No Congresso Anual da Associação Americana de Química de Cereais (AACC Annual Meeting), que reúne representantes de indústrias, pesquisadores e acadêmicos de todo o mundo, foram apresentadas dezenas de trabalhos desenvolvidos com sorgo.

Durante o evento, o concurso de Desenvolvimento de Produtos teve entre os cinco finalistas alimentos feitos à base de sorgo. Dentre eles, um produto brasileiro: a barra de cereal desenvolvida no projeto de pesquisa sobre sorgo para alimentação humana, coordenado pela Embrapa em parceria com quatro universidades federais (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Universidade Federal de Viçosa - UFV, Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ e Universidade de Brasília - UnB).

A doutoranda em Ciência de Alimentos pela UFMG Caroline Liboreiro Paiva, membro do projeto de pesquisa, participou do congresso realizado em Albuquerque, nos Estados Unidos. Ela fez apresentação de banner e exposição oral sobre a barra de cereal para avaliadores membros de empresas americanas de alimentos.

Caroline conta que a inovação do produto foi a utilização do sorgo. "O diferencial foi o ingrediente usado, o sorgo BRS 310. A barrinha teve apelo por conter compostos bioativos, que são benéficos à saúde, além de ser rica em fibras e proteínas", explica.

O primeiro colocado do concurso também teve o sorgo como ingrediente: uma linha de sorvetes feitos com o cereal e com casquinhas à base de sorgo. Foram produzidas casquinhas de três cores distintas, conforme o grão utilizado (marrom, vermelho e branco).

Segundo Caroline, o sorgo teve destaque no congresso. "Havia muitos trabalhos relacionados, resssaltando benefícios do cereal, os compostos fenólicos presentes, que estão envolvidos na prevenção de doenças, como câncer." Outro apelo foi a ausência de glúten no sorgo, fator que permite o consumo de produtos derivados por pessoas portadoras de doença celíaca.

A acadêmica explica que, por não ter um sabor marcante, o sorgo permite combinações com diversos ingredientes e pode ser incorporado em muitos produtos alimentícios. Além disso, é um cereal que pode baratear a produção de alimentos industrializados.

A pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo Valéria Queiroz ressalta que a cultura do sorgo utiliza menos insumos e é menos exigente em consumo de água do que outros cereais. Por isso, seu custo de produção é mais baixo.

Caroline relata que tem sido dada grande atenção aos compostos funcionais presentes nos alimentos. "As pesquisas estão muito voltadas para essa área. São compostos que, além de nutrir, agregam benefícios à saúde, como reduzir possibilidade de doenças crônicas." E o sorgo contém esses compostos. Por isso, um foco importante atualmente é a avaliação da capacidade do amido de sorgo de gelatinização (de formar uma pasta). Assim, é possível direcionar a utilização do cereal em diversos produtos alimentícios.

No Brasil, praticamente não existe produto com sorgo para alimentação humana disponível no mercado. Nos Estados Unidos, há muitas opções, como pães, macarrão, salgadinhos e biscoitos.

Foi a primeira vez que um produto brasileiro participou do concurso internacional promovido pela AACC. A barra de cereal foi desenvolvida com pipoca de sorgo, flocos de sorgo (processado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos), fibra de caju (desenvolvida na Embrapa Agroindústria Tropical), banana passa, abacaxi desidratado, glicose de milho, açúcar mascavo, canela, maltitol e ácido cítrico; sem aroma artificial. O layout da embalagem foi elaborado pelo designer da Embrapa Milho e Sorgo Alexandre Esteves.

O projeto "Sorgo para alimentação humana: caracterização de genótipos quanto a compostos de interesse para a nutrição e a saúde humana e desenvolvimento de produtos sem glúten" reúne pesquisadores de quatro Unidades da Embrapa (Milho e Sorgo, Clima Temperado, Agroindústria Tropical, Agroindústria de Alimentos), além de quatro universidades federais.

De 29 a 31 de outubro, o projeto realiza o "1º Simpósio Sorgo na Alimentação Humana no Brasil: Perspectivas". Para saber mais, clique aqui.