Publicado em: 20/10/2025 às 18:20hs
O acesso ao crédito rural no Brasil vive o momento mais crítico desde o Plano Real, em 1995, segundo levantamento da Assessoria Econômica da Farsul. A análise indica que os recursos disponíveis estão diminuindo de forma acentuada, gerando impactos diretos na agricultura nacional.
No primeiro trimestre da safra 2025/2026 (julho a setembro), os valores destinados a custeio caíram 23% em relação ao período anterior, enquanto os recursos para investimentos registraram retração de 44%. No Rio Grande do Sul, a queda foi de 25% no custeio e 39% em investimentos.
O economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz, enfatiza que se trata de um fenômeno nacional: “Não é um problema isolado do Rio Grande do Sul. Estamos vivendo uma crise de crédito em todo o país, a maior da história”, alerta.
Apesar dos anúncios anuais do Plano Safra, que tradicionalmente são superiores aos anteriores, Luz explica que a diferença entre o valor prometido e o disponível agora é inédita. “Antes, o anúncio era maior que a realidade, mas os recursos liberados aumentavam. Hoje, estamos vendo uma queda real nos valores efetivamente liberados”, detalha.
A redução pode afetar a tecnologia empregada nas lavouras e até o tamanho das áreas cultivadas, impactando a produtividade e o planejamento da safra.
Outro fator preocupante é o aumento da inadimplência. Em julho de 2025, a taxa chegou a 5,14%, superando o recorde anterior de 3% registrado em 2017. A inadimplência com crédito controlado está em 1,86%, enquanto a de taxas de mercado alcançou 9,35%.
Segundo Luz, a tendência ainda é de alta, devido ao efeito defasado dos juros elevados da Selic sobre a economia. “O impacto das decisões do COPOM leva de 9 a 12 meses para se refletir na inadimplência. Portanto, o cenário ainda pode piorar antes de começar a melhorar”, explica.
O aumento da inadimplência também resultou em medidas mais rígidas do sistema financeiro, como o uso da alienação fiduciária para aprovar crédito. O diretor jurídico da Farsul, Nestor Hein, alerta os produtores sobre os riscos dessa modalidade.
“Embora não seja um instrumento ruim, a alienação fiduciária compromete diretamente o patrimônio do produtor. Recomendamos buscar alternativas, como hipoteca ou outras garantias, em vez de depender exclusivamente deste modelo”, orienta Hein.
Para Luz, a solução passa por ações efetivas do Governo Federal, que precisam incluir planos viáveis de crédito, enfrentamento da inadimplência e estímulo ao uso de seguro rural e Proagro, cujos retrocessos nos últimos anos geraram crise de confiança entre os produtores.
“É um momento sem precedentes. Todas as possibilidades estão sobre a mesa, e será necessário planejamento e medidas concretas para superar essa crise histórica no crédito rural”, conclui o economista.
Fonte: Portal do Agronegócio
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