Publicado em: 07/11/2024 às 10:55hs
A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos aumentou a pressão para que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresente medidas fiscais efetivas. Segundo economistas consultados pela Reuters, a falta de um plano de ajuste convincente poderá intensificar as pressões sobre o câmbio e os juros no Brasil, que já refletem o impacto da volta de Trump à Casa Branca.
Na manhã desta quarta-feira, o dólar chegou a ultrapassar R$ 5,86, enquanto as taxas de juros dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) subiram para mais de 13% em diversos vencimentos. Esse movimento de alta ocorreu em meio à expectativa de que o governo Trump adote políticas mais protecionistas e inflacionárias, o que gerou também uma valorização global do dólar e aumentou os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries).
Para Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos e da ESPM, o governo Lula agora terá de focar em ajustes fiscais rigorosos. “Se o governo não pretendia realizar cortes, agora será necessário agir. Precisamos de uma redução significativa nos gastos, entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões”, afirmou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou nesta manhã que a fase de discussões sobre o plano fiscal foi finalizada, mas não revelou detalhes. O anúncio ajudou a reduzir a alta do dólar e das taxas de juros dos DIs, e no início da tarde o dólar já estava em queda, perto de R$ 5,70.
Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos, destacou que a reação do mercado brasileiro reflete uma expectativa em relação ao plano fiscal. “Há esperança de que o governo implemente medidas robustas de corte de gastos, mas, pelo que se discute, a proposta parece mais uma reorganização das despesas do que um corte efetivo”, comentou.
Uma reportagem da Reuters na terça-feira revelou que o governo estuda incluir os gastos com saúde e educação no limite do arcabouço fiscal, aprovado no ano passado, que regula o crescimento das despesas públicas em até 2,5% ao ano. Segundo Haddad, as medidas têm como objetivo estender a validade do arcabouço fiscal e poderão ser anunciadas ainda nesta semana.
A vitória de Trump trouxe consequências para os mercados emergentes, cujas moedas também sofreram desvalorização em relação ao dólar. Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, o governo brasileiro precisa avançar com um plano fiscal convincente, apontando que cortes entre R$ 40 bilhões e R$ 60 bilhões poderiam ser suficientes tecnicamente. Ele destacou, entretanto, que é fundamental assegurar apoio político para que as medidas tenham efeito.
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, também reiterou recentemente a importância de um “choque fiscal positivo” para possibilitar uma queda sustentável nas taxas de juros. Segundo ele, as reduções mais duradouras dos juros no Brasil ocorreram apenas quando houve uma reorganização fiscal robusta.
Fonseca, da Reag, afirmou que a política econômica proposta por Trump, com suas medidas protecionistas, forte restrição à imigração e cortes de impostos, poderá transformar os Estados Unidos em um “aspirador de liquidez global”, dificultando ainda mais a situação para economias emergentes.
No Brasil, o mercado aguarda a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, com uma alta de 50 pontos-base esperada para a Selic, que elevaria a taxa para 11,25% ao ano. Com a possível retomada de Trump, as expectativas para o futuro da Selic começam a mudar, e o mercado já cogita um novo aumento de até 75 pontos-base na próxima reunião, caso o ajuste fiscal do governo Lula não avance com a urgência necessária.
Fonte: Portal do Agronegócio
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