Publicado em: 04/08/2025 às 13:30hs
Uma bactéria encontrada em solos áridos do Ceará é a base de uma nova tecnologia que promete impulsionar a produtividade de lavouras brasileiras, mesmo sob condições de seca severa. Trata-se do Hydratus, bioinsumo desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo (MG) em parceria com a empresa Bioma, e já registrado no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para uso na cultura da soja. O produto também vem sendo testado em outras culturas agrícolas.
O Hydratus é formulado com a bactéria Bacillus subtilis e foi criado para proteger plantas sob escassez hídrica e ainda estimular seu crescimento. Em testes realizados em áreas comerciais, o bioproduto demonstrou aumento médio de 7,7 sacas por hectare no milho e 4,8 sacas por hectare na soja.
A eficácia da tecnologia também foi observada em lavouras irrigadas, mostrando que o Hydratus vai além do combate à seca e atua como promotor de crescimento vegetal.
O diferencial do produto está na alta concentração de células de Bacillus subtilis e em uma formulação inovadora, com agentes protetores que favorecem a sobrevivência da bactéria no solo e aumentam sua estabilidade durante o armazenamento.
O lançamento do Hydratus ocorrerá no dia 5 de agosto, durante o Congresso da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), no Transamérica Expo Center, em São Paulo (SP). O evento, de 5 a 7 de agosto, reunirá profissionais e especialistas do agronegócio de todo o país.
A pesquisa começou em 2017, com o objetivo de encontrar microrganismos capazes de ajudar as plantas a suportarem períodos de déficit hídrico. Foram coletadas amostras de solo em regiões áridas do Ceará. Das 414 estirpes isoladas, 28 mostraram capacidade de sobrevivência em ambientes com pouca água. A estirpe 1A11 de Bacillus subtilis destacou-se por sua produção de exopolissacarídeos (EPS) — substâncias que formam uma camada protetora ao redor das células, reduzindo a perda de água.
Além da seleção e caracterização da bactéria, os pesquisadores da Embrapa realizaram uma série de estudos:
Em 2021, a cepa foi transferida à Bioma, que desenvolveu a formulação comercial e conduziu testes em 30 áreas de cultivo, validando a eficiência da tecnologia.
O lançamento do Hydratus ocorre em um contexto de mudanças climáticas, com aumento da frequência e intensidade de secas, além de alterações no regime de chuvas em diferentes regiões do Brasil.
“A seca interfere na absorção de nutrientes e causa danos celulares nas plantas. O Hydratus ajuda a manter o desenvolvimento das culturas mesmo nessas condições extremas”, explica Eliane Aparecida Gomes, pesquisadora da Embrapa e coordenadora do projeto.
Segundo Artur Soares, diretor de pesquisa da Bioma, o Hydratus melhora a eficiência do uso da água, o que contribui para sustentabilidade agrícola e resiliência climática.
O Brasil é um dos líderes globais em desenvolvimento de bioinsumos agrícolas, com apoio de programas como o Programa Nacional de Bioinsumos, instituído em 2020. A Embrapa atua ativamente nesse cenário, desenvolvendo tecnologias sustentáveis que serão levadas para discussão internacional durante a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, marcada para novembro de 2025 em Belém (PA).
O desenvolvimento do Hydratus envolveu pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Agricultura Digital e da empresa Bioma. Entre os nomes estão:
O Hydratus não é o primeiro bioinsumo da Caatinga voltado à tolerância à seca. Em 2021, a Embrapa Meio Ambiente (SP) desenvolveu o Auras, produto formulado com a bactéria Bacillus aryabhattai, isolada do mandacaru, cacto símbolo do bioma. O Auras foi o primeiro bioinsumo com essa finalidade registrado no Brasil.
Com soluções como o Hydratus, o Brasil avança em direção a uma agricultura mais sustentável, resiliente e conectada com os desafios impostos pelas mudanças climáticas, aproveitando a biodiversidade nacional como aliada no campo.
Fonte: Portal do Agronegócio
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