Publicado em: 20/05/2012 às 21:17hs
Há um clima de expectativa e esperança em torno dos compromissos globais que poderão ser formalizados durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, marcada para junho deste ano, no Rio de Janeiro. O megaevento da ONU nos oferece a oportunidade de refletir sobre o que foi feito nos últimos 20 anos, e o muito que ainda precisamos fazer para vencer os mais urgentes desafios econômicos e socioambientais no Brasil e no mundo – oferta de energia, água limpa e alimento; segurança climática; manutenção e recuperação de ecossistemas; erradicação da pobreza; entre outros.
Um recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), produzido para avaliar as mudanças no planeta nas últimas duas décadas, revela que avançamos pouco em relação às recomendações contidas nos documentos firmados na Conferência de 1992.
A Rio+20 certamente não vai resolver no curto prazo todos esses complexos problemas. Mas – temos esperança – poderá apontar soluções concretas em atividades estratégicas para a transição do modelo de desenvolvimento.
Ao contrário do que aconteceu na Rio 92, a participação do setor empresarial na megaconferência deste ano será um diferencial de extrema relevância. Há 20 anos, a participação do setor se restringiu ao discurso solitário do empresário suíço Stephan Schmidheiny, que abordou a integração de indústrias, bancos e prestadores de serviço no movimento do desenvolvimento sustentável. Meses depois, ele e empresários visionários fundaram o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), rede que o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) passou a integrar em 1997.
Durante essas duas décadas, segundo o recente relatório da ONU, pouco avançamos em relação ao uso inadequado dos recursos naturais e na erradicação da pobreza, mas evoluímos bastante do ponto de vista institucional. Chegamos finalmente ao consenso – pelo menos entre as lideranças mais conscientes – de que o modelo de desenvolvimento tradicional é inviável sob todos os aspectos. Vinte anos atrás, seria impensável, por exemplo, o CEO de uma grande empresa preocupar-se com mudanças climáticas ou com escassez de água. Hoje, esses dois temas estão na agenda de qualquer grande corporação, apesar de todas as dificuldades de implementação de um modelo que possa ser chamado de sustentável.
O grande desafio da Rio+20 será dar sentido prático a todas as constatações que chegamos no decorrer desses anos de discussões em torno das questões mais relevantes da sustentabilidade. Sha Zukang, secretário-geral da ONU para a Rio+20, foi categórico em recente visita ao Brasil: “Nosso trabalho não é falar, mas agir. Não percamos mais tempo em conversas, em apenas produzir papéis. É claro que temos de produzir documentos, mas é preciso implementá-los”.
O CEBDS, como uma significativa parcela das entidades representativas do setor empresarial, mobilizou-se como nunca para que as empresas tenham um papel decisivo na Rio+ 20. Além de nossa colaboração para elaborar o “Documento de Contribuição Brasileira à Conferência Rio+20″, levaremos ao megaevento da ONU o “Visão Brasil 2050”, uma adaptação à realidade brasileira do relatório do WBCSD, o “Vision 2050: The new agenda for business”. O relatório aponta o caminho para um mundo sustentável em 2050, mostrando o que precisamos fazer agora para ter um futuro com mais qualidade de vida e sem prejudicar as próximas gerações. O estudo internacional foi elaborado com base em debates realizados com cerca de 200 representantes de empresas, governos e especialistas de quase 20 países, entre eles o Brasil.
Com o título “Visão 2050 – A nova agenda para os negócios no Brasil”, a versão brasileira do relatório será um valioso instrumento para formuladores de políticas públicas e tomadores de decisões das empresas nos próximos anos em nosso país. O documento baseia-se em nove pilares: biodiversidade, energia, mobilidade, desenvolvimento humano, valores das pessoas, agricultura, economia, edifícios e materiais.
Muito tem sido feito para por em prática esses pilares. Contudo, as ações agora precisam ganhar escala e, consequentemente, atender de forma significativa os indicadores que estão dentro dos parâmetros do desenvolvimento sustentável, ou seja, atender de forma articulada as dimensões econômicas, sociais e ambientais.
A iniciativa “Do campo ao mercado”, que entidades do setor e empresas, como a Monsanto, em parceria com o CEBDS, buscam implementar no Brasil, é um bom exemplo de ação positiva que se encaixa perfeitamente nas tarefas do pilar de “Agricultura” do “Visão Brasil 2050”. Ilustra o engajamento do setor empresarial, dialogando com diversos stakeholders, com o objetivo de conhecer melhor seu modo de produzir, contribuindo para a superação de complexos desafios nacionais, como o de inverter a curva do desmatamento, aumentar a produção com menor consumo de água e a mesma área plantada, reduzir o impacto da atividade na biodiversidade, além de contribuir efetivamente para a erradicação da pobreza.
O CEBDS, que há 15 anos ajuda as empresas brasileiras a incorporarem a sustentabilidade nos seus negócios, sabe da importância das parcerias para a realização de grandes projetos. A sustentabilidade é um novo valor que transforma o atual modelo econômico, mas por ser um tema novo, precisa de parceiros idôneos e capazes, que nos ajudem a pensar juntos na melhor forma de concretizar as ações que gerem o futuro que queremos. As empresas que têm visão de futuro já entenderam que esse é um bom negócio para todas as partes envolvidas no processo – produtor, consumidor, fornecedor, investidor – e para todos os que pensam na qualidade de vida das futuras gerações.
*A economista Marina Grossi preside o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) desde 2010. Como coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, foi negociadora do Brasil na COP do Clima. Atuou nas negociações do Protocolo de Quioto, representou o G77+China na área de Mecanismo Financeiro, foi assessora do Ministério da Ciência e Tecnologia e fundou a Fábrica Éthica Brasil, onde lançou a iniciativa “Carbon Disclosure Project”. Depois, como coordenadora da Câmara do Clima no CEBDS, ajudou a trazer para o Brasil o “GHG Protocolo”, a mais usada ferramenta de medição das emissões de gases de efeito estufa.
Fonte: Monsanto em Campo
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