A Embrapa Agroindústria de Alimentos em conjunto com a Associação dos Remanescentes Quilombolas do Municipio de Oriximiná (ARQMO), são parceiros do projeto coordenado pela Drª. Suzana Guimarães Leitão, do Departamento de Produtos Naturais e Alimentos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que visa transferir os conhecimentos tradicionais da comunidade quilombola para a sociedade e oferecer ao mercado um produto funcional.

Em toda a região amazônica, principalmente nas comunidades quilombolas de Oriximiná, a Saracura-mirá – SAR é tida como uma espécie de extrema importância na prevenção ou cura da malária. De suas cascas e raízes pode ser preparada uma bebida aquosa com espuma abundante e de sabor amargo, semelhante à cerveja, o que lhe confere os nomes de “cervejinha”, “cerveja-do-mato” e “cerveja-de-índio”.

Considerada uma planta estimulante e energética, a SAR é empregada para diversos fins na medicina popular. Suas raízes são tidas como depurativas, sendo também empregadas no tratamento de distúrbios gastrintestinais, inflamações e quadros de febre. Suas cascas são utilizadas no preparo de um tônico fortificante, além de serem usadas como afrodisíaco e em casos de mordida de cobras. Há relatos de uso da SAR no tratamento de dores nas juntas, inflamações de mulher, anemias e diabetes, sendo utilizada também como revitalizador e diurético.

As Pesquisadoras Daniela Freitas, da Embrapa Agroindústria de Alimentos e Priscilla Finotelli, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, são responsáveis pelo desenvolvimento de uma formulação aceitável de uma bebida em pó reconstituível". Outra frente de atuação da Empresa envolve as equipes dos laboratórios de Análise de Resíduos de Pesticidas e Cromatografia, Isabela Miranda e Humberto Bizzo, que trabalharam na separação e identificação dos compostos bioativos que promovem os efeitos estimulantes da bebida.

Testes preliminares foram realizados com diversos sabores de refresco em pó para seleção do melhor sabor da bebida. Baseado na experiência da comunidade definiu-se uma quantidade similar de SAR consumida para ser misturada com açúcar e refresco em pó. Foram realizados diversos testes na Embrapa Agroindústria de Alimentos, a fim de encontrar qual seria a quantidade ideal de SAR e açúcar que resultasse em uma bebida de melhor aceitação. Essa proporção já foi encontrada, e o projeto se encontra agora na fase de verificação da aceitabilidade do produto pelo seu público alvo, praticantes de atividades físicas.

É importante mencionar que esta pesquisa possui a devida autorização do CGEN para acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional (deliberação MMA nº 213 de 06/12/2007), tendo sido firmado um Termo de Anuência Prévia entre os representantes legais da comunidade quilombola de Oriximiná e as instituições participantes, com o respectivo contrato de repartição de benefícios. O projeto também tem a aprovação de Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 02670612.6.0000.5291) por envolver seres humanos nos testes sensoriais.