Publicado em: 12/09/2025 às 09:00hs
Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) criaram um método prático e preciso para estimar a necessidade de calagem, considerando os atributos químicos do solo e a composição do calcário. O estudo, publicado na revista internacional Soil & Tillage Research, busca enfrentar um desafio histórico da agricultura em regiões tropicais: a alta acidez e a baixa fertilidade natural dos solos.
Desenvolvido a partir de dez anos de pesquisa e quase 30 anos de experiência do professor Silvino Guimarães Moreira, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal/UFLA), o método permite calcular doses específicas de calcário para duas profundidades: 0 a 20 cm e 0 a 40 cm, sendo a segunda a principal inovação. Ao corrigir camadas mais profundas, a técnica amplia a fertilidade do subsolo e o volume explorado pelas raízes, favorecendo maior absorção de nutrientes e água.
Segundo o professor Moreira, os métodos atuais de calagem muitas vezes subestimam a quantidade de calcário necessária, especialmente em áreas agrícolas novas. Isso gera reaplicações e atrasos na correção do pH do solo, impactando economicamente o produtor, principalmente em áreas arrendadas, onde o ciclo de retorno da calagem não acompanha o ciclo produtivo.
Entre 2018 e 2022, foram realizados sete experimentos em diferentes municípios de Minas Gerais — Ijaci, Nazareno, Ingaí, Uberlândia, Araguari, São João del Rei e Formiga — abrangendo diversas condições de solo e clima. As doses de calcário foram aplicadas até 0,40 m de profundidade, garantindo robustez aos resultados.
O estudo mostrou aumento significativo na produtividade e maior resiliência das culturas frente a déficits hídricos típicos do Cerrado, especialmente na segunda safra. Em lavouras de milho submetidas a veranicos severos, o ganho de produtividade superou 50%, enquanto na soja os aumentos chegaram a 30%. Esses resultados foram atribuídos ao maior desenvolvimento radicular, permitindo às plantas acessar água e nutrientes em camadas mais profundas do solo.
Com uma recomendação mais precisa de calagem, os produtores podem reduzir custos de insumos, aumentar a eficiência produtiva e melhorar a resiliência das lavouras frente às variações climáticas. O método tem potencial de fortalecer a segurança alimentar e promover sustentabilidade na agricultura, especialmente em regiões do Cerrado e outros solos tropicais ácidos.
“Essa contribuição é relevante não apenas para Minas Gerais, mas também para outras regiões tropicais, onde solos ácidos limitam a produção agrícola”, afirma o professor Silvino Moreira.
A pesquisa destaca a tradição da UFLA em estudos de fertilidade e manejo de solos, consolidando sua relevância nacional e internacional. Além de avançar no conhecimento científico, o projeto contribui para a formação de especialistas em solos tropicais, combinando ciência e prática de campo.
O artigo contou com a participação dos pesquisadores Josias Reis Flausino Gaudencio, Flávio Araújo de Moraes, Everton Geraldo de Morais, Devison Souza Peixoto, Hugo Carneiro de Resende, Júnior Cézar Resende Silva, Otávio Lopes Vieira Campos, todos da Esal/UFLA, e dos departamentos de Agricultura (DAG/UFLA) e Ciência do Solo (DCS/UFLA), integrando o Grupo de Pesquisa em Sistemas de Produção (GMAP). O estudo teve origem na tese de doutorado de Flávio Moraes (2017) e foi ampliado em dissertações posteriores no Triângulo Mineiro.

Fonte: Portal do Agronegócio
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