Publicado em: 05/12/2024 às 07:00hs
A agricultura moderna está cada vez mais conectada ao uso eficiente de dados, ferramenta indispensável para otimizar processos e impulsionar a produtividade. Segundo Rebeca Venâncio, engenheira ambiental e analista sênior de sustentabilidade da Fundação Eco+, o papel da coleta, análise e aplicação de dados é crucial para a melhoria da tomada de decisões no setor agrícola. Os produtores rurais podem aproveitar a digitalização por meio de tecnologias que otimizam o uso de recursos, como sementes, fertilizantes, defensivos, maquinário e combustível, além de modelos preditivos que antecipam condições climáticas e do solo.
No entanto, o setor agrícola enfrenta desafios relacionados à adoção de práticas mais sustentáveis, especialmente diante de legislações ambientais internacionais cada vez mais rigorosas. O exemplo mais evidente é o Pacto Verde Europeu e seus desdobramentos globais, que inclui o Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono (CBAM), que entrará em vigor em 2026 e poderá gerar obstáculos para o agronegócio brasileiro, especialmente para os produtores que não se alinharem às metas europeias de redução de emissões de carbono.
A dificuldade em comprovar que as práticas agrícolas são ecologicamente corretas pode ser atribuída a dois problemas principais: a falta de uma comunicação clara e baseada em dados concretos e científicos para os consumidores, e a implementação de práticas agrícolas que realmente contribuam para a sustentabilidade, com foco na redução do uso de defensivos, no consumo eficiente de recursos naturais e na preservação da biodiversidade.
A adoção da cultura de dados na agricultura pode ter um papel fundamental na superação desses desafios, especialmente por meio da avaliação do impacto ambiental das práticas agrícolas. Nesse contexto, a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) surge como uma metodologia importante para medir e quantificar os impactos ambientais ao longo de todo o ciclo de vida de produtos agrícolas. Essa análise permite identificar o uso de recursos naturais, as emissões de gases de efeito estufa, o impacto sobre a biodiversidade e os gastos energéticos, proporcionando insights que favorecem o desenvolvimento de uma agricultura mais verde e de baixo carbono.
Ao combinar a ACV com os dados provenientes das tecnologias digitais, os produtores podem identificar áreas de melhoria em seus processos. Por exemplo, a análise do ciclo de vida de um cultivo pode mostrar que a maior parte do impacto ambiental ocorre não durante a produção, mas na fase anterior, relacionada à produção de fertilizantes. Com essa informação, os agricultores podem optar por fornecedores mais sustentáveis ou ajustar suas práticas de aplicação para reduzir os impactos ambientais.
Um exemplo notável de como os dados podem contribuir para a sustentabilidade na agricultura é o Sistema Campo Limpo, uma iniciativa do inpEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias) que promove a logística reversa de embalagens de defensivos agrícolas. Desde seu lançamento, em 2002, o sistema conseguiu garantir a destinação ambientalmente correta de mais de 750 mil toneladas de embalagens vazias, com uma taxa de reciclagem de 93%. Além disso, o sistema contribui para a redução das emissões de carbono, evitando o lançamento de 974 mil toneladas de CO2 na atmosfera, o equivalente a 18 mil viagens de caminhão ao redor da Terra.
Com a previsão da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) de que a demanda global por alimentos aumentará cerca de 1,3% ao ano até 2032, a pressão por práticas agrícolas mais sustentáveis tende a crescer. Nesse cenário, o papel dos dados será cada vez mais essencial para impulsionar práticas agrícolas que atendam às necessidades de produção sem comprometer o meio ambiente. Ao incorporar métricas de ACV, a cultura de dados na agricultura poderá se tornar uma ferramenta poderosa para garantir uma agricultura resiliente, ecologicamente responsável e alinhada às exigências globais de sustentabilidade.
Essa visão renovada ajudará os produtores a demonstrar, de maneira transparente e respaldada por dados, seu compromisso com a sustentabilidade, cumprindo as regulamentações e garantindo a competitividade do setor no cenário global.
Fonte: Portal do Agronegócio
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