Suíno

Uso de cobre como melhorador de desempenho em suínos: como eleger a melhor fonte?

Devido à alta dos custos de produção a indústria está em constante busca pela redução de insumos para produção de proteína de origem animal. Diante deste cenário, torna-se relevante entender o potencial de diferentes estratégias que visam melhorar a eficiência alimentar


Publicado em: 03/12/2021 às 08:30hs

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Assim, a suplementação de dietas de suínos e aves com Cobre se mostra como alternativa interessante. Os mecanismos pelos quais o Cobre exerce efeito positivo sobre a conversão alimentar quando suplementado acima dos níveis de requerimento (níveis ‘supranutricionais’) não são totalmente ainda reconhecidos. Tradicionalmente, seus benefícios estão atribuídos ao efeito antibacteriano, isso porque, pelo uso de elevadas concentrações de um metal pesado se torna potencialmente inibidor de diversos microrganismos no ambiente gastrointestinal. Entretanto, estudos recentes também sugerem outras formas de ação (Figura 1). Outro ponto que deve ser levado em consideração sobre a avaliação da efetividade da suplementação do Cobre é a influência direta da fonte de Cobre e respectiva biodisponibilidade sobre os resultados de desempenho.

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EFEITO ANTIBACTERIANO.

Com o objetivo de manipular a microflora intestinal, seu uso se tornou habitual nas dietas de aves e suínos em níveis ‘supranutricionais’ para promover efeito antimicrobiano, melhorando assim o desempenho dos animais. Vários estudos apontam mudanças nas características das populações bacterianas no intestino de suínos e seus dejetos. Um pesquisador avaliou o efeito de sulfato de Cobre na microbiota gastrointestinal de leitões. A suplementação com 175ppm de Cobre resultou principalmente na inibição de coliformes no intestino. Segundo outro estudo, por meio da regulação intestinal da microflora, o número de linfócitos associados à área das vilosidades intestinais de frangos foi reduzido, indicando menor desafio imune de aves suplementadas com altos níveis de Cobre.

EFEITO SISTÊMICO

Ao ser absorvido no intestino, o Cobre segue para a corrente sanguínea, podendo alcançar uma série de tecidos com influência sobre o crescimento do animal. Por exemplo, níveis elevados de Cobre podem induzir a uma elevação na concentração de Cobre no cérebro, podendo afetar potencialmente a secreção de substâncias que resultam melhor desempenho. Outro estudioso injetou Cobre via intravenosa simulando a quantidade de Cobre sérico atingido em suínos alimentados com sulfato em doses ‘supranutricionais’. O Cobre não foi introduzido via oral, portanto, não teve contato com o meio ambiente gastrointestinal, isolando o efeito antibacteriano. Suínos injetados com Cobre apresentaram maiores níveis hepáticos, séricos e intracerebrais de Cobre, além de melhor ganho de peso e conversão alimentar. Neste mesmo estudo, animais que receberam Cobre apresentaram aumento da atividade mitogênica - capacidade de multiplicação celular - e aumento relativo do músculo longissimus. O mesmo autor, em 2014, utilizando fontes distintas de Cu avaliou a concentração disponível no fígado de leitões após suplementação oral encontrando importantes diferenças entre as fontes caracterizando diferença de biodisponibilidade e absorção de cada fonte (Gráfico 1). Em estudo de 2019, foi realizada a medição da expressão gênica da grelina e também do hormônio do crescimento, indicando uma importante participação do Cobre na expressão destas duas substâncias no ganho de peso dos animais.

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VIA ENTERO-HEPATO-BILIAR

Esta seria a via ou mecanismo de ação com importância significativa para o efeito local intestinal. Conceitual[1]mente, o Cobre pode ser absorvido no intestino, atingir o sangue, o fígado e ser eliminado via biliar. Ao atingir o intestino novamente, poderia desempenhar uma função antibacteriana local expressiva. A possível importância da via entero-hepato-biliar para o efeito do Cobre como melhorador da conversão alimentar.

INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FONTES DE COBRE SOBRE O DESEMPENHO

Os microminerais, como o Cobre, podem interagir com um universo de substâncias (fibras, fitatos, outros minerais, proteínas, etc.) principalmente sob baixo pH (estômago), formando complexos insolúveis menos absorvíveis ou constituindo complexos solúveis, mas de alto peso molecular, que reduzem a absorção intestinal e/ou sua atividade antimicrobiana. Embora a maior parte dos estudos publicados até o momento tenha avaliado o potencial do Cobre utilizando fontes inorgânicas mais passíveis à ocorrência de interações e reconhecidamente menos biodisponíveis, hoje são conhecidos os diferenciais da fonte orgânica de Cobre. Mesmo quando suplementado em baixos níveis o Cobre fornecido apresenta melhores resultados de desempenho (Gráficos 2 e 3). 

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Diante disso, devemos buscar equilíbrio entre os benefícios do uso do Cobre como promotor de crescimento e os efeitos negativos da oferta de elevadas concentrações junto as dietas. Por isso, é importante conhecer as características particulares de cada fonte de mineral de forma a priorizar a utilização daquelas que minimizem os efeitos negativos e exacerbem benefícios (Tabela 1). 

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Neste contexto, uma questão relevante que surge na nutrição animal é entender o valor potencial de uma fonte mineral em relação a outra. O conceito básico de bioeficácia relativa aponta que uma fonte mineral de menor biodisponibilidade pode substituir uma outra fonte de maior biodisponibilidade se suplementada em maior quantidade. A taxa de substituição entre eles depende da bioeficácia da molécula em relação à outra. Por exemplo, se uma fonte mineral é três vezes menos biodisponível que a outra, podemos triplicar a dose da fonte menos biodisponível e obter um resultado semelhante às duas fontes minerais. Este princípio pode ser aplicado em diversas situações, no entanto é importante lembrar que a biodisponibilidade de um mineral é tradicionalmente calculada com base em parâmetros de pequena relevância comercial (por exemplo, quantidade de Cu no Fígado, concentração de Zn na Tíbia, etc.) - que ignoram os diversos efeitos destes minerais no trato gastrintestinal e que podem afetar parâmetros de desempenho. O estímulo da produção de grelina pelo Cobre no estômago e consequente aumento da produção de hormônio de crescimento é um outro exemplo. Isso porque as alterações promovidas pelo Cobre na microbiota intestinal, dentre outros efeitos já comprovados - principalmente em suínos -, não seriam capturados nos cálculos de biodisponibilidade relativa realizados a partir da deposição de Cobre em tecidos (Gráficos 04 e 05).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os mecanismos de ação de níveis supranutricionais de Cobre confirmam a viablidade de seu uso para melhorar a eficiência alimentar. Entretanto, a efetividade desta estratégia depende da fonte e dose utilizada para que possamos ter as ações antimicrobianas locais como sistêmicas, sem que tenhamos o malefício da excessiva eliminação, ou interação com demais minerais prejudicando a absorção em geral e contaminação ambiental.

Débora Reolon é Médica Veterinária, Mestre em Ciência Animal, Doutoranda em Nutrição de Suínos e Gerente Sênior de Serviços Técnicos LAS NOVUS®

Fonte: Giracom - Comunicação e Marketing

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