Pesquisas

A importância da sanidade das sementes forrageiras e de cobertura na sustentabilidade da agricultura no brasil

As sementes são o insumo mais importante da produção vegetal. Para garantir o sucesso de qualquer cultivo, é fundamental utilizar sementes de qualidade, considerando aspectos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários


Publicado em: 15/05/2025 às 15:45hs

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As sementes são o insumo mais importante da produção vegetal. Para garantir o sucesso de qualquer cultivo, é fundamental utilizar sementes de qualidade, considerando aspectos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários. No entanto, a presença e os efeitos de patógenos — agentes causadores de doenças — ainda são pouco estudados e considerados. É essencial que a sanidade das sementes de plantas forrageiras e de cobertura seja levada em conta, a fim de se obter o máximo potencial produtivo dessas culturas, que têm papel estratégico tanto na alimentação animal quanto na manutenção da saúde do solo.

As plantas forrageiras são utilizadas principalmente como pastagem, mas também servem para fenação, silagem e fornecimento de alimento picado no cocho. Estima-se que as pastagens ocupem cerca de 170 milhões de hectares no Brasil — o equivalente a 20% da área com atividade agropecuária —, mais que o dobro da área cultivada com grãos, cana-de-açúcar, café, frutas, hortaliças, entre outros. São, portanto, a principal fonte de alimento para a pecuária brasileira. Melhorar a qualidade das pastagens é essencial para aumentar a lotação animal por hectare e, consequentemente, a produção de carne e leite.

Já as plantas de cobertura, também chamadas de plantas de serviço, são fundamentais para a recuperação de áreas agrícolas degradadas, contribuindo para a regeneração, conservação e manutenção da saúde do solo.

São centenas as espécies vegetais utilizadas como plantas forrageiras (como braquiárias, Panicum, entre outras) e de cobertura (como crotalárias, mucunas, nabo forrageiro, aveias etc.). Algumas espécies cumprem ambas as funções e têm sido cada vez mais empregadas em sistemas de produção que se expandem no Brasil, como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta.

É preciso tratar as plantas forrageiras e de cobertura como lavouras, buscando a máxima produtividade. Para isso, devem ser adotadas as mesmas técnicas de manejo aplicadas em cultivos como soja, milho e cana-de-açúcar. Assim como qualquer cultura, essas espécies estão sujeitas a doenças causadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides, que podem reduzir os rendimentos em cerca de 15%. Muitos desses patógenos se instalam nas sementes, onde sobrevivem e se disseminam, podendo causar doenças na própria planta ou servir como fonte de inóculo para culturas subsequentes.

Com a expansão do mercado de sementes de plantas forrageiras e de cobertura, é necessário que a produção ocorra em áreas específicas, obedecendo a normas rigorosas que garantam a qualidade das sementes distribuídas em todo o Brasil e para outros países.

É imprescindível que essas sementes estejam livres de patógenos que comprometam a produtividade das espécies cultivadas e que possam, ainda, afetar outras culturas dentro do mesmo sistema de produção. Por isso, é essencial que as sementes de plantas forrageiras e de cobertura sejam submetidas a testes de sanidade, capazes de detectar e identificar patógenos associados. Essas informações são fundamentais para a tomada de decisão quanto à utilização de um lote de sementes e à necessidade de tratamento químico, biológico ou físico adequado.

À medida que a agricultura brasileira avança, torna-se cada vez mais importante garantir sua sustentabilidade. O uso de sementes sadias e/ou devidamente tratadas de plantas forrageiras e de cobertura é um passo essencial para consolidar o Brasil como uma referência mundial em produção agrícola.

Por José Otávio Menten, professor Sênior da ESALQ/USP, Presidente do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável) e Membro da ABCA (Academia Brasileira de Ciência Agronômica)