Publicado em: 22/10/2025 às 11:35hs
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) promoveu, em 16 de outubro, uma reunião conjunta das Comissões Técnicas de Grãos e de Política Agrícola para analisar o panorama do agronegócio paulista e nacional. O encontro abordou os impactos econômicos sobre os produtores e traçou perspectivas para a safra 2025/26.
O presidente da Faesp, Tirso Meirelles, abriu o evento destacando o momento desafiador após o aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos, que reduziu em 75% as exportações brasileiras ao país. Segundo ele, a conjuntura exige cautela, foco em gestão e planejamento estratégico, diante das altas taxas de juros que desestimulam investimentos. Meirelles também sugeriu a criação de uma comissão para consolidar dados e informações estratégicas que auxiliem os produtores na tomada de decisões e na obtenção de crédito.
Cláudio Brisolara, do Departamento Econômico da Faesp, apresentou pesquisa com 263 produtores rurais paulistas. O levantamento revelou que 53,4% não planejam investir nesta safra, percentual que supera 70% entre os produtores de grãos. Em contrapartida, os produtores de café e hortaliças demonstram maior intenção de investir em infraestrutura e equipamentos.
A maioria pretende manter a mesma área plantada e o mesmo pacote tecnológico da safra anterior, reflexo dos juros elevados e da baixa rentabilidade. Mais da metade dos entrevistados apontou o crédito rural caro e a conjuntura econômica desfavorável como principais entraves. Sobre o seguro rural, 52,3% mostraram interesse, mas enfrentam dificuldades com o custo dos prêmios e a falta de subvenção governamental, indicando que o modelo atual não atende às necessidades do produtor.
Brisolara trouxe ainda as projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nacionalmente, espera-se crescimento de 3,6% na soja e 8,4% no sorgo, enquanto arroz, amendoim e milho devem recuar. Em São Paulo, o cenário tende à estabilidade, com destaque para o sorgo, projetado para crescer 21,8%. O especialista reforçou que crédito restrito, custos elevados e incertezas de mercado continuam sendo os principais desafios.
O comportamento dos preços também foi debatido. Feijão e amendoim registram quedas e margens reduzidas. A cana-de-açúcar apresenta mercado promissor, mas sofre com a seca e o aumento dos custos de produção. Já o boi gordo vive momento positivo, com produtividade em alta e expectativa de expansão da demanda interna e externa.
Sobre o Plano Safra, Brisolara destacou que, embora haja aumento nominal de 1,6% nos recursos, o valor real caiu cerca de 3% devido à inflação. Além disso, grande parte do montante é composta por Cédulas de Produto Rural (CPRs), representando crédito privado e não aporte público direto.
Luis Gustavo Germano, gerente de mercado agronegócios do Banco do Brasil, abordou o tema do endividamento rural. Ele informou que o banco estuda renegociar dívidas e ajustar o perfil de crédito dos produtores frente à elevação da inadimplência. Para a próxima safra, o Banco do Brasil disponibilizará R$ 230 bilhões em crédito, contemplando custeio, investimento, comercialização e cadeia de valor.
As Comissões concluíram que a baixa rentabilidade permanece como principal obstáculo, comprometendo a capacidade de pagamento e de novos investimentos. Apesar do otimismo quanto à produtividade, a volatilidade de preços e a incerteza econômica exigem gestão financeira rigorosa. “O produtor não define o preço que recebe, mas pode — e deve — administrar bem suas contas para evitar decisões equivocadas”, afirmou Tirso Meirelles.
Fonte: Portal do Agronegócio
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