Publicado em: 28/11/2019 às 16:20hs
O greening é a mais grave doença da citricultura. Até agora a ciência não encontrou uma solução contra os danos causados por colonias de bactérias que interrompem a circulação da seiva das árvores, e levam à sua morte. Até o momento conseguiu-se apenas saber que ele é transmitida por um vetor, o psilídeo, pequeno inseto que habita os brotos das laranjas - é que é de dificil controle.
Os pesquisadores já sabiam dessas dificuldade desde quando se puseram a combater outro pequeno inseto que voa pelos pomares - a cigarrinha, vinda dos pastos. Com a cigarrinha, chegaram à origem de outra doença da laranja, o CVC. Aprenderam que a doença (a xylella, também uma bactéria) é transmitida pela mandíbula do bichinho. A cada picada, a saliva contida nas mandibulas transmite a doença bacteriana.
No entanto o CVC e outras doenças bacterianas que afetam os pomares - como o cancro cítrico e o amarelinho -, são consideradas problemas menores perto do greening. Depois de dizimar os pomares do centro do Estado de S. Paulo, o greening já está instalado nos pomares da Flórida (EUA) e a cadeia do suco de laranja se mostra sem perspectivas de sobrevivência.
Ou seja, em termos de severidade, o cancro cítrico pode ser considerado como um "câncer leve" dos pomares; já o greening, é a "aids" da citricultura.
O custo do manejo do greening varia entre 5% a 10% do custo total de produção, o que representa em média R$ 845,00 por hectare de laranjas. Quando o greening se instala em 60% da planta a produção da laranjeira já sofreu uma queda de produtividade de 68%.
Pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), liderados pela dra. Alessandra Alves de Souza, começaram a procurar outro caminho. Entre erros e poucos acertos, a pesquisadora Alessandra procurou uma solução humana. Observou que as pessoas, principalmente as crianças, ao ficarem com seus narizes entupidos, sofrem queda de resistência contra o ataque de bactérias e registram aumento de estress. Ou seja, ficam mais doentes. Solução? desobstruir os narizes.
A pesquisadora concluiu que as laranjeiras precisavam ter desobstruidos os floemas, os pequenos vasos que circulam pelas laranjeiras, principalmente nas folhas - pois é por ali que as plantas respiram. Mas com qual produto? a solução veio de um aminoácido, o NAC (abreviatura de acetilcisteína).
Nos humanos a acetilcisteína é indicado para as criança, utilizado como expectorante quando o neném (e adultos também) tem dificuldade para expectorar, causada pela bronquite, a enfisema pulmonar, ou pneumonia (resultando na inflamação nos pulmões e brônquios). Um sofrimento... Nas laranjeiras o greening causa o mesmo problema, redundando na morte da planta.
A molécula do NAC trouxe outros beneficios para os vasos entupidos por greening. Limpou as bactérias e rejuveneceu os floemas, graças à eliminação dos radicais livres. A laranjeira se desestressou... e, como os humanos, passou a ter uma cor mais viva, e cobertura vegetal (como a pele) mais limpa.. Com a passagem de água e nutrietes, a vida voltou aos laranjais.
Isso não significa, ainda, a solução para doença, mas sim uma forma de manejo dos pomares, permitindo a convivência de plantas fortes contra as obstruções da colonias, os chamados "biofilmes", pelotas de colonias grudentas que tomam conta dos pequenos vasos das folhas.
A luta contra o greening trouxe outra superação para as costumeiras dificuldades que afetam as pesquisas no Brasil - a falta de verbas. Através de leis libertadoras e inovadoras, o Governo do estado permitiu a criação de startups incubadas dentro do centro de pesquisa Syvio Moreira, em Cordeirópolis (voltado integralmente para as pesquisas da citricultura).
Uma das pesquisadoras do IAC, a dra. Simone Cristina Picchi criou uma empresa, a Ciacamp, que associou-se à fabricante de fertilizantes de S. Carlos, a AmazonAgrosciences, e daí para a formulação de um adubo liquido foi um passo. Surgiu o "GranBlack", que já está em utilização por 40 citricultores.
A dra. Simone mostra num video abaixo como funciona o "desentupimento" proporcionado pelo NAC e os resultados nas plantas menor queda de frutos, maior resistencia ao ataque dos psilideos e rejuvenescimento dos laranjais. Igualzinho ao que acontece com as pessoas, completa ela. (acompanhe a entrevista acima).
O GranBlack não é, portanto, um remédio, um antibiótico, e sim um rejuvenescedor da planta. É importante esse esclarecimento, pois outra batalha acontece em torno do produto do IAC: empresas concorrentes denunciam à Anvisa (e ao Ministério da Agricultura) que o GrandBlack seria um agrotóxico e necessitaria de registro mais severo.
Os pesquisadores do IAC replicam que o produto é um rejuvenescedor (suplemento) vegetal, que repõe os minerais para a planta. Mas, na dúvida, mais testes são pedidos pelo MAPA, novos lotes são vistoriados e o desalento campeia pelos pomares de S. Paulo, afetados pela aids da citricultura.
Conclusão... maior que a dificuldade de enfrentar o greening, agora os pesquisadores do IAC se deparam com a luta surda da burocracia. Com isso o tempo passa, o psilídeo voa, o greening entope os laranjais e o Brasil perde a sua condição de maior exportador de suco de laranja do mundo.
Fonte: Notícias Agrícolas
◄ Leia outras notícias