partir dos ferimentos.

O pesquisador anota que, em ambos os casos (maior ou menor perda), é importante a manutenção de pulverizações com fungicidas, para que as plantas possam manter as folhas e novas brotações com boa sanidade. “Sem a produção de novas brotações e folhas, a videira estará mais sujeita a não entrar adequadamente em dormência no próximo inverno, o que poderá aumentar os problemas de morte de plantas por escurecimento da casca”, observa Garrido. Em caso de qualquer dúvida, os produtores deverão consultar os técnicos de extensão rural ou de vinícolas a que entregam sua produção ou são associados, acrescenta ele.

Levantamento das perdas

Em laudo técnico datado do dia 11, assinado pelo escritório local da Emater/RS-Ascar e pela Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura de Bento Gonçalves, estimam-se em R$ 9,89 milhões os prejuízos para o meio rural do município decorrentes do granizo, que atingiu 365 propriedades, em uma área de 931 hectares. As perdas, segundo o documento, variam de acordo com a cultura: na viticultura, a projeção de quebra para a próxima safra é de 13,45%; nas fruteiras de clima de temperado (como pêssego, ameixa, quivi e caqui, que se encontram em pleno desenvolvimento vegetativo), a estimativa de perda é de 80%.

A explicação para os diferentes percentuais de dano é dada pelo pesquisador em agrometeorologia da Embrapa Uva e Vinho Eduardo Monteiro. Segundo ele, a intensidade do granizo varia muito, e não apenas de uma microrregião em relação à outra, mas também em uma mesma propriedade.

Viticultura – Em relação à produção de uva, Monteiro detalha que todas as cultivares foram igualmente afetadas, apesar das diferenças entre elas quanto a estágio do ciclo vegetativo. Isso se deve à intensidade do fenômeno, explica. “Eu, pessoalmente, nunca tinha observado o que aconteceu: em Bento Gonçalves foram três sequências de granizo, coisa bastante rara; uma aconteceu por volta das 15h de domingo, outra, às 22h, e, por fim, uma entre 1h e 2h de segunda-feira, tendo sido esta a mais grave, pelos relatos”, diz ele.

O pesquisador também ressalta que no momento da pior ocorrência de granizo os ventos foram de 73 quilômetros por hora, no registro da Estação Agroclimática da Embrapa Uva e Vinho. Também o volume de chuvas impressiona: entre 10h de domingo e 10h de terça-feira, a precipitação foi de 183 milímetros, quando a ‘normal climatológica’ (a média no período de 1961 a 1990) para novembro é de 140 milímetros. “Apenas entre 10h de domingo e 10h de segunda-feira, foram 120 milímetros”, destaca Monteiro.

Ele acrescenta que em algumas culturas, principalmente a videira, a intempérie prejudicará a produção do próximo ano, em função dos danos causados nas plantas, afetando sua formação no ciclo seguinte.

Estragos na unidade

A própria Embrapa Uva e Vinho, com sede em Bento Gonçalves, teve prejuízos em decorrência do granizo.

Segundo o supervisor dos campos experimentais, técnico Roque Zilio, em avaliação preliminar, a perda na produção de uva na próxima safra é projetada em 15%; na de maçã (a ser colhida a partir de janeiro) e de pêssego (cuja colheita se encerra em dezembro), em 20%. A unidade de pesquisa mantém cinco hectares de videira e em torno de um para as outras duas frutas (meio hectare de cada).

Das cinco estufas de vidro/casas de vegetação usadas em experimentos na Embrapa Uva e Vinho, todas sofreram danos por quebra de vidros do teto ou das laterais das estruturas. “E isso mesmo com proteção de tela (sombrite)”, anota o supervisor do setor de casas de vegetação, assistente Sérgio Luiz Zarpelon. Foram contabilizados 78 vidros quebrados, diz Zarpelon, segundo quem também telados cobertos com lona plástica tiveram estragos. “Não me lembro de ter havido perdas nas casas nas mesmas proporções por causa de granizo”, acrescenta o supervisor.

Fonte: Embrapa Uva e Vinho

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