Publicado em: 06/11/2025 às 16:30hs
Os pedidos de recuperação judicial no agronegócio aumentaram 32% no segundo trimestre de 2025, de acordo com dados da Serasa Experian. O crescimento reacende o debate sobre a utilização desse instrumento jurídico por produtores rurais e suas implicações para o crédito e a sustentabilidade das cadeias produtivas.
Especialistas destacam que, embora a alta esteja ligada a juros elevados e cenário internacional desafiador, o uso da recuperação judicial deve ser planejado e estratégico, evitando riscos à operação e à reputação da empresa.
Prevista na Lei nº 11.101/2005, a recuperação judicial permite que empresas em dificuldades financeiras renegociem dívidas, reorganizem suas finanças e mantenham suas atividades, preservando empregos, contratos e a função econômica do negócio.
Segundo o advogado Diogo Hemmer, sócio da Hemmer Advocacia, é essencial que o produtor compreenda que o processo não anula dívidas. Antes de ingressar com o pedido, recomenda-se um diagnóstico financeiro detalhado, incluindo levantamento de dívidas, prazos, garantias e fluxo de caixa.
“Muitos produtores buscam a recuperação sem controle sobre o endividamento. É crucial identificar se o problema é temporário ou de inviabilidade estrutural; apenas no primeiro caso a recuperação judicial é adequada”, explica Hemmer.
A Lei nº 14.112/2020, que reformou a legislação de falências e recuperações, ampliou o acesso dos produtores rurais ao instrumento, inclusive para pessoas físicas, desde que comprovem atividade há pelo menos dois anos.
Apesar do avanço, Hemmer alerta para possíveis distorções:
O uso indevido leva bancos e cooperativas a endurecerem condições de crédito, aumentando taxas, reduzindo prazos e exigindo garantias mais robustas. “O efeito perverso é que o crédito fica mais caro e restrito, penalizando produtores responsáveis”, destaca o especialista.
O aumento de pedidos reflete juros altos, custos de produção elevados e eventos climáticos que afetam o fluxo de caixa dos produtores. Segundo Hemmer, embora o agronegócio continue sólido, pequenos e médios produtores enfrentam desequilíbrios entre crédito e capacidade de pagamento.
Em muitos casos, a recuperação judicial tem sido o único caminho para suspender execuções e reorganizar dívidas, evidenciando a falta de alternativas extrajudiciais eficazes.
Especialistas reforçam que é essencial avaliar alternativas antes da via judicial. Quanto mais cedo o produtor buscar assessoria jurídica e financeira, maiores as chances de um plano de reestruturação bem-sucedido.
“O agronegócio continua forte e competitivo, mas precisa de segurança jurídica e previsibilidade. A recuperação judicial deve ser usada como instrumento de reestruturação responsável, não como mecanismo de atraso de obrigações”, conclui Hemmer.
Fonte: Portal do Agronegócio
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