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Pesquisadores da Embrapa visitam coleções de micro-organismos internacionais

Objetivo é conhecer experiências que possam colaborar no desenvolvimento do modelo corporativo de gestão para as coleções da Empresa


Publicado em: 12/08/2013 às 08:00hs

Pesquisadores da Embrapa visitam coleções de micro-organismos internacionais

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa visitaram coleções de micro-organismos internacionais da Holanda (CBS) e França (Instituto Pasteur e INRA), no período de abril a julho de 2013 com o objetivo de conhecer a estrutura destas coleções. As visitas fazem parte do projeto “Modelo Corporativo de Gestão para as Coleções de Micro-organismos da Embrapa – projeto GESTCOL”, desenvolvido desde 2012, com o objetivo geral de implementar um modelo integrado e padronizado de gestão para as 17 coleções microbianas da Embrapa distribuídas por todo o Território Nacional, tomando como base as experiências da Empresa, as normas ABNT ISO GUIA 34, ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 e OECD Best Practice Guidelines for Biological Resource Centres e os guias da Commom Access to Biological Resources and Information - CABRI e da World Federation for Culture Collections – WFCC.

A Embrapa investe na formação de coleções de micro-organismos (fungos e bactérias) e de vírus desde a sua criação, em 1973. Hoje, essas coleções podem ser encontradas em muitas das 47 unidades que a Empresa possui em todo o país e preservam micro-organismos de funcionalidades diversas, incluindo espécies relacionadas ao controle biológico de pragas e doenças, fertilidade do solo, de interesse industrial direto, como elaboração de vinho e espumantes, e causadores de doenças em animais e vegetais, entre outras.

A organização e a estruturação das coleções microbianas sem um padrão de gestão pode levar à perda de viabilidade de muitos micro-organismos ou alterar seu comportamento original, tornando-os inviáveis para utilização em prol da agricultura e da indústria nacionais. Além disso, o atendimento às normas de qualidade nacionais e internacionais é fundamental para que a Embrapa possa realizar intercâmbio com instituições públicas e privadas.

A realização de visitas a outras instituições é uma das ações previstas pela metodologia de Benchmarking, utilizada no projeto GESTCOL. Trata-se de um método utilizado pelas empresas para melhorar a sua gestão, a partir da comparação com outras que atuam na mesma área. No caso das coleções microbianas, são levadas em consideração questões que dizem respeito à sustentabilidade, pessoal, manutenção e distribuição do material biológico, gestão de equipamentos, custos de manutenção, sistemas da qualidade, prestação de serviços, gestão da documentação e do biorrisco, entre outros.

A coleta de dados nos diagnósticos e no benchmarking é o primeiro passo, como explica a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e líder do projeto GESTCOL, Clarissa Pires de Castro. “Depois, trabalharemos no desenvolvimento, implementação e monitoramento de um modelo corporativo de gestão para as coleções de micro-organismos da Embrapa, que é o objetivo final do GESTCOL”, complementa.

Pesquisa in loco mostra que legislação brasileira é mais exigente

As visitas internacionais foram feitas pelos pesquisadores Rose Monnerat, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF), Gildo Almeida e Loiva Ribeiro de Mello, da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), que são também gestores de coleções biológicas na Embrapa.

Segundo Almeida, é fundamental que as instituições selecionadas como parceiras de benchmarking possuam os pré-requisitos de credibilidade internacional nesta área, ou seja, sejam fortes e com qualidade reconhecida por órgãos nacionais e internacionais. Ele e Loiva Ribeiro de Mello visitaram as coleções da Holanda - Centraalbureau voor Schimmelcultures (CBS)- e da França - Centre International de Resources Microbiennes (CIRM-INRA-Levures), na cidade de Thiverval-Grignon, onde é mantida a coleção de leveduras.

“Benchmarking pode ser considerado um processo de balizamento de uma determinada empresa em relação à outra”, observa o pesquisador. Isso significa observar "in loco” como as coleções se encontram em relação a: sustentabilidade, cumprimento da legislação, gestão da qualidade, tecnologia da informação, capacitação de pessoal, capacidade física do local onde estão abrigadas, aplicação de novas tecnologias e incorporação massiva de itens da biodiversidade.

A pesquisadora Rose Monnerat visitou o Instituto Pasteur, em Paris, e a coleção de bactérias associadas a plantas que o Institut National de Recherche Agronomique (INRA) possui na cidade de Anger, também na França.

Os pesquisadores passaram três dias em cada uma das instituições visitadas. Para tornar o processo de benchmarking mais ágil e eficiente, aplicaram questionários e realizaram entrevistas com as equipes que trabalham nas coleções visitadas, além da observação in loco.

Em relação à gestão da qualidade, um fato chamou a atenção dos pesquisadores: todas as coleções visitadas aplicam apenas a ISO 9001, que é uma norma gerencial focada na gestão. Além disso, se baseiam nas recomendações da OECD Best Practice Guidelines for Biological Resource Centres, Cabri e WFCC. No Brasil, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) exige o cumprimento de normas técnicas, como a ABNT ISO GUIA 34, ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 e OECD Best Practice Guidelines for Biological Resource Centres.

Todas as coleções visitadas realizam intercâmbio com outras instituições nacionais e internacionais, como a Embrapa, por exemplo. Ou seja, são coleções de pesquisa, mas também de serviço.

Saibam mais sobre as coleções visitadas

A CBS foi estabelecida em 1904 e tem como foco pesquisas de taxonomia e evolução de fungos, com uso crescente de métodos moleculares e genômica. O Instituto emprega cerca de 90 pessoas dentre os quais 20 são cientistas. A Coleção mantém mais de 100.000 linhagens de micro-organismos, representando uma grande porcentagem das espécies de fungos cultivados.

O CIRM (International Center for Microbial Resources) foi criado pelo INRA com o objetivo de centralizar suas coleções de micro-organismos e assegurar a preservação por longos períodos. O CIRM é composto de cinco unidades dedicadas a diferentes tipos de micro-organismos: fungos filamentosos (Marseille), bactérias (Rennes), bactéria patogênicas (Tours), bactérias associadas a plantas (Angers) e leveduras (Thiverval-Grignon). Para cumprir as exigências dos consumidores, o CIRM implementou os padrões de alta qualidade e agora possui a ISO 9001 desde outubro de 2006. É uma coleção de serviços que tem como missão atuar como um Centro de Recursos Biológicos - CRB.

O Instituto Pasteur abriga mais de 90 mil linhagens de micro-organismos de diversas funcionalidades, principalmente de interesse para a área de saúde humana.

Coleções da Embrapa

Como o objetivo da Embrapa é transformar algumas de suas coleções microbianas em Centros de Recursos Biológicos (CRB), itens relacionados à distribuição e troca dos micro-organismos com outras instituições são importantes. De acordo com a OECD, os CRBs têm que se dedicar à preservação, armazenamento e distribuição de micro-organismos e informação associada, bem como à caracterização e identificação taxonômica contribuindo para o desenvolvimento científico, tecnológico e industrial dos países em que estão localizados.

No Brasil, para se tornar um CRB é necessário cumprir os requisitos da Norma NIT-DICLA 061 para a acreditação junto ao INMETRO das atividades de ensaio e de produção de materiais de referência executadas por CRBs, no domínio micro-organismos e fungos, tendo como referência a norma OECD Best Practice Guidelines for Biological Resource Centres .

Benchmarking mostra que coleções da Embrapa estão no caminho certo


De forma geral, a pesquisa de benchmarking realizada pelos pesquisadores Gildo Almeida, Loiva Maria Ribeiro de Mello e Rose Monnerat mostrou que as coleções de micro-organismos mantidas pela Embrapa estão no caminho certo no que se refere à organização, estruturação, gestão da qualidade, biorrisco, sustentabilidade e outros requisitos importantes que compõem um modelo de gestão.

Todos os itens observados e relatados a partir das visitas serão analisados e utilizados na elaboração do Modelo Corporativo de Gestão para as Coleções de Microrganismos da Embrapa (MCGCME).

Além desse modelo, o projeto GESTCOL vai resultar na produção de: manuais de organização para as coleções de micro-organismos da Embrapa; um banco de competências na gestão dessas coleções; 80 procedimentos harmonizados (técnicos, de equipamentos e gerenciais); 80 registros harmonizados (equipamentos, pessoal, condições ambientais, experimentos, de qualidade) e quatro planos de negócios para CRBs. “Assim, as coleções microbianas da Embrapa terão processos padronizados e estarão estruturadas de acordo com as exigências nacionais e internacionais, em especial no que se refere aos aspectos da legislação, que englobam as atividades de coleta, acesso ao patrimônio genético, manutenção, biorrisco e transporte”, constata Clarissa.

É também meta do Projeto promover a capacitação dos recursos humanos envolvidos com as coleções nas normas de gestão de coleções e no sistema de informação de micro-organismos.

Fonte: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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