Crédito Rural

Crédito rural sustentável registra queda no 1º trimestre do Plano Safra 2025/2026, alerta Agroicone

Recursos destinados a práticas agropecuárias com foco em sustentabilidade somam R$ 19 bilhões, refletindo ritmo mais lento na transição para sistemas produtivos de baixo carbono.


Publicado em: 06/11/2025 às 09:30hs

Crédito rural sustentável registra queda no 1º trimestre do Plano Safra 2025/2026, alerta Agroicone
Faturamento do crédito rural sustentável diminui no início da safra 2025/2026

O crédito rural com potencial sustentável apresentou queda no primeiro trimestre do Plano Safra 2025/2026, totalizando R$ 19 bilhões, aproximadamente R$ 5 bilhões a menos em relação ao mesmo período da safra anterior. A constatação é do boletim trimestral Crédito Rural em Jornada de Sustentabilidade, produzido pela consultoria Agroicone.

Pela primeira vez desde o lançamento do estudo, a proporção do crédito rural com foco em sustentabilidade recuou ligeiramente, passando de 22,8% para 22,6%. Segundo os pesquisadores Gustavo Lobo e Lauro Vicari, essa redução indica menos espaço para intervenções com objetivos sustentáveis, acendendo um alerta sobre a trajetória do financiamento climático na agropecuária.

Impactos das altas taxas de juros e custos de transação

O boletim aponta que a queda geral no crédito rural está associada a três fatores principais:

  • Custo elevado do capital devido à alta da taxa básica de juros.
  • Endividamento dos produtores, que limita a tomada de novos empréstimos.
  • Aumento dos custos de transação, com exigências maiores de garantias reais pelo setor financeiro.

Entre os produtores, os efeitos foram diferenciados:

  • No Pronaf, o crédito para custeio e investimento recuou 3,2%.
  • Para médios e grandes produtores, a redução chegou a 25,6%, evidenciando maior vulnerabilidade ao aumento das taxas de juros.
Programas RenovAgro e queda em produtos de manejo de solo

No primeiro trimestre da safra 2025/2026, o subprograma RenovAgro Plantio Direto liderou as contratações, substituindo o RenovAgro Manejo de Solos, enquanto o produto “Correção Intensiva de Solos” sofreu queda de 80%. Segundo Vicari, isso indica redução na incorporação de práticas conservacionistas, como manejo do solo e proteção de recursos naturais.

Entre os recursos destinados a investimento, R$ 2,1 bilhões foram aplicados em programas com finalidade sustentável, representando 39,6% do total de R$ 5,3 bilhões disponíveis para investimento. O RenovAgro concentrou R$ 1,3 bilhão, sendo destaque o Plantio Direto (R$ 426,2 mi) e Recuperação/Conversão (R$ 350,5 mi).

Diferenças entre Pronaf e demais produtores

A análise por grupo mostra cenários distintos:

  • Pronaf: aumento de crédito sustentável de R$ 1,58 bi para R$ 1,61 bi, crescimento de 1,8%, com aumento de 2 pontos percentuais no peso das linhas sustentáveis.
  • Demais produtores: queda de R$ 7,2 bi para R$ 3,6 bi, redução de 50% no crédito sustentável, refletindo o impacto do aumento das taxas de juros sobre investimentos.

Lobo destaca que a maior queda relativa ocorreu na pecuária (-27,2%), enquanto na agricultura a redução foi de 24,2%, indicando menor velocidade na transição para sistemas produtivos resilientes e de baixa emissão de carbono.

Distribuição por finalidade e produtos contratados

No período, o total de R$ 85 bilhões foi contratado para custeio e investimento, queda de R$ 24,6 bilhões (-22,5%) em relação à safra anterior. Entre os recursos sustentáveis:

  • Custeio: R$ 13,8 bilhões
  • Investimento: R$ 5,3 bilhões
  • Agricultura: R$ 17,4 bilhões
  • Pecuária: R$ 1,6 bilhão

Os produtos mais contratados foram:

  • Investimento: “Correção intensiva do solo” (R$ 1,5 bi), “Máquinas e implementos” (R$ 662,1 mi), “Pastagem” (R$ 596,4 mi)
  • Custeio: Soja (R$ 5,4 bi), Café (R$ 2,2 bi), Milho (R$ 2,2 bi)
Principais fontes de recursos e distribuição regional

As fontes mais utilizadas para crédito sustentável foram:

  • Obrigatórios: R$ 5,4 bi
  • Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) – Controlados – Subvenção Econômica: R$ 5,3 bi
  • Poupança Rural – Controlados – Subvenção Econômica: R$ 1,9 bi

Em relação à variação anual, destacam-se: LCA – Controlados – Subvenção Econômica (+12.943,8%), BNDES/Finame (-64,6%) e LCA – Taxa Livre (-62,4%).

Entre os estados, os maiores volumes em jornada de sustentabilidade foram:

  • Rio Grande do Sul – R$ 5,1 bilhões
  • Minas Gerais – R$ 2,5 bilhões
  • Paraná – R$ 2,2 bilhões
  • Espírito Santo – R$ 1,3 bilhão
  • São Paulo – R$ 1,3 bilhão
Conclusão e alerta para o setor

Segundo Lobo e Vicari, o início da safra 2025/2026 aponta ritmo mais lento na transição para sistemas produtivos sustentáveis, impactado pelo custo elevado do capital. Eles reforçam a importância de soluções de longo prazo e estáveis, especialmente em instrumentos de financiamento essenciais para a adaptação climática da agropecuária.

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias