Publicado em: 30/07/2024 às 16:00hs
Em um painel realizado durante a 44ª reunião do Comité Executivo do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), especialistas alertaram sobre a importância de um comércio internacional livre, transparente e fundamentado em normas científicas para assegurar a segurança alimentar global. O debate reuniu Ministros de Agricultura das Américas e outros altos funcionários do setor para discutir a situação atual do comércio agropecuário e o posicionamento dos países do continente.
O encontro ocorreu em um momento crucial, marcado por crises simultâneas, como a pandemia de Covid-19, conflitos bélicos e mudanças climáticas, que têm exacerbado o protecionismo global e impactado cadeias de fornecimento, afetando as comunidades mais vulneráveis.
Marcos Jank, professor e coordenador do Insper Agro Global do Brasil, e Gloria Abraham, assessora em comércio internacional do IICA e ex-Ministra de Agricultura e Pecuária da Costa Rica, foram os principais expositores. Fernando Mattos, Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai e Presidente da Junta Interamericana de Agricultura (JIA), moderou o painel.
Além dos expositores principais, contribuições significativas foram feitas por Daniel Whitley, Administrador do Serviço de Agricultura Exterior do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA); Michael James, Diretor Agrícola de Barbados; Roberto Perosa, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil; Laura Suazo, Secretária de Agricultura e Pecuária de Honduras; e Agustín Tejeda, Subsecretário de Mercados Agropecuários e Negociações Internacionais da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina.
Marcos Jank destacou que, apesar das preocupações ambientais e climáticas, o comércio internacional é crucial para a segurança alimentar do planeta. Ele observou que a insegurança alimentar aumentou globalmente devido a eventos como a pandemia e a guerra na Ucrânia, com impactos mais graves na Ásia e na África do que na América Latina. “O problema não é apenas a falta de alimentos, mas também a qualidade das dietas; 42% da população mundial não tem acesso a alimentos saudáveis, resultando não apenas em fome, mas também em desnutrição”, explicou Jank.
Ele ressaltou que o comércio é fundamental para a estabilização dos preços, combate à fome e à desnutrição, e melhoria dos padrões sanitários e de produtividade. Jank enfatizou que a China depende da América Latina para sua segurança alimentar, uma dependência que não deve mudar rapidamente devido à falta de terras cultiváveis na China. Ele também observou que a experiência de exportação da América Latina pode permitir à região avançar além das commodities agrícolas e oferecer produtos de maior valor agregado.
Gloria Abraham revelou que, entre 2021 e 2023, as Américas participaram com 30% das exportações globais agroalimentares, com a América Latina contribuindo com 17%. “Isso demonstra que o continente desempenha um papel fundamental na segurança alimentar global, sendo o único com superávit em exportações e importações de alimentos”, afirmou Abraham. Ela também destacou a necessidade de melhorar o comércio intrarregional na América Latina, que atualmente representa apenas 14%.
Daniel Whitley, do USDA, enfatizou que o comércio é uma parte essencial da solução para os problemas de segurança alimentar. “Precisamos trabalhar com o IICA para fornecer aos produtores as ferramentas necessárias para prosperar. Com uma população mundial prevista para 10 bilhões até 2050, é crucial que os produtores tenham acesso a ferramentas baseadas em ciência para enfrentar desafios como o impacto das mudanças climáticas na agricultura”, afirmou Whitley.
Roberto Perosa, do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, abordou os obstáculos ao comércio inter-regional e expressou o desejo de aumentar o comércio com países da região através do MERCOSUL e outras associações. Ele destacou a importância de aumentar as vendas de produtos dentro da América Latina e priorizar a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares, a expansão do comércio internacional e o reconhecimento do papel dos agricultores familiares e comunidades na segurança alimentar.
Michael James, Diretor Agrícola de Barbados, enfatizou a importância do acesso ao mercado para pequenos produtores e a necessidade de estabelecer vínculos e cooperar para superar desafios. Laura Suazo, Ministra de Agricultura e Pecuária de Honduras, sugeriu a realização de pesquisas sobre os impactos dos custos de produção e o desperdício de alimentos, além de analisar o uso de recursos naturais e a erosão do solo.
Agustín Tejeda expressou preocupações com a fragmentação do multilateralismo e a crescente regulamentação ambiental, como o novo Regulamento da União Europeia sobre desflorestação. Ele destacou que, apesar das preocupações, há oportunidades para a Argentina, dada a paz consolidada no continente e práticas de produção ambientalmente amigáveis.
Na conclusão do painel, Fernando Mattos ressaltou a importância de fortalecer o multilateralismo e criar regras claras para enfrentar o protecionismo crescente. “Precisamos produzir mais conhecimento e desenvolver políticas próprias que fortaleçam nossas negociações e enfrentem barreiras impostas por questões ambientais”, concluiu Mattos.
Fonte: Portal do Agronegócio
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