Ao ouvir esta notícia, a cadela Baleia, personagem que acompanha uma família de retirantes nordestinos em Vidas Secas, obra prima do escritor alagoano Graciliano Ramos, certamente arrumaria forças para abanar o rabo.

Ramos, cujos 60 anos da morte são comemorados neste ano, não viveu para ver uma solução para a seca que castiga ano após ano, alguns mais, outros menos, o povo do sertão do Nordeste do Brasil. Pois, em meio à maior seca da região dos últimos 50 anos, governos de alguns estados nordestinos, como Ceará e Bahia, fecham parceria com Israel, visando a transferência de tecnologias para enfrentar a estiagem.  A notícia foi divulgada neste domingo (14) pelo jornal Folha de S. Paulo.

Nada mais natural; afinal Israel, país onde chove muito menos em que no Brasil, inclusive no sertão do Nordeste, notabilizou-se por desenvolver técnicas de irrigação que possibilitaram a esse país do Oriente Médio produzir alimentos, como frutas, especialmente citros, e verduras, além de ser grande produtor de flores.

De acordo com Sheila Sztutman, consultora econômica de Israel no Brasil, em entrevista à Folha, há lugares em seu país em que chove menos do que 100 mm por ano, enquanto no semiárido brasileiro o índice pluviométrico varia de 200 a 800 mm/ano.

No Ceará, onde a parceria com Israel está mais adiantada, a idéia é implantar uma fazenda-modelo ainda neste ano no município de Quixeramobim, em pleno sertão e a 216 km da capital, Fortaleza. A parceria foi coordenada pela Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece) e prevê que tecnologias, como gotejamento, fertirrigação, estufas, e de aproveitamento de energias renováveis na produção, sejam apresentadas ao produtor nordestino.

Segundo o IBGE, as perdas diretas das lavouras causadas pela estiagem estavam contabilizadas em R$ 3,6 bilhões em 2012. Na sexta-feira, 12, o governo federal lançou no Ceará o Plano Safra da Agricultura Familiar para o Semiárido, com linhas de financiamento a juros mais baixos para o custeio de atividades agropecuárias na região.