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Bamin vence leilão de ferrovia e plano é investir R$ 14 bilhões

A Bahia Mineração (Bamin), que ontem venceu o leilão da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), planeja investir um total de R$ 14 bilhões no projeto integrado mina-ferrovia-porto no Estado da Bahia. O pacote engloba, além do trecho I da Fiol, de 537 km, uma mina de ferro, em Caetité, e um terminal portuário, em Ilhéus


Publicado em: 15/04/2021 às 16:00hs

Bamin vence leilão de ferrovia e plano é investir R$ 14 bilhões

Todos os recursos sairão do bolso do acionista, o grupo Eurasian Resources Group (ERG), que tem origem no Cazaquistão. A empresa não planeja nenhum financiamento local, segundo o presidente da mineradora no Brasil, Eduardo Ledsham.

A vitória da Bamin no leilão de ontem já era esperada. A empresa foi a única interessada no ativo e arrematou o contrato com o lance mínimo de R$ 32,7 milhões, que será pago ao governo federal. A empresa também terá que fazer pagamentos trimestrais de outorgas variáveis, equivalentes a 3,43% da receita operacional bruta da ferrovia.

O contrato, de 35 anos, prevê investimentos de R$ 3,3 bilhões. Desse total, cerca de R$ 1,6 bilhão deverá ser destinado à conclusão da via. A obra foi iniciada pela estatal Valec há dez anos, mas até hoje não foi finalizada. A execução encontra-se em cerca de 73%.

A construção deverá ser retomada ao fim de 2022, segundo Ledsham. "Esse avanço de 73% da obra não é linear. O primeiro passo será fazer uma avaliação completa da estrutura, depois contratar a obra", diz o presidente.

O plano é que a Fiol comece a operar até julho de 2025, juntamente com o terminal portuário que a Bamin está construindo em Ilhéus, no Porto Sul, para escoar a carga transportada na via. O terminal deverá exigir R$ 6 bilhões em investimentos. As obras iniciais começaram em meados do ano passado.

Toda essa infraestrutura de transporte irá viabilizar a aplicação de outros R$ 5 bilhões na mina Pedra de Ferro, que a Bamin opera em Caetité. A mina já está em operação, com produção reduzida de 1 milhão de toneladas de minério por ano. O plano é dobrar o volume em 2022, mas a capacidade total da mina -- que pode chegar a 18 milhões de toneladas por ano -- só virá após os investimentos, que serão feitos à medida que as obras da ferrovia e do porto também avancem.

Apesar dos ganhos econômicos, o projeto da Bamin tem sido alvo de diversos questionamentos ambientais, tanto pelo traçado da ferrovia e do porto, que atravessarão áreas de Mata Atlântica com alta preservação de biodiversidade, quanto pela mina, criticada por ter um potencial poluidor grande e por sua grande barragem de rejeitos.

Ledsham refuta as acusações, diz que todas as licenças ambientais foram recentemente renovadas por mais seis anos e que a empresa seguirá todas as exigências ambientais dos órgãos reguladores. Sobre a barragem, diz que em breve anunciará novas medidas para reforçar a segurança.

Em um primeiro momento, o minério de ferro da Bamin deverá ser a principal carga da Fiol, mas o plano é atrair outros tipos de produtos, principalmente a produção agrícola do Oeste baiano. A expectativa é que a mineração ocupe apenas 30% da capacidade final da malha.

Essa captura de novas cargas virá com a construção dos outros dois trechos da Fiol, que deverá chegar até Figueirópolis (TO) e se conectar com a Ferrovia Norte-Sul -- a concessão desses novos trechos, porém, ainda não tem data para sair do papel. Além disso, o Ministério de Infraestrutura pretende pavimentar a BR-030, rodovia que vem do interior do país até Caetité, e que poderá ajudar a trazer cargas agrícolas à via.

Questionado sobre o interesse em operar os outros dois trechos da Fiol, o presidente da Bamin diz que ainda é cedo para avaliar.

Com a Fiol, a Bamin faz sua estreia no setor de ferrovias no Brasil. O executivo, porém, afirma que a empresa tem capacidade técnica para assumir a operação. "Temos nos capacitado há muitos anos, possuímos profissionais na casa com competência comprovada", disse. O executivo também destacou que seu acionista, a ERG, já opera ferrovias na região do Cazaquistão.

A mineradora chegou a buscar parcerias com operadores, que não se concretizaram. Uma das tentativas frustradas se deu com os grupos chineses China Communication Construction Company (CCCC) e China Railway Group (Crec), que até fizeram visitas à região.

Porém, mesmo após vencer o leilão sozinha, a Bamin não descarta a possibilidade de atrair um parceiro ao projeto, tanto da ferrovia quanto da mina. Segundo Ledsham, há inclusive negociações em curso, mas sem previsão de serem concluídas. "Temos interessados, que não podemos revelar por acordos de confidencialidade. Mas não estamos correndo atrás de acelerar o processo. Temos tempo para que as negociações amadureçam", diz.

Fonte: Revista Ferroviária

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