Nutrição

Manejo de “Feedback” para melhoria da imunidade do plantel e da eficiência produtiva.

Em um ambiente cada vez mais competitivo como tem ocorrido na suinocultura industrial, o uso de alternativas para se atingir melhores índices para eficiência produtiva se torna crucial no dia-a-dia de uma granja.


Publicado em: 26/03/2015 às 09:10hs

Manejo de “Feedback” para melhoria da imunidade do plantel e da eficiência produtiva.

Hoje, com melhores instalações, associadas à uma nutrição direcionada e ao melhoramento genético, as fêmeas suínas possuem maior capacidade de produção de leitões e de leite. No entanto, a redução do índice de “mortalidade de leitão pré-desmame” não vem progredindo na mesma proporção. Dessa forma, evitar a perda dos leitões recém nascidos representa uma área de oportunidade já que o número de leitões desmamados se encontra, de uma forma geral, aquém do atual potencial produtivo das fêmeas.

Seguindo o motivo “esmagamento”, as doenças diarreicas estão em segundo lugar na lista de causas determinantes de morte de leitões na maternidade. As diarreias provocam ainda, elevada perda de peso, desidratação, queda na imunidade e diminuição considerável do desempenho dos leitões acometidos ao longo da vida. Vários fatores determinam a presença de microrganismos causadores de diarreia dos leitões na maternidade, como por exemplo a deficiência na limpeza e desinfecção das instalações, falhas no programa de vacinação e baixa imunidade de marrãs. Nos casos em que as marrãs são trazidas ao rebanho de fontes externas, esta baixa imunidade se torna ainda mais agravante.

Por esta razão, o manejo de Feedback (pré-imunização) é uma alternativa acessível e de baixo custo que deveria fazer parte das atividades rotineiras das granjas na busca da eficiência produtiva. Este manejo visa complementar os programas de vacinação, aumentando a imunidade de plantel, especialmente das marrãs, contra patógenos específicos da granja e que geralmente não estão presentes nas vacinas comerciais.

O manejo de Feedback consiste na exposição controlada das fêmeas ao material infeccioso. A forma mais utilizada, pela praticidade e baixa demanda de utensílios e de mão de obra, é a pré-imunização através da exposição a fezes de fêmeas e/ou de leitões extraídas das próprias salas de maternidade. No entanto, é possível utilizar outros materiais como placentas, fetos mumificados e intestino de leitões mortos por esmagamento ou leitões de baixa viabilidade. Estes materiais biológicos representam uma fonte concentrada de microrganismos específicos da granja.

Quando se considera o uso de placentas e fetos mumificados deve-se ter cautela, já que estes conteúdos apresentam um risco maior de disseminação de doenças reprodutivas, principalmente quando há a presença de patógenos ativos na propriedade. Neste caso, deve-se enviar o material para diagnóstico prévio, para se certificar de que os patógenos não estão presentes em doses suficientemente capazes de provocar o aparecimento de surtos no plantel, ocasionando impacto negativo na produtividade.

Já o uso de material intestinal de leitões, ou de fezes, tanto de fêmeas como de leitões na maternidade, representa um menor risco, sendo mais indicados para o manejo de feedback. Algumas granjas possuem estrutura adequada e optam por coletar conteúdo intestinal, com posterior trituração, processamento e filtragem deste material biológico, sendo assim borrifados nos comedouros das fêmeas pertencentes ao próximo lote a parir. Outras propriedades preferem congelar este material, formando cubos de gelos que são fornecidos regularmente às marrãs na recria para que elas sejam expostas ao material infeccioso antes de entrarem na linha de inseminação, desencadeando assim imunidade contra possíveis patógenos que estarão circulando nas instalações da maternidade (Vansickle, 2012).

A prática de Feedback é muito difundida na prevenção e/ou controle de surtos de diarreia em vários países acometidos por doenças graves como PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína), TGE (Gastroenterite Transmissível dos Suínos) e PED (Diarreia Epidêmica Suína). Após o recente e alarmante surto de PED, responsável por perdas elevadas de leitões na maternidade (até 100% de mortalidade em alguns casos), o manejo de Feedback passou a ser a ferramenta de escolha para redução de sintomas clínicos nas granjas acometidas. O sucesso desta prática foi reportado mesmo antes de haver vacinas disponíveis contra o vírus PED no mercado (Schwartz K, et al. 2013).

No Brasil, o manejo de Feedback atualmente não é muito difundido ou utilizado no campo, pois há uma preocupação por parte dos produtores, de que a exposição a materiais contaminados possa disseminar outras doenças, principalmente as reprodutivas, que causam aumento do número de natimortos e mumificados e também aborto no rebanho. No entanto, há como evitar este problema testando os animais regularmente quanto aos patógenos que circulam na granja normalmente.

Há outros riscos relacionados ao uso de Feedback. O manejo não é efetivo contra surtos de disenteria causada por Clostridium perfringens tipo C podendo piorar a situação. Além disso, o manejo não deve ser utilizado em rebanhos que são endêmicos para disenterias suínas, ou se for usado, deve ser em menor escala, com bastante cuidado e incluindo assim, medicação contra disenterias no protocolo. Também não deve ser utilizado quando há casos clínicos de outras doenças (ex: Erisipelas) no rebanho para não contribuir com a disseminação das mesmas (The Pig Site).

Estudos recentes citam o manejo de Feedback como a medida mais viável no controle de surtos de Rotavírus na maternidade (Armbrecht, 2010). A proteção cruzada entre os grupos de Rotavírus A, B e C ainda não foi totalmente comprovada pela comunidade científica. A produção em laboratório dos grupos de Rotavírus B e C em larga escala para a confecção de vacina ainda é uma limitação devido à dificuldade de crescimento in vitro destes microrganismos. Sendo assim, o manejo de Feedback tem demonstrado ser um eficiente método de controle de surtos determinando a redução de sintomas clínicos de diarreia nos leitões, e também na de prevenção de diarreia nos próximos lotes.

Razões para implementação do manejo de Feedback na sua granja

O Feedback é fornecido por duas razões:

1) Para marrãs: com intuito de protegê-las contra doenças reprodutivas e contra futuros surtos de diarreia em suas primeiras leitegadas;

Esta pratica tem sido indicada como manejo essencial na fase de preparação de marrãs para melhorar o desempenho reprodutivo. O manejo de Feedback se torna especialmente importante no processo de aclimatização associado aos protocolos de vacinação em granjas que recebem marrãs de reposição de fontes externas,

2) Para fêmeas gestantes: para estimular a produção de colostro com maior quantidade de anticorpos, protegendo os leitões contra agentes causadores de diarreia neonatais.

Como dito anteriormente, a exposição das fêmeas aos patógenos circulantes na granja pode se dar por duas maneiras, através do uso de programas de vacinação e/ou da implementação de protocolos de Feedback. Ambas práticas desencadeiam a resposta imune das fêmeas garantindo a proteção dos leitões através da ingestão de colostro. Esta imunidade especifica é, sobretudo importante, pois pesquisas que buscam a comprovação da proteção cruzada entre patógenos são limitadas.

De acordo com Swine Vet Center, 2012, alguns aspectos devem ser considerados ao se desenvolver um plano de Feedback:

- O material biológico usado para determinada exposição deve ser fresco, geralmente coletado pela manhã e utilizado imediatamente, ou até no máximo no fim da tarde. A exposição do rebanho deve ocorrer em frequência suficiente para se assegurar a resposta imune adequada. Deve-se fornecer cerca de pelo menos seis exposições consecutivas até quinze dias antes do parto, em intervalo de no máximo uma semana.

- O momento da exposição também é um ponto chave para o sucesso deste manejo. Fêmeas expostas ao material biológico muito próximas ao parto, nos últimos quinze dias, vão disseminar patógenos dentro das gaiolas da maternidade em quantidades muito maiores do que o esperado, podendo causar doenças nos leitões recém nascidos. Já para as marrãs, é necessário o desenvolvimento de um programa de imunização/aclimatização antes da primeira cobertura, seguindo com exposições durante a gestação junto ao resto do plantel.

- Outro ponto importante para a redução da incidência de diarreia neonatal, é assegurar a ingestão adequada de colostro nas primeiras horas após o parto. Um grande esforço é colocado no aumento da qualidade de colostro através do estimulo da resposta imune das fêmeas, mas a redução da incidência de doenças somente será alcançada quando se coloca foco na adequada ingestão de colostro. Práticas que incluem a secagem e aquecimento dos leitões recém-nascidos, assim como a promoção do manejo de aleitamento parcelado, são importantes para assegurar que todos os leitões tenham ingerido quantidades adequadas de colostro.

- E por último, a sanitização do ambiente na maternidade também contribui na redução de diarreia neonatal. Uma vistoria da lavagem e desinfecção das gaiolas da maternidade é determinante para medir a eliminação da contaminação ambiental. Além disso, é extremamente recomendado a raspagem diária das áreas das gaiolas onde se acumulam fezes das fêmeas antes do parto. Esta limpeza deve continuar até aproximadamente dois ou três dias após o parto para reduzir a carga de patógenos no ambiente.

Feedback Passo a Passo:

Para fêmeas gestantes:

- Com o auxílio de papel toalha ou papel higiênico, coletar o conteúdo da diarreia dos leitões nas gaiolas da maternidade e escamoteadores, esfregando o papel sobre as áreas de maior acúmulo de fezes, ou gentilmente apertando o abdômen de leitões que apresentam quadros graves de diarreia para a coleta de material intestinal expelido do leitão.

- Colocar o material coletado dentro de um balde e cobrir com água (de preferência sem cloro) para a diluição do material infeccioso.

- Adicionar um pouco de ração (1/3 do balde) para ajudar na palatabilidade.

- Identificar todos os lotes de fêmeas que estejam entre 50 e 90 dias de gestação.

- Vestindo uma luva plástica, forneça uma mão cheia do material preparado para cada fêmea, de preferência minutos antes ou logo depois do fornecimento de ração, momento em que as fêmeas estão famintas e tendem a ingerir o conteúdo com mais facilidade. Em caso de gestação em gaiolas, é importante se certificar de que não há água nos comedouros, para que o material de Feedback não se espalhe assim, para outros lotes de fêmeas que estejam em períodos críticos, ou seja, antes de 50 e depois dos 90 dias de gestação.

- Repita o manejo uma vez por semana, fornecendo o material preparado somente para as fêmeas que estiverem entre 50 e 90 dias de gestação. Respeitar este período é muito importante para evitar efeitos adversos à gestação.

Para as marrãs na área de recepção/adaptação e na recria:

- Com o uso de uma pá, raspar fezes das gaiolas de maternidade de marrãs e porcas recém-paridas (um ou dois dias após o parto) ou de qualquer outra fêmea da qual a leitegada apresente sinais de diarreia

- Colocar o material coletado dentro de um balde e levar imediatamente para a área de recria/preparação de marrãs. Não armazenar o conteúdo.

- Despejar todo o material coletado nas baias da recria para os lotes de fêmea entre 150 dias de idade até no máximo quinze dias antes da primeira cobertura. A quantidade de material fornecido vai depender da disponibilidade, sendo geralmente um balde para cada baia. Caso a quantidade de conteúdo seja limitada, divida a porção coletada em frações fornecendo homogeneamente entre as baias.

- No caso de instalações de piso vazado, prefira despejar o material coletado diretamente nos cochos, aproveitando o momento de fornecimento de ração para estimular a ingestão do conteúdo de Feedback mais facilmente.

- Repetir este manejo por uma ou duas vezes por semana de acordo com a disponibilidade de mão-de-obra, como parte das atividades rotineiras para incremento da imunidade do plantel.

- Ainda para permitir uma melhor adaptação e preparação do sistema imune das marrãs, principalmente daquelas trazidas de fontes externas, é recomendando o alojamento de fêmeas descarte saudáveis nos lotes de marrãs desde 150 a 170 dias até 14 dias antes do parto para promover a estimulação do sistema imune das marrãs contra os microrganismos presentes em fêmeas já adaptadas à granja.

Considerações Finais:

A qualidade do colostro pode ser melhorada através de programas de vacinação apropriados ou com o uso do manejo de Feedback. Este manejo consiste na exposição das fêmeas a material infeccioso das salas de maternidade, geralmente fezes, fornecido cuidadosamente às marras antes da cobertura, assim como para as marrãs e porcas gestantes, visando a estimulação de imunidade específica contra patógenos da granja.

Além do incremento da qualidade do colostro através do fornecimento de Feedback às fêmeas, deve-se otimizar a imunidade dos leitões através da ingestão de colostro para evitar a diarreia neonatal. O recebimento de colostro da própria mãe é essencial para que os leitões desenvolvam seu próprio sistema imune e estejam aptos a ativamente se defenderem de patógenos.

Complementando as práticas de imunização, boa higiene e manejo do microambiente dos leitões nas baias de maternidade são essenciais para o sucesso da prevenção de diarreia. Os melhores programas de vacinação e manejo do colostro podem não funcionar quando leitegadas nascem em ambientes sujos ou úmidos.

Embora o foco principal seja a prevenção, podem haver falhas de manejo causando surtos de diarreia na maternidade. Caso o surto ocorra, inúmeras opções terapêuticas estão disponíveis. Desta forma, é importante primeiro determinar o agente patogênico que causou a diarreia, uma vez que lidamos com diarreias bacterianas, virais e por protozoários (coccídeos) que exigem diferentes abordagens de tratamento.

O envolvimento precoce do seu veterinário no caso de surtos de diarreia neonatal é essencial para que os materiais adequados sejam coletados para a confirmação laboratorial do problema. Consulte seu veterinário para avaliação da qualidade sanitária do plantel e sobre a possibilidade do uso do manejo de Feedback na sua granja.

Disclaimer:

Giordana Costa - Suporte Técnico da Topigs Norsvin
Médica Veterinária pela Universidade Federal de Viçosa (MG) e mestrado em Medicina Veterinária de Populações pela University of Minnesota.
www.topigsnorsvin.com

Fonte: Nanquim Comunicação

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