Publicado em: 19/08/2025 às 08:00hs
Na agricultura familiar brasileira, que concentra 53% das propriedades com menos de 10 hectares e responde por 23% do valor bruto da produção agropecuária nacional, a mecanização ainda é limitada. Nesse cenário, soluções digitais surgem como aliadas estratégicas para otimizar recursos, aumentar produtividade e garantir sustentabilidade.
Segundo o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2024, elaborado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) em parceria com o Dieese, a agricultura familiar concentra 67% das ocupações no campo e representa uma das maiores diversidades produtivas do planeta.
Apesar da importância econômica e social, a mecanização das pequenas propriedades segue restrita. Dados do Censo Agropecuário de 2017 apontam que apenas 14,5% dos estabelecimentos da agricultura familiar possuem algum tipo de trator, número que cai para 2,3% no Nordeste.
O Plano Nova Indústria Brasil, lançado em 2024, estabeleceu a meta de alcançar 70% de mecanização na agricultura familiar até 2033, priorizando o desenvolvimento de máquinas menores e mais acessíveis.
No entanto, especialistas alertam que o simples fornecimento de equipamentos não garante resultados. Maria Fernanda Lopes de Freitas, professora do curso de Gestão Integrada de Agronegócios da PUCPR, destaca:
“O plano só será eficaz se combinado ao conhecimento sobre tecnologias digitais adaptáveis a diferentes cenários agrícolas. Ter o equipamento sem saber operá-lo ou usá-lo de forma subótima gera custo sem retorno financeiro efetivo.”
A professora explica que tecnologias digitais, como sensores, drones e softwares de gestão, podem ser democratizadas e usadas de forma coletiva, tornando o investimento viável mesmo para propriedades menores.
“Um único drone pode monitorar múltiplas propriedades, enquanto sensores de baixo custo integrados a plataformas via celular conseguem reduzir perdas em até 25%, mesmo em áreas com baixa mecanização”, afirma Maria Fernanda.
Além de ampliar a eficiência da produção, essas soluções oferecem benefícios em gestão financeira, rastreabilidade, acesso a mercados e redução de perdas ambientais.
Levantamento da Embrapa, realizado em 2020, indicou que mais de 65% dos agricultores familiares têm interesse em aplicativos para gestão e diagnóstico de lavouras. Entre as funcionalidades mais demandadas estão detecção de deficiências nutricionais (35%), doenças (33%), pragas (32%) e mapeamento do uso do solo (21%).
Segundo Maria Fernanda:
“A melhor tecnologia é aquela que cabe no bolso e se adapta à realidade da propriedade do agricultor.”
Para ampliar o acesso, a especialista recomenda modelos como cooperativas para aquisição compartilhada de drones, contratação de serviços sob demanda, linhas de crédito específicas e parcerias com universidades e instituições de extensão rural.
“Tecnologia não é só máquina. É conhecimento aplicado. É criar soluções para que o agricultor familiar não fique para trás na transição digital que já está em curso”, conclui.
Fonte: Portal do Agronegócio
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