Publicado em: 01/09/2025 às 09:30hs
Pesquisas da Embrapa confirmaram que duas cultivares brasileiras de banana, BRS Princesa e BRS Platina, são resistentes à raça 4 tropical (R4T) da murcha de Fusarium, considerada a forma mais grave da doença que afeta banana no mundo. Os testes foram realizados na Colômbia, país vizinho que já registrou a presença do patógeno, e demonstram o potencial dessas variedades como barreiras naturais para conter a disseminação global da doença.
A murcha de Fusarium, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense (Foc), é endêmica em regiões produtoras e provoca prejuízos bilionários ao contaminar plantações e limitar exportações. A R4T ainda não foi detectada no Brasil, mas está presente em países vizinhos como Colômbia (2019), Peru (2020) e Venezuela (2023), elevando o risco de entrada da doença em território nacional.
As mudas das cultivares BRS Princesa e BRS Platina foram enviadas para a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (AgroSavia), onde passaram por rigoroso processo de quarentena e inoculação com o fungo. As plantas foram testadas em tanques com solo contaminado e, posteriormente, em campo, na primeira fazenda da Colômbia a registrar a R4T, sob supervisão do Instituto Agropecuário Colombiano (ICA).
Segundo Mónica Betancourt, pesquisadora sênior da AgroSavia, após quatro ciclos de produção, menos de 1% das plantas das duas cultivares foi afetado, comprovando a resistência ao patógeno. Em comparação, índices entre 5% e 8% indicariam alto risco.
Além das cultivares comerciais, foram introduzidos diploides para programas de melhoramento genético, replicando a estratégia da Embrapa para criar novas variedades resistentes.
O Brasil é o único país das Américas com estratégia consolidada para enfrentar a R4T. Edson Perito Amorim, líder do Programa de Melhoramento Genético de Banana da Embrapa, destaca a importância da parceria com a Colômbia: “Testar o material genético brasileiro em um país onde a doença já está presente permite validar a resistência e fechar o ciclo do melhoramento.”
Entre os híbridos enviados, três mostraram 100% de eficácia, sendo que um deve ser lançado em 2026. Além disso, somaclones derivados de Cavendish Grande Naine estão sendo avaliados quanto à resistência, com resultados esperados para o próximo ano.
“O desafio agora é unir resistência com qualidade, produtividade e sabor das bananas”, ressalta Amorim.
Embora as cultivares resistentes representem um avanço, especialistas reforçam que a vigilância fitossanitária permanece fundamental. Segundo Ricardo Hilman, do Ministério da Agricultura, medidas preventivas incluem fiscalização em portos e aeroportos, inspeção de material de propagação e treinamentos para equipes locais.
O objetivo é adiar ao máximo a chegada da R4T ao Brasil, minimizando impactos econômicos e dando tempo para que pesquisas e melhoramentos avancem.
Para Augusto Aranha, presidente da Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira, a resistência das cultivares traz tranquilidade para a região, principal polo nacional de produção de banana. O Vale do Ribeira possui 30 mil hectares plantados, com bananas representando mais de 70% da economia local.
“Variedades resistentes permitem que continuemos produzindo mesmo diante da ameaça da R4T, mas a biossegurança não pode ser negligenciada”, afirma Aranha. A TropSabor, empresa que lidera parte da produção local, já conta com 200 hectares de banana, incluindo BRS Princesa e BRS Platina.
Além da parceria com a Colômbia, a Embrapa colabora com a Corporação Bananeira Nacional (Corbana), da Costa Rica, no desenvolvimento de híbridos de Cavendish resistentes à R4T. O trabalho inclui avaliação de qualidade e produtividade, com a meta de disponibilizar variedades comerciais seguras e rentáveis para produtores de toda a região.
No Brasil, as avaliações agronômicas acontecem em Minas Gerais, em parceria com produtores locais, otimizando ajustes pós-colheita e climatização de novas variedades.
O Programa de Melhoramento Genético de Banana da Embrapa está alinhado ao compromisso com os ODS da Agenda 2030, em especial o Objetivo 2: Fome zero e agricultura sustentável, promovendo segurança alimentar, nutrição adequada e práticas agrícolas sustentáveis.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias