Publicado em: 18/07/2013 às 19:30hs
Contudo, analistas acreditam que a persistência do país em se manter fora enquanto a Venezuela exercer a presidência rotativa - que vai até o fim deste ano - pode emperrar as negociações em andamento do tratado de livre comércio entre o bloco e a União Europeia. Dentro do Mercosul, a percepção é que o novo governo vai abrandar o tom de rejeição ao convite e voltar ao grupo até o fim do ano.
Pressão interna - Cartes enfrentará pressão interna para aceitar o retorno, principalmente do Senado e da opinião pública, segundo o ex-embaixador Rubens Barbosa (foto), presidente do conselho de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Barbosa acredita que a reintegração do Paraguai ao bloco não vá acontecer neste ano. O mais provável é que o novo governo espere a entrada da Argentina na presidência rotativa do bloco para aceitar o convite feito na última sexta-feira.
Membro pleno - Como na área comercial o Paraguai segue como membro pleno, o maior revés para o Mercosul está na perspectiva de não cumprimento do cronograma de entrega da lista unificada de produtos que será negociada com os europeus. Segundo o ex-embaixador, a expectativa é que até o fim de setembro uma lista seja apresentada. "Com o Paraguai fora, vai ser difícil chegar à lista conjunta no prazo estipulado", diz.
Visão endossada - A visão de que a instabilidade do bloco é uma ameaça ao cronograma das negociações relativas ao tratado também é endossada por Ricardo Sennes, coordenador do Grupo de Análise Internacional da Universidade de São Paulo (USP). As dificuldades dos países-membros em estabelecer uma lista em conjunto, principalmente nos setores industriais, aliado à indecisão sobre o retorno do Paraguai "diminuem a expectativa de que as negociações comecem a deslanchar".
Principal motivo - A entrada da Venezuela, enquanto os paraguaios estavam suspensos, é o principal motivo da instabilidade citada por Sennes. Uma forma de contornar isso seria através da assinatura, por parte do Senado do país, de todas as atas que ratificaram o ingresso dos venezuelanos no bloco, no fim de julho do ano passado. "Quando há uma disposição política de todas as partes, o aspecto formal pode ficar em um segundo plano. Mas não é o caso", afirma Sennes.
Panorama atual - No panorama atual, a necessidade de formar a lista para fazer avançar a negociação com a UE confere maior poder de barganha aos paraguaios para negociar a volta ao bloco. "Se o governo Cartes sentir que há um interesse muito forte dos outros países na assinatura do acordo, ele consegue mais cacife para negociar temas de interesse próprio, como financiamentos para obras de infraestrutura no país, por exemplo", diz Sennes.
Defensor - O maior defensor da posição paraguaia é o atual ministro das Relações Exteriores, José Félix Fernández. Fonte ouvida pelo Valor que integra o Tribunal Permanente de Revisão (TPR) do Mercosul, entretanto, afirma que Fernández é voz dissonante dentro da coalizão encabeçada pelo Partido Colorado, do presidente Cartes. A expectativa dentro do bloco é que, após a posse do novo presidente, o retorno do país seja facilitada, devendo acontecer até o fim deste ano.
Resposta - A resistência paraguaia é creditada a "uma resposta que o novo governo tem que dar à opinião pública do país", segundo a fonte, que legitima a posição do atual governo. "Como se faz uma reunião para colocar um novo membro durante a suspensão de outro, sendo que o estatuto diz que todos devem concordar com o novo integrante? Isso tudo foi um desgaste grande ao Mercosul e aconteceu por uma questão política".
Efeito - Pela ótica do comércio a suspensão política teve efeito nulo. No primeiro semestre do ano, em comparação com igual período do ano anterior, quando o Paraguai não havia sido suspenso, o comércio bilateral com o Brasil cresceu 23%, rendendo saldo positivo de US$ 1 bilhão à balança brasileira. Eulógio Quiñonez Ramirez, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Paraguai, diz que não existe palavra final sobre se o Paraguai vai aceitar ou não o retorno ao Mercosul enquanto o novo presidente não for empossado.
Fretes - Sócio-diretor da Transparaguay, empresa que faz o frete de exportações de empresas brasileiras dos setores automobilístico e siderúrgico, entre outras, Quiñonez diz que houve crescimento de "cerca de 20%" no volume de fretes destinados ao Paraguai no último ano. "Para a minha empresa a suspensão não fez diferença. A economia paraguaia ainda demanda muita matéria-prima, equipamentos de indústria e manufaturados brasileiros", afirma.
Relação bilateral - O exemplo de Quiñonez mostra como a relação bilateral vem crescendo, segundo Barbosa. Enquanto o Brasil exporta majoritariamente produtos semimanufaturados e manufaturados - US$ 1,5 bilhão foi o valor da exportação total brasileira no primeiro semestre -, os paraguaios vendem produtos básicos, como soja e carne. "Apesar da suspensão política, eles continuaram a levar adiante as relações comerciais com o Brasil, principalmente na venda de produtos agrícolas. Há uma complementariedade nas duas economias, que segue crescendo", diz Barbosa.
Fonte: ASSESSORIA DE IMPRENSA DA OCEPAR/SESCOOP-PR
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