Publicado em: 27/03/2013 às 17:00hs
O agronegócio brasileiro é um caso de sucesso. Além dos tradicionais produtos de exportação ainda importantes, como o café e a cana-de-açúcar, de 2000 a 2012 destacou-se o aumento na produção de grãos, produtos florestais e carnes. Os fatores responsáveis por essa “revolução” na eficiência produtiva estão relacionados à implementação de amplas cadeias de valor para produtos com agentes atuando em elos específicos (indústrias de insumos, produção dentro da porteira, agroindústria de processamento, apoio financeiro por bancos, institutos de pesquisa e extensão rural); incorporação de terras aráveis baratas no Centro-Oeste com condições climáticas favoráveis; desenvolvimento de tecnologias para culturas e criações para regiões tropicais e subtropicais; e agricultores competentes oriundos do Sul do país, muitos deles pequenos produtores que se transformam em médios e grandes no Centro-Oeste.
E como será o futuro da agricultura nos próximos 10 ou 20 anos? Há sinais fortes no mercado de que o agronegócio brasileiro continuará a crescer, como atestam institutos de pesquisa nacionais e internacionais. Foquemos o fator tecnológico: há problemas gerais na produção agrícola que devem ser observados constantemente por pesquisas agropecuárias. Por isso, há razões para haver instituições com gente bem treinada e laboratórios equipados. Com relação a esses problemas, é necessário aumentar a produtividade do trabalho, da terra, do capital das lavouras e das criações, havendo urgência na redução de custos de produção, na convivência harmônica entre a produção e o meio ambiente, bem como questões de mercado e de diminuição da pobreza rural. A pesquisa também deve tratar de problemas específicos, como o combate à ferrugem da soja, ao carrapato em bovinos, assim como a outras doenças de plantas e animais, além de questões de resistência à seca.
Em artigo na edição de fevereiro de 2012 na revista de agronegócios da FGV, a Agroanalysis, em coautoria com o atual presidente da Embrapa, Maurício Lopes, identifiquei as seguintes áreas prioritárias para pesquisas: (I) melhoramento genético, como base para o aumento da produtividade; (II) otimização da utilização da água, principalmente na agricultura irrigada; (III) ordenamento territorial e planejamento do uso dos recursos naturais, com a implementação do Código Florestal; (IV) mecanização, automação e agricultura de precisão, maximizando a mão-de-obra; (V) substituição de fertilizantes químicos e agroquímicos por processos biológicos; (VI) qualidade e funcionalidade de alimentos e matérias-primas; (VII) sistemas integrados e redução das emissões de gases; (VIII) gestão eficiente nos diferentes elos das cadeias produtivas; e (IX) estudos socioeconômicos relacionados à rentabilidade da agricultura, incluindo os pequenos produtores.
Muitas das inovações tecnológicas nos próximos 20 anos advirão de resultados de pesquisas em curso nas áreas da moderna biologia com auxílio de técnicas da biotecnologia, que pelo domínio de processos metabólicos de organismos (plantas, animais e microrganismos), possibilitará novos materiais para a produção de alimentos. Também se espera inovações para as áreas de química, medicina, nutrição e energia, automação - incluindo a agricultura de precisão, sistemas mais eficientes de informação - inclusive para pequenos produtores, e bioquímica aplicada a alimentos e outras matérias-primas da agricultura.
Mas a guerra da competição no mercado internacional, na qual se insere o agronegócio brasileiro, não está ganha. Isso porque os Estados Unidos e outros países localizados na Europa Ocidental e na Ásia, com destaque recente para a China, investem somas altas de recursos em pesquisas agropecuárias. Por isso, o Brasil pode fazer um esforço adicional para aumentar sua eficiência e eficácia no processo de inovação. Na área institucional, novos arranjos podem ser criados em parcerias com instituições nacionais e internacionais de excelência para o avanço da ciência ou para resolver problemas concretos. Laboratórios virtuais da Embrapa no exterior, como o Labexs, são exemplos de busca por conhecimentos científicos nos países em que são produzidos.
Elisio Contini é pesquisador e chefe adjunto do Núcleo de Estudos Estratégicos do Centro de Estudos Estratégicos e Capacitação da Embrapa e também é professor de MBA da Fundação Getútio Vargas (FGV), em São Paulo. Mestre em administração pública com concentração em planejamento governamental pela FGV do Rio de Janeiro, Contini concluiu seu doutorado em economia pública pela Universidade de Muenster, na Alemanha.
Fonte: Monsanto em Campo
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