Um dos destaques do terceiro dia do “Pampa em Evolução - Conhecimento, Negócios e Sustentabilidade” foi o workshop “Pecuária e Genômica, o Binômio do Lucro”, organizado pela Conexão Delta G, associação que reúne um seleto grupo de empresas agropecuárias, tendo como principal objetivo gerar e utilizar tecnologia de ponta para aumentar a rentabilidade da pecuária de corte.

“Melhoramento Genético - Da Seleção Natural à Era da Genômica, um/a Tecnologia em Evolução” foi o tema abordado por Fernanda Brito, consultora do GenSys Consultores Associados, empresa responsável pelas avaliações genéticas da Conexão Delta G. A especialista traçou uma linha do tempo desde a origem genética dos bovinos domesticados até chegar nas raças bovinas atuais e quais os processos que foram envolvidos nessa trajetória, destacando a importância desse material genético, sua diversidade e como a evolução das tecnologias de análise - culminando com a genômica - pode potencializar os ganhos genéticos, aumentando a produtividade e, portanto, o lucro para o produtor. “Os ganhos dessa tecnologia são muito importantes para a genética como um todo, ela ocasionou uma revolução nas técnicas utilizada no melhoramento genético, sendo que essa revolução vem complementar o que já vinha sendo feito”, disse. “Continuamos utilizando métodos estatísticos para avaliar os animais e a genômica vem como uma nova fonte de informações a ser incorporada no sistema, aumentando a velocidade do processo. Isso aumenta a acurácia da informação, e aumenta a resposta à seleção por estar acelerando o processo, podendo identificar animais geneticamente superiores com mais assertividade”, explicou, informando que pode-se genotipar até mesmo um embrião e já saber o valor genético esperado dele.

O chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Flores Cardoso, discorreu sobre “O papel do melhoramento genético no contexto da pecuária sustentável”, demonstrando o papel essencial do melhoramento genético - aprimorado pela genômica - no desenvolvimento e no desenho de sistemas produtivos mais sustentáveis, mais rentáveis e mais amigáveis para o meio ambiente. “Temos um conjunto novo de características que estamos trabalhando, que é capaz de ter um impacto decisivo tanto na rentabilidade como na eficiência das fazendas. A genômica permite um avanço mais rápido no que a gente já vinha fazendo, pela maior precisão do cálculo do mérito genético dos animais”, reforçou, explicando que uma das novas características avaliadas é a resistência ao carrapato bovino. “Fizemos um trabalho de pesquisa em parceria com a Conexão Delta G e temos hoje uma população de referência, que é um conjunto de animais que têm informações de resistência a partir do uso de marcadores moleculares. Podemos usar esse banco de dados para dizer o grau de resistência que os animais vão passar para os seus filhos só usando a informação genômica. E isso serve para avaliar outras características também, como a eficiência alimentar e reprodução”, acrescentou o médico veterinário.

O trabalho realizado pela Delta Gen no Brasil Central com o melhoramento genético e a genômica foi apresentado pelo presidente da entidade, Ian David Hill, que proferiu a palestra “Delta Gen + 12 Anos”, trazendo um histórico da pecuária até os momentos atuais, além de mostrar os resultados do programa - que nasceu da Conexão Delta G - e a evolução do gado Nelore no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

O “Melhoramento genético para o aumento da lucratividade na pecuária” foi abordado pelo consultor do GenSys, Vanerlei Roso, que falou sobre a seleção baseada nas DEPs tradicionais e nas DEPs genômicas, mostrando os resultados da seleção genômica em alguns programas de melhoramento genético conduzidos pelo GenSys, especialmente no que diz respeito a características de alto custo e difícil mensuração, como a resistência ao carrapato, precocidade sexual e qualidade da carne. “Com a genômica podemos obter estimativas de valor genético mais acuradas, isso diminui o risco para o produtor ao selecionar os animais”, destacou, lembrando que, apesar de ser uma tecnologia relativamente recente, ela já vem sendo aplicada em vários programas de melhoramento.

Segundo ele, já foram notadas algumas melhorias, como o aumento do progresso genético nas fazendas. “Percebemos o resultado especialmente naquelas características nas quais a gente não conseguia aplicar uma seleção mais forte, em função da dificuldade em medir a característica, e também em características que muitas vezes podem ser medidas tardiamente na vida dos animais, como, por exemplo, a redução na idade do primeiro parto. Alguns programas de melhoramento conseguem hoje emprenhar as novilhas muito mais cedo do que alguns anos atrás porque conseguimos identificar os touros jovens com essa característica.”

Fechando a programação do workshop “Pecuária e Genômica, O Binômio do Lucro”, o presidente do Conselho Técnico da Conexão Delta G, Bernardo Pötter, abordou a temática “Conexão Delta G - O Estado da Arte”, mostrando qual o estágio atual do melhoramento genético e da genômica na entidade e como isso está na rotina dos participantes do programa.

Presidente da Conexão Delta G, Patricia Wolf, disse estar muito honrada de representar no evento o grupo de produtores que, há três décadas, se uniu em prol do melhoramento genético para fazer com que se conseguisse produzir animais cada vez mais diferenciados. “Estamos aqui para celebrar os 30 anos de trabalho de melhoramento genético, montamos esse evento com um time de pessoas muito especiais, profissionais reconhecidos em suas especialidades, e o destino nos proporcionou estar de volta a Dom Pedrito, o berço da Conexão Delta G”, ressaltou a dirigente.

Durante o workshop foram prestadas ainda homenagens a duas pessoas extremamente importantes para a Conexão Delta G e para a pecuária nacional: o agropecuarista Valter José Pötter, diretor-proprietário da Estância Guatambu, de Dom Pedrito, e o professor José Fernando Piva Lobato, que, em 2022, encerrou 50 anos de docência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).