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Agricultura regenerativa: é possível produzir alimentos e contribuir à saúde do meio ambiente

O cientista Rattan Lal, Professor da Universidade Estatal de Ohio e Embaixador de Boa Vontade do IICA ofereceu uma conferência sobre a agricultura regenerativa ante produtores da América Latina e do Caribe.


Publicado em: 17/03/2021 às 08:20hs

Agricultura regenerativa: é possível produzir alimentos e contribuir à saúde do meio ambiente

A agricultura regenerativa reúne e concilia dois dos desafios cruciais que o mundo enfrenta: produzir alimentos adequados e nutritivos, por um lado, e restaurar ecossistemas deteriorados pela atividade humana. 

É uma forma de produzir que, por meio de boas práticas, pode atingir a sua missão de alimentar a população mundial crescente enquanto não deteriora os solos e, pelo contrario, contribui à sua saúde e recuperação. 

O laureado cientista Rattan Lal advertiu que a humanidade não tem outro caminho além de transformar a sua agricultura neste sentido, durante a conferencia sobre o potencial e os desafios da agricultura regenerativa, durante a qual o escutaram produtores de todos os países da América Latina e do Caribe, que logo lhe fizeram perguntas sobre os caminhos à sustentabilidade. 

O evento, organizado pela produtora de alimentos e bebidas Pepsico e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), reuniu virtualmente mais de 200 pessoas, muitas delas fornecedores da empresa na América Latina e no Caribe.

Lal é a maior autoridade mundial em ciências do solo. Professor da Universidade Estatal de Ohio, foi distinguido com o Premio Mundial da Alimentação 2020 e é também Embaixador de Boa Vontade do IICA. 

“Hoje em dia se escutam questionamentos na agricultura. Más não podemos deixar ela de lado porque é essencial para a nutrição da humanidade e precisamos dela. A agricultura tem que ser uma solução; de nenhuma maneira pode ser um problema.” Disse Lal, quem, como parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), foi um dos co-laureados com o Premio Nobel da Paz em 2007.

A conferência for apresentada por Arturo Durán, Diretor Sr de Agricultura para América Latina de Pepsico, e Federico Villarreal, Diretor de Cooperação Técnica do IICA. 

Durán enfatizou a necessidade de trabalhar em conjunto com os produtores da região na implementação da agenda de sustentabilidade agrícola. Destacou a importância de aplicar os princípios da agricultura regenerativa. 

“A agricultura regenerativa faz muita falta nos nossos campos. Nos diferentes países da América Latina comprovamos a degradação dos solos. Temos que assumir um forte compromisso de devolver a vida à eles,” afirmou Durán. 

“Este é um evento muito importante para nós e para o planeta. Nesta conferência somos mais de 200 pessoas reunidas , entre elas nossos fornecedores da América Latina. Esta conferência está alinhada com os objetivos de sustentabilidade estabelecidos pela Pepsico em todos os países onde operamos. Não há dúvida que, com todos os nossos agricultores, vamos a atingir esses objetivos e vamos acelerar este processo. Estamos convencidos que a área agrícola tem um papel bem relevante para atingir os objetivos de sustentabilidade,” acrescentou o executivo da empresa global, que também indicou que “o objetivo principal tem que ser cuidar a terra, que ela dure mais de cem anos e que a consequência seja o rendimento do solo, e não ao contrário. Não pode haver solo sem vida nem vida sem solo, porque evolucionaram juntos. Temos que continuar este caminho, que é obrigatório, com a nossa natureza,” adicionou Arturo Durán da Pepsico. 

Villarreal, pelo seu lado, destacou a iniciativa “Solos Vivos das Américas,” lançada em conjunto pelo Professor Lal e o IICA em dezembro, com o objetivo de articular esforços públicos e privados no combate à degradação dos solos, fenómeno que ameaça solapar a capacidade dos países de satisfazer de forma sustentável a demanda de alimentos. 

Os princípios fundamentais da agricultura regenerativa, segundo Lal, são os relacionados com a conservação de recursos e incluem a semeação direta, a reutilização dos resíduos das colheitas como adubo natural, o uso de cultivos de coberturas, o tratamento integrado de nutrientes e pragas, a rotação de cultivos e a integração da agricultura com os bosques e a pecuária. 

O cientista explicou que para levar à prática esses princípios é fundamental deixar de lado uma agricultura que está baseada na utilização dos combustíveis fósseis, por meio de fertilizantes e pesticidas ou do seu uso como fonte de energia para regar y trabalhar os campos. 

“A dependência nos combustíveis fósseis,” advertiu, “tem uma grande variedade de impactos ambientais negativos que não podem ser ignorados, como a emissão de gases de efeito estufa que contribui à mudança climática, o grande consumo de água e a sua contaminação, a acidificação dos oceanos e a poluição do ar.”

Por isso, a transformação que Lal propõe é em direção à uma agricultura inspirada pela inovação ecológica, movida por fontes de energiza carbono-neutrais, apoiada na recarbonizarão da biosfera terrestre, como fundamento do desenvolvimento sustentável. 

O professor afirmou que hoje no mundo uma pessoa de cada onze passa fome e entre dois e três de cada sete estão malnutridas e que essa dramática realidade tem sido exacerbada pela pandemia, que impactou as cadeias de abastecimento de alimentos. 

Neste sentido, convocou uma nova Revolução Verde, baseada na saúde do solo, que é uma entidade biologicamente ativa, da qual depende não só a segurança alimentar e nutricional da humanidade, senão também a qualidade do ar, a purificação da água, o sequestro do carvão e a conservação da biodiversidade. 

“Quando o solo é pobre, as pessoas são pobres,” advertiu Lal, explicando que a produção agropecuária deve aplicar o que ele chamou de lei do retorno: “devolva tudo o que você tire do solo e cuide com sabedoria de qualquer coisa que você tenha mudado. Tente predizer o que vai acontecer amanha. Produza mais com menos.”

Justamente a questão da eficiência na gestão de recursos para produzir alimentos foi um dos pontos que Lal mais enfatizou, assegurando que a humanidade tem os conhecimentos para produzir a mesma quantidade com menos recursos e convocou a passada para a ação, por meio de um aumento de produtividade graças à recuperação dos solos degradados. 

“Globalmente, hoje existem uns 5000 milhoes de héctarias dedicadas à agricultura. Precisamos de tanta terra? Eu acho que nao; é muito. Se a gestão for boa, podemos devolver alguma terra à natureza,” disse Lal.

Neste sentido, adicionou, a chave é não nos esquecer de onde viemos e para onde vamos: “Todas as civilizações da antiguidade davam uma importância extraordinária aos solos. A terra é parte da nossa cultura. Um solo saudável é aquele capaz de produzir serviços ecossistêmicos que são essenciais para a sobrevivência da natureza. E os humanos pertencemos à natureza. É hora de voltar às nossas raízes.”

“Existe um laco muito forte entre o solo e a saúde humana. Se o solo se degrada tudo se degrada: plantas, animais, a saúde humana e o meio ambiente. O solo e a vida estão conectados. Vão juntos. O solo é essencial para a vida no planeta. Não existe solo sem vida e não existe vida sem solo,” finalizou Rattan Lal.