Publicado em: 11/11/2009 às 10:23hs
Há poucas décadas atrás, por volta dos anos 60, a inovação no Brasil ocorria quase que exclusivamente por meio da compra de novos equipamentos e novos insumos. Esse produtos eram geralmente obtidos de empresas transnacionais e eram consideradas como inovações desenvolvidas por alguém que não se sabia quem nem exatamente aonde mas que eram ditas e tidas como capazes de melhorar a competitividade das empresas.
Nesta mesma época as fábricas nacionais enfrentavam somente as intempéries das conjunturas da economia e do mercado nacionais, sem terem que se preocupar com seus concorrentes estrangeiros.
Esta situação perdurou, com poucas modificações, ate o final dos anos 80 e início dos anos 90, quando o fenômeno da globalização e da abertura do mercado brasileiro a produtos estrangeiros fez com que o consumidor brasileiro tomasse conhecimento de um outro parâmetro de qualidade e preço, permitindo então a comparação entre os produtos nacionais e os importados e, consequentemente, o confronto entre o patamar tecnológico entre as indústrias nacionais e estrangeiras.
Assim, provocadas por um contexto muito forte de competitividade, o governo , as indústrias, as instituições geradoras de conhecimento tecnológico e a sociedade, começaram a repensar seu papel na sociedade na busca de uma solução que permitisse enfrentar esse cenário de incertezas causados pelo fechamento de fábricas, perdas de emprego e empobrecimento social.
A partir de então as pesquisa estocadas nas universidades e instituições de pesquisa passaram a ser percebidas como fator fundamental para reduzir a lacuna tecnológica criada durante os anos de adoção de receitas de bolo vindas do exterior. Desde então foi estabelecido um outro desafio: como traduzir conhecimento em riqueza? como levar a competência e conhecimentos, fossem eles tácitos ou codificados dos diversos setores da sociedade, principalmente os disponíveis nas universidades e instituições de ciência e tecnologia, para o setor produtivo como forma de reduzir a defasagem tecnológica do setor da indústria nacional.
Alguns países, que há poucas décadas atrás eram considerados países em desenvolvimento, já encontraram esse caminho e mostram o valor que o conhecimento adquire quando encontra seu lugar no setor produtivo e se transforma numa inovação. A Coréia tem sido muito utilizada em comparações com o Brasil quando se quer referenciar desenvolvimento econômico baseado em conhecimento. Devido ao salto econômico conseguido nos últimos 30 anos, este país já é considerado pelo FMI como um pais desenvolvido.
Mas esse caminho não é uma receita de bolo que se copia facilmente, cada país e cada conjuntura irá fazer com que os métodos e procedimentos de transformar conhecimento em inovação - implementação de um produto novo, bem ou serviço, novo ou significativamente melhorado que proporcione efetivos ganhos de qualidade ou produtividade, resultando em maior competitividade - seja único e peculiar fazendo que experiencias bem sucedidas sejam passiveis de estudos e observações mas não de serem copiados pura e simplesmente.
O Brasil é um pais que convive com diferentes realidades e não é diferente quando se trata de inovação e transferência de tecnologia. Mas, é inegável que o momento é extremamente favorável para quem está envolvido com este processo, seja na geração de conhecimento ou na transferência destes para a sociedade.
A Lei dos Incentivos Fiscais - Lei do Bem -, a Lei de Propriedade Intelectual, a Lei de Inovação são marcos legais que estão dando sustentabilidade ao processo de inovação e transferência de tecnologia por meio da proteção do conhecimento e do estabelecimento de regras para o deslocamento de pesquisadores de instituições públicas para empresas privadas por tempo determinado, entre outras assuntos correlatos.
A Lei de Inovação proporcionou a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológicas (NITs) nas universidades brasileiras e está sendo um importante passo para acrescentar ao mundo acadêmico uma visão de negócio que tem permitido dar nova dinâmica à transferência do conhecimento estocado nas academias e nos centros de pesquisa.
Hoje é perceptível um ambiente mais propício para transferir de tecnologias para gerar inovações. As ações do Ministério da Ciência e Tecnologia, FINEP, CNPq, CAPES, as fundações de amparo, atualmente dispõem de linhas especificas que financiam atividades relacionadas à inovação.
O BNDES que antes financiava apenas grandes transações comerciais como a compra de grandes equipamentos e construções de grandes indústrias, agora, criou uma linha específica para financiar, entre outras coisas, serviços de inovação, propriedade intelectual e extensão tecnológica exclusivos para as micro, pequenas e médias empresas.
As cartas estão na mesa e os mais dinâmicos poderão usufruir dessas oportunidades. Confiança deverá ser a palavra chave para que a roda da inovação não pare de rodar.
Marcos Luis Leal Maia (mmaia@ctaa.embrapa.br), Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos
Fonte: Embrapa Agroindústria de Alimentos
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