Publicado em: 27/04/2021 às 09:40hs
Para isso, são fundamentais medidas como o monitoramento constante do rebanho por meio de teste sorológico semestral para o diagnóstico da doença e a separação dos animais doentes. Essas são algumas conclusões de mais de 25 anos de pesquisa da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) e que foram reunidas no documento Orientações de controle da artrite encefalite caprina em rebanhos leiteiros: conviver mantendo a produção destinado a criatórios de diferentes portes e níveis de infraestrutura e que municia o produtor com medidas preventivas e de controle da doença.
A patologia é incurável e de alta prevalência em rebanhos leiteiros nacionais e ocasiona importantes perdas econômicas, causando diminuição da produção e da qualidade do leite. A novidade é que o conjunto de práticas recomendados pelos pesquisadores da Embrapa permite a convivência e manutenção da produção leiteira em rebanhos nos quais há animais diagnosticados com a artrite encefalite caprina (CAE).
De acordo com o pesquisador Rizaldo Pinheiro, anteriormente, a maneira de controlar a enfermidade nos rebanhos era abater os animais cujos resultados dos testes fossem positivos. “Esse procedimento foi indicado na consultoria feita pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Aurora Gouveia, em 1994, baseado principalmente na literatura europeia. Hoje, vale o que diz a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de setembro de 2013, que determina notificação mensal de qualquer caso confirmado da doença”, explica.
A enfermidade é crônica e seus sintomas aparecem nos animais mais velhos, que geralmente desenvolvem artrite, mastite ou emagrecimento progressivo. Um animal contaminado pode disseminar rapidamente a doença por todo o rebanho. Os maiores impactos econômicos da CAE são a diminuição do tempo de vida produtiva dos animais, redução da produção leiteira e do período de lactação. Ela também promove maior predisposição às infecções bacterianas.
Em função da doença, ocorre a redução dos níveis de gordura, lactose, proteína e sólidos totais do leite das cabras infectadas, o que afeta a produção de queijo e leite. As perdas indiretas também influenciam economicamente o sistema de produção, entre as principais estão a desvalorização do rebanho, a necessidade de repor os animais que desenvolvem os sintomas, despesas com o controle e tratamento, além das barreiras comerciais para matrizes, reprodutores, sêmen e embriões.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Lucia Sider, os testes utilizados oficialmente para diagnóstico da doença, IDGA e ELISA, são sorológicos e dependem de resposta imunológica dos animais, isso impossibilita a detecção precoce da enfermidade. O outro teste, Western blot, é mais sensível, mas também sorológico, o que não permite uma identificação precoce do vírus no animal. “Queremos desenvolver o PCR quantitativo (qPCR), também conhecido como PCR em tempo real. Além de diagnóstico qualitativo, o qPCR permite quantificar a carga viral e é muito útil nos estudos de patogenia e transmissão e, portanto, do desenvolvimento de insumos para restringir a transmissão”, afirma.
De acordo com Pinheiro, a reação dos produtores ao receberem diagnóstico de animais com CAE no rebanho varia muito. “Alguns descartam os animais positivos, outros não fazem nada e um número pequeno separa os positivos dos negativos”. O médico veterinário Roberto Bezerra, que atua na região do Cariri Paraibano, afirma que a maioria dos criadores não tem condições de testar os rebanhos em relação à CAE, mas quando a doença é diagnosticada de forma clínica, principalmente quando apresentam “junta inchada”, a decisão depende do nível de produtividade do animal. “Se for um animal produtivo ele é mantido no rebanho enquanto continuar assim, alguns produtores optam por vendê-lo, o que infelizmente acaba ajudando a disseminar a doença,” relata.
As orientações da Embrapa são para criadores de caprinos leiteiros e variam segundo o manejo e o grau de tecnificação da propriedade (veja quadro). Os pesquisadores afirmam que com um manejo geral adequado, envolvendo cuidados nutricionais, sanitários, reprodutivos e descarte orientado, o rebanho pode continuar produtivo mesmo com a presença da CAE. No entanto, haverá perdas na produção e na qualidade do leite. O descarte dos animais infectados não é aconselhável, o recomendado é a adoção de práticas para reduzir a disseminação da doença no grupo e para retardar ou minimizar os sinais clínicos. Recomenda-se o descarte quando os animais já apresentam “manqueira”, emagrecimento profundo e letargia, grande comprometimento da glândula mamária, sintomas de dor, entre outros, como forma de evitar o seu sofrimento.
A implantação de um programa de controle da CAE exige algumas medidas caras e trabalhosas, então cabe ao criador avaliar o custo-benefício de acordo com a realidade do seu rebanho. As medidas estão resumidas abaixo e podem ser acessadas na íntegra no documento que está disponível no Portal da Embrapa.
Criatórios com produção de leite intensiva com ordenha mecânica:
Criatórios com produção semi-intensiva de leite e ordenha manual:
Criatórios com produção de leite intensiva com ordenha mecânica e com produção de leite semi-intensiva com ordenha manual:
Fonte: Embrapa Caprinos e Ovinos
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