Crédito Rural

Operações com juros livres movem bancos privados no segmento agro

A nova Lei do Agro, que completou um ano em abril, e o momento ímpar vivido pelo setor agropecuário brasileiro, com sucessivas safras recordes de grãos e fortes altas de preços das commodities, abriram novas oportunidades para a atuação dos bancos privados no segmento de crédito rural, com desempenhos que foram destaque nos balanços divulgados nos últimos dias


Publicado em: 07/05/2021 às 11:10hs

Operações com juros livres movem bancos privados no segmento agro

Muito além do Plano Safra, as carteiras de agronegócio de Itaú, Bradesco e Santander, as três maiores instituições privadas que atuam no ramo, têm sido sustentadas por operações com recursos livres, títulos do agronegócio e financiamentos a exportações, que atingem níveis históricos. Juntas, as operações rurais do trio crescem, em média, 20% ao ano e chegam a cerca de R$ 140 bilhões.

"Independentemente do Plano Safra, o agronegócio virou estratégico para grande parte dos bancos, e queremos aumentar nosso share", diz Roberto França, diretor de Agronegócios do Bradesco. Para ele, a alta dos preços dos insumos agrícolas, em virtude do dólar valorizado, e o forte ritmo de investimentos no campo deverão continuar a impulsionar a procura por crédito no decorrer do ano. "Certamente nosso portfólio vai crescer de 20% a 25%".

A carteira de agronegócios do Bradesco saltou de R$ 20 bilhões para R$ 33 bilhões em três anos. Os empréstimos para empresas rurais e produtores deverão alcançar R$ 70 bilhões em 2021, diz França, e a maior parte não é feita mais pelas linhas tradicionais do crédito rural. "Estamos ampliando [a carteira] com mais recursos próprios de tesouraria". O banco já movimenta R$ 12 bilhões com CPRs, e operações em dólar e com Notas de Crédito à Exportação (NCE) inflam o bolo.

No Itaú, é flagrante o reflexo positivo das flexibilizações feitas pela nova legislação nos títulos do agronegócio. A emissão de Cédulas de Produto Rural (CPRs) dobrou em um ano. Pedro Fernandes, diretor de Agronegócios do banco, afirma que esses papéis têm potencial para se tornarem o produto mais relevante para financiamento do setor nos próximos anos.

A permissão para emissão de CPRs em dólar e para produtos de primeira industrialização são determinantes para esse movimento. Em um ano de boa rentabilidade com as commodities, as agroindústrias precisaram de mais caixa para comprar os grãos e processá-los, e o Itaú conseguiu atender à demanda com esses títulos. "Como algumas categorias que podem operar o título ainda não decolaram, estamos otimistas".

O portfólio de financiamentos de empresas e produtores rurais do Itaú passou de R$ 38,6 bilhões, em março de 2020, para R$ 46,7 bilhões no mesmo mês deste ano. A meta é chegar a R$ 50 bilhões até o fim de 2021. "A CPR ficou mais inclusiva. Cerca de 80% das nossas operações são títulos do agro e comércio exterior, com notas de crédito e pré-pagamento", conta Fernandes.

No Santander a realidade é a mesma. Apenas 25% das operações do banco no segmento rural estão atreladas a recursos obrigatórios e às linhas de investimentos do BNDES, que nesta safra se esgotaram em poucos meses. A carteira do banco cresceu 30% nos últimos anos, em média, e chegou a R$ 25 bilhões, com grande peso de CPRs e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). "O avanço tem sido em linhas de recursos livres e no atendimento ao varejo", diz Carlos Aguiar, diretor de Agronegócios da instituição.

A expectativa de Aguiar para este ano é das mais positivas. "Existe uma liquidez monstruosa e o setor está bombando". Primeiro banco a estruturar os Créditos de Descarbonização (CBios) criados na política RenovaBio, o Santander também é o segundo maior no ranking de contratos futuros de commodities na B3.

Em tempos de ascensão dos negócios com recursos livres, a preocupação dos bancos privados continua a se concentrar nas exigibilidades do crédito rural. Para a safra 2021/22, 25% da média dos depósitos à vista deverão, obrigatoriamente, ser emprestados ao setor. O problema é que o volume de recursos depositados aumentou cerca de 20% nessas instituições, com as pessoas mais avessas a risco na pandemia. Com menos capilaridade que o Banco do Brasil, líder no segmento no país, os privados dificilmente cumprirão a exigência a partir de julho.

A maior dificuldade é o Pronaf (agricultura familiar). Os bancos têm aumentado os desembolsos diretos, mas a maior parte da aplicação ainda é por meio dos Depósitos Interfinanceiros (DIR) para cooperativas de crédito.

Com departamentos de TI sobrecarregados de demandas ligadas a Pix e open banking, nenhum banco privado começou a estruturar sistemas ou demonstrou interesse em operar os recursos da equalização federal. Para operar essa novidade da Lei do Agro, querem critérios mais claros para o acesso à subvenção e a perpetuação da medida.

Pedro Fernandes, do Itaú, conta que há outros complicadores para a próxima safra. O primeiro é o "desenquadramento" de produtores da agricultura familiar. Ao faturarem mais com a alta dos preços, muitos poderão passar ao Pronamp (médios produtores) caso o governo não ajuste a régua da receita para cima. O movimento pode diminuir ainda mais o público familiar, um empecilho a mais para aplicar todo o dinheiro. "Existe uma sobreoferta de recursos. Estamos conseguindo aplicar, mas sempre no limite", afirma.

Para melhorar a vazão, os executivos também defendem que os recursos obrigatórios possam ser usados para as operações de investimentos, que estão com demanda superaquecida. Mas o governo federal resiste.

Fonte: Agência UDOP de Notícias

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