Publicado em: 09/06/2025 às 10:00hs
A Embrapa lançou um centro inédito voltado à recuperação de ecossistemas degradados na Amazônia Legal. Batizado de Centro Avançado em Pesquisas Socioecológicas para a Recuperação Ambiental da Amazônia (Capoeira), o projeto integra ciência, cultura e saber tradicional, reunindo mais de 100 pesquisadores de 33 instituições do Brasil e do exterior.
A iniciativa foi aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no âmbito do edital Pró-Amazônia, e conta com um investimento de R$ 14 milhões.
O Capoeira será sediado na Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA), e funcionará como um hub de conexões com instituições, laboratórios e grupos de pesquisa atuantes em estudos ecológicos, socioeconômicos e bioculturais.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa e coordenadora do centro, Joice Ferreira, o objetivo vai além da produção científica: “Queremos articular transformações positivas, substituindo a cultura da destruição pela da restauração”.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia já perdeu 18% de sua cobertura original, o equivalente a 846 mil km² — área próxima ao tamanho de Mato Grosso. Além disso, 370 mil km² foram degradados por queimadas, extração de madeira e fragmentação florestal.
Esses danos impactam diretamente a biodiversidade, o regime de chuvas, aumentam os gases do efeito estufa e intensificam os conflitos socioambientais.
Os pesquisadores do Capoeira vão analisar dados de mais de 100 locais com diferentes tipos de ecossistemas: florestas secundárias, áreas degradadas, sistemas agroflorestais e ambientes aquáticos.
As estratégias de recuperação incluem:
Os SAFs são hoje as práticas mais estudadas na região, representando 37,88% das iniciativas, seguidos pela regeneração natural (30,35%) e pelos plantios florestais (19,55%).
O Capoeira se propõe a integrar aspectos ecológicos, sociais, culturais e econômicos. “Queremos preencher lacunas sobre os impactos sociais e culturais da restauração”, explica Ferreira.
O centro também será responsável pela produção de mapas de riscos climáticos e identificação de espécies vegetais e polinizadores resilientes.
O centro diferencia dois conceitos:
Uma das ações principais será a implantação de “laboratórios vivos”, espaços colaborativos de inovação aberta, em que comunidades e cientistas validam práticas de restauração em conjunto.
Esses laboratórios estarão em:
Segundo a pesquisadora Ima Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, esses territórios já têm parcerias consolidadas com comunidades locais e são áreas-chave para ações de recuperação com abordagem biocultural.
O Brasil assumiu no Acordo de Paris o compromisso de recuperar 12 milhões de hectares até 2030, sendo 38% dessa área na Amazônia. Essa meta será debatida na COP 30, em novembro de 2025, em Belém (PA).
A restauração florestal é vista pelos pesquisadores como fundamental para mitigar as mudanças climáticas. “Grande parte das emissões brasileiras está ligada ao desmatamento. Reverter esses efeitos é crucial”, destaca Ferreira.
Levantamento da Aliança pela Restauração (2020) identificou 2.773 iniciativas de restauração na Amazônia, totalizando 113,5 mil hectares. Os Sistemas Agroflorestais lideram as ações (59%), seguidos pelo plantio de mudas (26%). A maioria é de pequena escala (menos de 5 hectares).
Ferramentas como a Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg) e o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) são fundamentais, mas ainda é necessário ampliar esforços, destaca Ferreira.
O Capoeira é coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental, com participação de outras unidades da Embrapa (Roraima, Agricultura Digital, Recursos Genéticos e Biotecnologia) e diversas instituições nacionais e internacionais:
O Capoeira surge como uma resposta estratégica, científica e social para o enfrentamento dos desafios ambientais da Amazônia, buscando soluções sustentáveis e inclusivas para restaurar um dos biomas mais importantes do planeta.
Fonte: Portal do Agronegócio
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