Pesquisas

Pesquisa brasileira identifica fungos que eliminam 100% do mofo-branco na soja, feijão e algodão

Fungos do solo combatem mofo-branco, doença que ameaça culturas importantes


Publicado em: 09/06/2025 às 16:00hs

Pesquisa brasileira identifica fungos que eliminam 100% do mofo-branco na soja, feijão e algodão
Foto: Mofo-branco na vagem do feijão. Foto: Sebastião Araújo

Pesquisadores brasileiros descobriram que espécies de fungos do gênero Trichoderma conseguem eliminar completamente os escleródios — estruturas resistentes do fungo Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo-branco. Essa doença afeta cultivos estratégicos como soja, feijão e algodão, e é tradicionalmente controlada com fungicidas químicos caros e que causam impactos ambientais.

Estudo revela cepas com alta eficácia no controle biológico

A pesquisa foi realizada pela cientista Laísy Bertanha, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com orientação do pesquisador da Embrapa, Wagner Bettiol. Eles identificaram cepas de Trichoderma yunnanense e Trichoderma dorotheae que inibem até 100% da germinação do fungo causador do mofo-branco. O Trichoderma yunnanense mostrou destaque, com 97,5% de eficácia, indicando grande potencial para uso como biofungicida.

Alternativa sustentável ao uso intensivo de fungicidas químicos

O mofo-branco é difícil de controlar porque seus escleródios sobrevivem longamente no solo. O combate convencional depende muito do uso de fungicidas que têm custo elevado, impacto ambiental e podem gerar resistência nos patógenos. O uso do biocontrole com Trichoderma representa uma alternativa mais segura e sustentável.

Laísy Bertanha ressalta que a combinação de diferentes cepas pode potencializar o controle biológico, reduzindo a doença no solo. Além disso, ela destaca a importância de isolar microrganismos do próprio ambiente em que serão aplicados, para maximizar a supressão dos patógenos.

Biocontrole deve ser parte de estratégias integradas

O mercado de biopesticidas cresce impulsionado pela busca por práticas agrícolas mais sustentáveis. No Brasil, o uso de Trichoderma no manejo de doenças tem se expandido desde os anos 1980, mas desafios ainda existem, como produção em larga escala e capacitação dos agricultores, segundo Wagner Bettiol.

No manejo integrado, o biocontrole precisa ser aliado a outras práticas, como a rotação de culturas com gramíneas — que não hospedam o fungo — e a adição de matéria orgânica ao solo, que favorece microrganismos benéficos. O uso de sementes de alta qualidade e a sanitização de máquinas agrícolas também são fundamentais para evitar a dispersão do fungo, já que o mofo-branco é monocíclico e depende do inóculo inicial para se desenvolver.

Redução da agressividade do mofo-branco e seleção rigorosa de microrganismos

Os fungos do gênero Trichoderma atuam impedindo a produção de substâncias como o ácido oxálico, que é essencial para a virulência do mofo-branco, reduzindo sua capacidade de causar danos severos.

Durante a pesquisa, nove espécies de Trichoderma foram isoladas em áreas de agricultura orgânica, com destaque para Trichoderma yunnanense e Trichoderma atrobrunneum na supressão da doença. O Trichoderma yunnanense foi encontrado em solos cultivados com feijão irrigado. A diversidade microbiana do solo está ligada à capacidade de controlar patógenos, tornando o biocontrole um importante aliado para sistemas agrícolas mais equilibrados e resistentes.

Bettiol reforça que o sucesso do biocontrole depende da combinação de biofungicidas, práticas culturais e, quando necessário, o uso moderado de produtos químicos, para um manejo eficiente e sustentável do mofo-branco.

Brasil lidera mercado mundial de bioinsumos agrícolas

O mercado global de bioinsumos cresce em média 14% ao ano, mas o Brasil registra expansão ainda maior: entre 2021 e 2022, o setor cresceu 67%, segundo dados da Embrapa. O país responde por cerca de 20% do consumo mundial desses produtos, destacando-se como o maior mercado global de bioinsumos para controle biológico.

Essa liderança é atribuída ao clima tropical, à vasta área agrícola e à demanda por soluções sustentáveis. Bettiol destaca a importância de manter e ampliar investimentos em pesquisa e capacitação, para levar essas tecnologias também a pequenos e médios agricultores. Há urgência em desenvolver biofungicidas para doenças como a ferrugem do cafeeiro e da soja, além de bioherbicidas.

Crescente adesão mundial a práticas agrícolas mais sustentáveis

Grandes mercados agrícolas como Estados Unidos, Europa e China também intensificam o uso de produtos biológicos, reduzindo a dependência de químicos. A pressão climática e a demanda por alimentos mais limpos aceleram essa mudança.

Além dos benefícios ambientais — como redução de resíduos químicos, preservação da biodiversidade e menor emissão de gases de efeito estufa —, os bioinsumos apresentam vantagens econômicas, ao reduzir custos no longo prazo e o risco de resistência. Socialmente, estimulam cadeias produtivas locais e tecnologias adaptadas à agricultura familiar.

Essa pesquisa representa um avanço promissor para o manejo sustentável de uma das doenças mais desafiadoras para a agricultura brasileira, fortalecendo a posição do país como protagonista na inovação em bioinsumos.

Fonte: Portal do Agronegócio

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