Biotecnologia

Agropecuária brasileira irá demandar mais biotecnologias

Vencido o desafio de produzir alimento em larga escala, em terras tidas como imprestáveis para o cultivo agrícola, o Brasil se vê diante de um novo cenário, ainda mais demandante de tecnologias


Publicado em: 16/10/2013 às 17:00hs

Agropecuária brasileira irá demandar mais biotecnologias

Para os participantes do 2º Fórum de Bioeconomia, realizado em hotel da zona sul de São Paulo, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Harvard Business Review, na quinta (10), a agropecuária brasileira irá depender cada vez mais da aplicação de biotecnologias para conseguir manter as vantagens competitivas e continuar incrementando a produtividade.

As ciências da vida, que servem de base para a bioeconomia, impactam os modos tradicionais de produção de tecnologias na agropecuária, saúde humana e biotecnologia industrial. O uso de bioplásticos na indústria, o desenvolvimento de biocombustíveis, como o etanol brasileiro, e a substituição de adubos químicos pela fixação biológica de nitrogênio são exemplos de tecnologias da bioeconomia.

“O código da vida está começando a permear, alterar e impulsionar cada vez mais diversas áreas da economia. É importante que a América Latina compreenda, adote, se adapte e passe a ter papel de liderança nessas mudanças”, destaca Juan Enriquez, CEO da Biotechonomy e ex-membro do projeto ciências da vida da Universidade Harvard. Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a bioeconomia movimenta no mercado mundial cerca de 2 trilhões de Euros e gera cerca de 22 milhões de empregos.

Conceitos de bioeconomia já foram utilizados, no Brasil, para adaptar o gado zebu, a soja e outras culturas de clima temperado às condições tropicais. “A soja brasileira não utiliza fixação química de nitrogênio. Só essa tecnologia paga o investimento brasileiro em pesquisa agropecuária”, salienta o presidente da Embrapa Maurício Lopes, um dos participantes do debate “A contribuição da bioeconomia para o agronegócio”, mediado pelo jornalista William Waack.

A fixação biológica de nitrogênio na soja gera um ganho estimado de seis bilhões de dólares ao ano, valor necessário para o cultivo caso os produtores rurais tivessem que utilizar fertilizantes químicos. Para Pedro Luiz Fernandes, presidente regional da Novozyme Latin America, disseminar o uso de inoculantes na produção de outras leguminosas, como forma de substituir os fertilizantes fósseis pelo uso do nitrogênio biológico, permanece sendo um desafio para a agricultura brasileira.

“Há uma questão cultural e até lobby para que os agricultores não utilizem inoculantes. Alguns agricultores não acreditam na biofertilidade. A Argentina está muito à nossa frente no uso de inoculantes”, enfatiza Fernandes.

Em um cenário de mudanças climáticas e aumento da população mundial, o desenvolvimento e uso de produtos e processos biológicos nas áreas da agropecuária, biotecnologia industrial e saúde humana ganham importância por permitir reduzir o impacto das atividades econômicas no meio ambiente, como ocorre quando um produtor rural substitui adubos químicos por inoculantes.

Além da dimensão cultural e da atuação de grupos de pressão, os participantes do Fórum concordam que o avanço da agropecuária brasileira para a bioeconomia depende de estabilidade nos investimentos. “As ameaças de corte de investimento na Embrapa, recorrente em vários governos”, constituem um problema a mais para o Brasil adotar novas tecnologias e conseguir manter a competitividade no setor agropecuário, enfatiza Decio Zylbersztajn, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo.

“O pujante sistema agroindustrial, setor que está segurando a economia brasileira, depende de investimento”, salienta Decio. O pesquisador ressalta ainda o desafio de “refazer o sistema de assistência técnica no âmbito do poder público, desfeito no Governo Collor”.

Entre os avanços já alcançados, Maurício Lopes destaca o zoneamento de risco climático da cana e de outras culturas, iniciativa tida como essencial para que o Brasil comece a se preparar para um cenário de mudanças climáticas. Caso as expectativas se confirmem, as alterações de clima “terão maior impacto no cinturão tropical do globo”, enfatiza Lopes.

Para Lopes, a matriz energética brasileira, composta por 47% de fontes renováveis, tende a avançar ainda mais em sustentabilidade com o uso de novas tecnologias de biomassa. Além do etanol celulósico, a Embrapa pesquisa sorgo sacarino para diminuir a dependência do etanol da cana e ampliar o tempo de uso das usinas.

Como forma de lidar com o novo cenário, Lopes enfatiza ainda a importância do Programa de Agricultura de Baixo Carbono e a necessidade de avançar em sistemas de inteligência estratégica, uma das ações postas em prática pela Coréia do Sul para dar um salto de desenvolvimento.

O diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes, destacou no encerramento do Fórum que o documento “Bioeconomia, uma agenda para o Brasil” deve servir de incentivo para que políticas públicas sejam executadas. As áreas estabelecidas como prioritárias para o setor de agroindústrias foram biotecnologia azul, bioreatores, reprodução vegetal e animal assistida, biotecnologia florestal, coleta e conservação de germoplasma, plantas resistentes a estresses abióticos e bióticos, organismos geneticamente modificados e bioprospecção.

Fonte: Embrapa

◄ Leia outras notícias