Publicado em: 12/04/2024 às 15:10hs
Os problemas de locomoção e artrite têm crescido na avicultura com o passar dos anos e provocam graves reflexos econômicos, por impactarem no desempenho das aves. A doutora em Zootecnia, Jovanir Inês Muller Fernandes, explicou como os fatores nutricionais, genéticos e de manejo interferem diretamente na incidência dessas anomalias. A palestra integrou a programação científica desta quinta-feira (11), último dia do 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA).
As aves que sofrem com essas condições não conseguem se locomover bem, comem menos, não bebem de maneira adequada e, consequentemente, crescem aquém do esperado. “Os prejuízos são enormes, pois também temos como reflexo uma descaracterização desses produtos. Há perdas na carcaça, decorrentes de problemas de pele, nos pés e isso leva a diversas consequências operacionais, provocando até mesmo a redução na velocidade de abate dos frangos.”
A especialista chamou a atenção para a preocupação com a influência no bem-estar dessas aves, uma vez que essas anomalias causam dor aos frangos de corte. “O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo e exporta para países com regras rígidas de bem-estar. Então nós precisamos discutir formas para amenizar esses problemas. Afinal de contas, esse alimento não pode ser produzido com sofrimento animal”
Tanto as artrites como as dificuldades locomotoras são provocadas por multifatores. A exemplo do crescimento rápido dos frangos, ação de agentes infecciosos e questões nutricionais. “Esse frango que cresce muito ano após ano, fica mais sensível, produz mais calor, bebe mais água. Por gravidade os ossos acompanham o crescimento corporal, mas o processo de mineralização ainda não é completo, o que pode favorecer a incidências das artrites e disfunções locomotoras.”
Jovanir, no entanto, ressalta que a genética não é primordial para desencadear esse problema, mas sim o manejo. Ela apresentou diversos estudos sobre o tema e contextualizou fatores que podem levar ao agravamento dessas condições. Sob o ponto de vista nutricional, é preciso ter atenção com o fornecimento adequado de cálcio, especialmente na fase inicial de desenvolvimento das aves. Os programas vacinais devem ser bem controlados para garantir que os pintinhos estejam protegidos contra patógenos. Ainda devem receber atenção o manejo do incubatório; o conforto térmico, que será essencial para a saúde óssea do pintinho; e a umidade da cama, que pode aumentar a carga microbiana e contribuir para lesões e artrites.
“Há várias maneiras para melhorarmos a resposta das aves aos problemas locomotores. Em primeiro lugar, temos que aprender a identificar e a reconhecer a magnitude dessa situação.Treinar pessoas para saber detectar e elencar fatores de risco, considerar a importância da nutrição para o crescimento ósseo e trabalhar com uma base de dados. Os números podem trazer informações biológicas importantes, ajudar a reconhecer padrões e gerar informações específicas de como se deve agir em cada situação. Lembrando que o manejo da cama é sem dúvida o maior desafio”, destacou.
A produtividade e o desempenho da cadeia produtiva de frangos de corte passam por um manejo eficiente do ambiente. Um deles é a cama aviária, que exerce uma influência relevante para melhorar o bem-estar animal e a qualidade da carne.
A gerente Técnica de Serviços na Danisco Animal Nutrition and Health (IFF), Connie Mou, trouxe experiências de como é feito o manejo da cama dos aviários nos Estados Unidos (EUA). Ela desenvolveu uma pesquisa com produtores norte-americanos para entender como é realizada a gestão da cama, identificar possíveis falhas e buscar o aprimoramento desta etapa.
A cama é responsável por incorporar dejetos, proporcionar isolamento térmico e fornecer uma superfície confortável para aumentar os índices de bem-estar das aves e reduzir a incidência de lesões, além de interferir na proliferação de microrganismos.
Segundo Connie, a umidade é um fator fundamental para o manejo correto da cama e o nível de umidade ideal está entre 20% e 25%. A doutora em manejo ambiental explicou o protocolo adotado nos EUA para reduzir a umidade, que costuma abranger três métodos: físico, químico e biológico.
O manejo físico envolve questões estruturais, como o uso de ventiladores responsáveis por movimentar o ar para ajudar a secar a cama, e o tratamento das camas durante o intervalo entre lotes. Já o manejo químico faz uso de ácidos para controlar a amônia e a carga de bactérias. E há ainda o método biológico, que utiliza microrganismos para baixar os índices de contaminação.
“A movimentação do ar é uma das principais ferramentas para manter a umidade ideal da cama. O ar deve ser movimentado continuamente. As granjas nos Estados Unidos que implementaram a movimentação adequada do ar, reduziram o tempo de secagem da cama ao menos pela metade. Outra ferramenta importante é fazer uso de um sensor para medir a umidade relativa do ar. As ferramentas e métodos para melhorarmos a qualidade da cama existem, mas precisamos usá-las”, frisou.
O 24º SBSA teve apoio da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Santa Catarina (CRMV-SC), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Prefeitura de Chapecó e da Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária (Somevesc).
Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional
◄ Leia outras notícias