Publicado em: 12/08/2025 às 08:00hs
Apesar de ser um dos pilares da economia nacional e referência global na produção de alimentos, o agronegócio brasileiro ainda enfrenta desafios importantes na gestão de riscos climáticos. Um dos principais mecanismos de proteção — o seguro agrícola — segue subutilizado no país.
De acordo com relatório da Fundação Getulio Vargas (FGV), o seguro agrícola representa apenas 0,4% do mercado total de seguros no Brasil, um número extremamente baixo considerando o tamanho e a relevância do setor. Estima-se que o mercado potencial de seguros agrícolas no Brasil, entre lavouras, florestas e pastagens, seja de R$ 155,4 bilhões, abrangendo mais de 115 milhões de hectares.
Segundo Denise Ozaki, publicitária e Head de Marketing da Picsel, o processo atual de contratação de seguros no campo é complexo e desestimulante. Diferente de outras modalidades de seguro que podem ser contratadas digitalmente em minutos, o seguro agrícola tradicional exige uma série de etapas manuais: coleta de informações técnicas, análise do histórico produtivo e avaliação de riscos regionais. Isso pode estender o prazo de contratação para semanas ou até meses.
Além disso, a burocracia é um entrave expressivo. O produtor precisa preencher formulários extensos, aguardar diversas aprovações e lidar com processos pouco automatizados — algo especialmente oneroso para pequenos e médios produtores, que têm menos recursos e estrutura para enfrentar esse tipo de barreira.
Outro ponto crítico é a falta de personalização dos produtos oferecidos. Muitos seguros são genéricos e não consideram as particularidades da região, do tipo de cultura ou das condições específicas de cada propriedade, o que acaba afastando o produtor rural da contratação.
No campo, o tempo é um recurso valioso. As janelas de plantio e colheita são curtas e inflexíveis. Um processo lento de contratação de seguro pode comprometer toda a operação agrícola, especialmente quando o produtor precisa de respostas rápidas para aprovar crédito ou iniciar o plantio. Sem essa agilidade, muitos acabam arriscando a produção sem cobertura.
Nesse cenário, a transformação digital surge como um caminho inevitável. A digitalização promete tornar o seguro agrícola mais acessível, ágil e eficiente — algo fundamental para democratizar seu uso e garantir proteção ao produtor rural.
A adoção de tecnologia pode reduzir o tempo de cotação de semanas para minutos, permitir personalização por fazenda, automatizar processos e eliminar burocracias desnecessárias. Isso transforma o seguro rural em uma ferramenta estratégica, acessível inclusive para pequenos produtores.
Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o setor registrou um crescimento expressivo: entre 2005 e 2022, a arrecadação com seguro agrícola saltou de R$ 23,8 milhões para R$ 6,3 bilhões, um avanço de 26.463%. Mesmo assim, a penetração no mercado de seguros segue pequena.
A ampliação do acesso ao seguro agrícola não beneficia apenas o produtor. Ela contribui para a segurança alimentar do país, aumenta a resiliência do setor diante das mudanças climáticas e fortalece a estabilidade econômica do agronegócio.
Nos últimos dez anos, os eventos climáticos extremos geraram R$ 639 bilhões em prejuízos, dos quais 56% afetaram diretamente o setor agropecuário, segundo dados da FGV.
A revolução digital já começou no campo. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do agronegócio cresceu 6,49% no primeiro trimestre de 2025. Paralelamente, startups do setor estão recebendo investimentos para explorar o mercado de seguros digitais. Um exemplo é o de uma agtech brasileira que captou R$ 5 milhões, conforme dados da Insurtech Brasil.
Como destaca Denise Ozaki, o seguro agrícola digital não é mais uma tendência, mas uma necessidade urgente. A questão não é se essa transformação vai ocorrer, mas quão rápido o setor conseguirá se adaptar. O futuro da agricultura brasileira e da segurança alimentar nacional depende das decisões tomadas agora para modernizar, simplificar e expandir o acesso ao seguro rural.
Fonte: Portal do Agronegócio
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