Publicado em: 16/07/2025 às 10:35hs
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) reuniu-se nesta terça-feira (15) com representantes de entidades do setor produtivo para tratar dos impactos do novo pacote tarifário anunciado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida prevê tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros e pode entrar em vigor no dia 1º de agosto, ameaçando setores estratégicos da economia nacional.
O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR), alertou para a gravidade do cenário e cobrou uma resposta rápida por parte do Executivo. “Faltam apenas duas semanas para que as tarifas entrem em vigor. O ideal seria que o governo se movimentasse com a mesma intensidade que temos adotado aqui no Congresso”, declarou.
Segundo Lupion, a bancada já está articulando ações junto a diplomatas, especialistas em comércio exterior e representantes das cadeias produtivas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Produtos como celulose, açúcar, etanol, cacau, pescados, carne bovina, ovos, suco de laranja e café estão entre os mais penalizados pelas novas tarifas. O deputado destacou ainda que os efeitos serão sentidos não apenas no Brasil, mas também pelos consumidores americanos, uma vez que muitos desses produtos são essenciais e, em alguns casos, insubstituíveis no mercado internacional.
Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Brasil exportou 8,1 milhões das 24 milhões de sacas consumidas nos Estados Unidos em 2023, o que reforça a importância do país como principal fornecedor. “Um não vive sem o outro”, afirmou Marcos Matos, diretor do Cecafé.
O setor de carne bovina também expressa grande preocupação. Marcelo Osório, da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), alertou que os Estados Unidos são o segundo maior mercado para a carne bovina brasileira. “Se houver sobra de carne no mercado interno, haverá pressão negativa sobre os setores de aves e suínos”, explicou.
Na carne suína, embora apenas 2% das exportações tenham como destino os EUA, o valor equivale a cerca de US$ 180 milhões anuais. Já os ovos são especialmente vulneráveis: mais de 60% do volume exportado vai para os EUA, mesmo representando menos de 1% das exportações totais do setor. Diante da gripe aviária que atinge estados produtores como a Geórgia, especialistas avaliam que os EUA podem rever a decisão para evitar disparada nos preços domésticos.
A cadeia de pescados também deve ser impactada. O Brasil exporta mensalmente cerca de 1.300 toneladas de tilápia para os EUA, gerando aproximadamente US$ 3 milhões.
O setor de etanol, especialmente o de milho, pode enfrentar sérias consequências. De acordo com Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), a medida ameaça um setor que investiu R$ 40 bilhões na última década, gerando empregos e promovendo desenvolvimento em regiões como o Nordeste. Segundo ele, “uma invasão de etanol americano sem tarifa pode destruir um setor que levou quase 50 anos para se consolidar”.
Representando a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Guilherme Rank sugeriu que o governo federal solicite prorrogação de 90 dias para a entrada em vigor das tarifas e elabore um plano emergencial para mercadorias já embarcadas, a fim de evitar grandes prejuízos. Ele também defendeu que a Lei de Reciprocidade só seja aplicada após esgotadas todas as tentativas de negociação até o prazo final.
Análises apresentadas por representantes do setor produtivo revelam que os impactos serão severos e desiguais. O suco de laranja, por exemplo, pode ter seus custos adicionais elevados de US$ 100 milhões para até US$ 500 milhões por ano, em um contexto de queda internacional de preços.
A carne bovina brasileira, atualmente a principal fornecedora dos EUA, pode perder espaço para concorrentes como a Austrália, que paga tarifa de apenas 10%. No café, o Brasil enfrentará desvantagem frente a países como Vietnã (20%) e Etiópia (10%). O mesmo vale para o etanol e o açúcar, setores em que o Brasil deve ser o mais penalizado entre os grandes exportadores globais.
Lupion defendeu uma atuação diplomática coordenada e suprapartidária. A FPA está formando um grupo técnico com especialistas em comércio internacional, como o ex-secretário do MDIC, Welber Barral, para estruturar uma resposta institucional. “Já estamos em articulação internacional com países como EUA, União Europeia, Argentina, Uruguai e Chile”, afirmou o parlamentar.
Durante o encontro, Welber Barral afirmou que as tarifas anunciadas por Trump fazem parte de uma estratégia agressiva com viés político e eleitoral, afetando não só o Brasil, mas também países como Vietnã, Mianmar, Laos e Canadá.
Barral destacou o risco de uma política tarifária global instável, com o plano conhecido como “Dia da Libertação”, que prevê tarifas-base de 10% com possíveis majorações de até 200%. Segundo ele, o Brasil precisa preparar ações estratégicas, inclusive por meio da OMC ou em instâncias jurídicas internacionais.
Diversos parlamentares da FPA enfatizaram a urgência de uma reação institucional. O deputado Alceu Moreira (MDB-RS) propôs a definição de interlocutores e uma estratégia de comunicação clara. Já o senador Jaime Bagattoli (PL-RO) recomendou a negociação como alternativa à retaliação.
O deputado Domingos Sávio (PL-MG) relacionou o cenário internacional à instabilidade política interna, enquanto o deputado General Girão (PL-RN) criticou a condução do governo federal: “Nossa economia piora a cada dia, e ficamos reféns de decisões que comprometem os interesses nacionais”.
Com a iminente entrada em vigor das tarifas norte-americanas, o setor produtivo brasileiro e o Congresso Nacional cobram do governo federal uma resposta rápida, coordenada e estratégica para proteger os interesses do país, preservar cadeias produtivas e garantir a continuidade das exportações em mercados fundamentais como os Estados Unidos.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias