Publicado em: 04/12/2025 às 14:00hs
O uso combinado de produtos químicos e biológicos no manejo de pragas e doenças tem se tornado cada vez mais comum na agricultura brasileira. Essa prática, embora promissora, apresenta desafios técnicos e científicos que podem determinar o sucesso — ou o fracasso — das aplicações em campo. Estudos recentes apontam que a compatibilidade entre formulações é fator-chave para garantir eficiência e sustentabilidade nas lavouras.
A compatibilidade entre esses produtos é o foco de Ricardo Polanczyk, professor da Unesp (FCAV/Jaboticabal) e pesquisador do Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar (CEPENFITO). Há quase uma década, o pesquisador investiga como diferentes combinações se comportam nas condições reais de campo.
Segundo Polanczyk, o termo “compatibilidade” passou a ser utilizado após uma revisão metodológica que buscou aproximar os testes de laboratório da realidade da aplicação agrícola. Antes, a análise era feita in vitro, com base no crescimento dos microrganismos após vários dias de exposição aos químicos. Hoje, a metodologia considera períodos mais curtos de contato (4 a 8 horas), o que reflete melhor as condições das aplicações reais.
Os estudos ganharam força após constatações em campo de que muitos produtores misturam diversos produtos no tanque, acreditando que isso melhora o controle de pragas e doenças. Em alguns casos, as misturas chegam a envolver até 22 produtos por aplicação, segundo levantamento feito no Maranhão.
No entanto, Polanczyk alerta que a falta de respaldo técnico pode gerar o efeito oposto: degradação dos microrganismos, perda de eficácia dos produtos e comprometimento total do manejo. “Quando o controle falha, o produtor tende a culpar o operador ou o clima, mas o problema pode estar na mistura feita no tanque”, destaca o pesquisador.
Quando corretamente avaliada, a mistura compatível entre biológicos e químicos pode trazer benefícios operacionais e agronômicos significativos, como aumento da proteção das culturas e redução no número de aplicações. Para isso, é fundamental compreender as interações químicas e biológicas que ocorrem durante o processo de preparo e pulverização.
O CEPENFITO tem se destacado nesse campo ao padronizar metodologias e identificar interações críticas, especialmente na cultura da cana-de-açúcar. O avanço das pesquisas também vem despertando interesse de outros setores, como os de soja e algodão, acompanhando o crescimento do mercado de bioinsumos no Brasil.
Um dos estudos mais recentes orientados por Polanczyk revelou que os produtos biológicos podem alterar o comportamento dos químicos, modificando a eficiência final das aplicações. Essa descoberta reforça a importância de entender o tempo de contato entre as formulações e a necessidade de gerar recomendações técnicas mais precisas.
Apesar dos avanços, ainda há lacunas importantes a serem preenchidas. Polanczyk ressalta que integrar técnicas moleculares aos estudos permitirá identificar com mais precisão quais microrganismos permanecem ativos após a mistura.
Além disso, a pesquisa sobre compatibilidade exige uma abordagem interdisciplinar, envolvendo áreas como microbiologia, fitopatologia, entomologia e tecnologia de aplicação. Essa integração é essencial para construir metodologias robustas e seguras, capazes de orientar o produtor e reduzir riscos operacionais.
Em um contexto de expansão do uso de bioinsumos e de maior pressão por sustentabilidade, compreender a compatibilidade entre produtos se tornou um pilar estratégico do manejo moderno. O avanço das pesquisas e a conscientização dos produtores rurais podem transformar esse desafio técnico em uma oportunidade de inovação, contribuindo para uma agricultura mais eficiente, segura e ambientalmente responsável.
Fonte: Portal do Agronegócio
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