Publicado em: 09/12/2022 às 15:50hs
Investir em treinamento, com cursos de curta duração, combinado a assistência técnica, com a visita de profissionais à propriedade para oferecer orientação, resulta em incrementos relevantes na restauração de pastagens e na produtividade entre pequenos e médios produtores rurais. Mas investir apenas em treinamento, sem o oferecimento de assistência técnica, não gera efeito significativo na implantação de práticas de manejo sustentáveis entre pequenos produtores. A conclusão é de um levantamento do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio), que avaliou o impacto de cursos de curta duração e da assistência técnica oferecidos pelo Projeto ABC Cerrado, iniciativa do governo federal que conta com US$ 23 milhões para extensão rural.
O novo levantamento mostra que oferecer treinamento de maneira isolada surte efeito apenas para produtores de maior porte, cujas propriedades têm mais de 100 hectares. Entre grandes produtores, o treinamento quase dobrou a proporção de pastagens restauradas, que ajudam a melhorar a produtividade da pecuária e a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. A probabilidade da implementação de rotação de pastagens, uma das principais práticas do manejo sustentável, aumentou em 14% apenas com treinamentos. Isso acontece porque produtores maiores possuem mais recursos próprios e têm mais acesso a crédito para implantar novas tecnologias. Além disso, eles tendem a ser mais escolarizados e a contar com maior capital humano para compreender e se beneficiar do treinamento, sem necessitar de assistência técnica para isso.
Como o custo de implementação por produtor que recebe assistência é cerca de cinco vezes maior do que o custo de apenas treiná-lo, faz sentido que a expansão do projeto ofereça o treinamento para todos os perfis, mas focalize a assistência técnica para produtores de menor porte, que têm necessidades específicas. “Restrições de acesso ao crédito e menor escolaridade podem gerar dificuldades para que os produtores rurais implementem o conhecimento disponibilizado em treinamentos”, afirma Priscila Souza, coordenadora de Avaliação de Política Pública na área de Instrumentos Financeiros no CPI Brasil. “É preciso garantir que a extensão rural possibilite a assimilação do conteúdo, assim como viabilizar a disponibilidade de recursos para a implementação das práticas ensinadas.”
Mais da metade da área de pastagem no Brasil possui algum nível de degradação. A promoção de práticas sustentáveis é crucial para recuperá-las e enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas na agropecuária. A restauração de pastagens degradadas é um conjunto de práticas de manejo para melhorar a qualidade do solo e diminuir o risco de pragas, o que aumenta a produtividade da pecuária e reduz a necessidade de aumentar a produção de forma extensiva. Isso diminui a pressão por desmatamento e a emissão de gases causadores do efeito estufa. Encontrar mecanismos para ampliar a proporção de pastagens restauradas é fundamental para reduzir significativamente impactos ambientais em um país em que a perda de vegetação nativa é a principal responsável pela emissão de gases de efeito estufa.
A meta do Plano ABC+, principal iniciativa governamental para reduzir emissões na agropecuária brasileira para a década de 2021 a 2030, é recuperar 30 milhões de hectares de pastagens no país. Essa recuperação tem o potencial de reduzir as emissões do Brasil em 113,70 milhões de toneladas de carbono equivalente. Os treinamentos do Projeto ABC Cerrado consistiam em cursos de curta duração, ministrados por instrutores treinados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), com aulas expositivas para grupos de produtores rurais a respeito de práticas relacionadas à restauração de pastagens degradadas, ao sistema de plantio direto (com mínimo revolvimento dos solos), integração lavoura-pecuária-floresta e cultivo de florestas. Já a assistência técnica é baseada em visitas mensais de técnicos às propriedades, que elaboram um plano de ação customizado para implementação dessas práticas, acompanhando e auxiliando o produtor durante 20 meses.
Fonte: O Mundo que Queremos
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