Publicado em: 04/11/2025 às 10:40hs
O mercado de leite segue em trajetória de desvalorização no Brasil. De acordo com levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o preço do leite cru pago ao produtor caiu 4,2% em setembro em relação a agosto, com a “Média Brasil” atingindo R$ 2,4410 por litro.
Na comparação com setembro de 2024, o recuo é de 19% em termos reais (deflacionado pelo IPCA). Essa é a sexta queda consecutiva no campo, e as projeções indicam que o movimento de baixa deve continuar até o fim do ano, diante de um mercado interno amplamente abastecido.
O aumento da produção nacional de leite em 2025 tem sido sustentado por investimentos realizados em 2024, quando as margens eram mais favoráveis. A sazonalidade da primavera e do verão, com melhoria das pastagens, também impulsiona a oferta.
O ICAP-L (Índice de Captação de Leite) registrou alta de 5,8% de agosto para setembro e acumula crescimento de 12,2% no ano, evidenciando forte expansão na produção brasileira.
A disponibilidade total de leite foi reforçada pelo avanço das importações, que aumentaram 20% em setembro, totalizando 198,1 milhões de litros em equivalente leite. Desse volume, 80% correspondem a leite em pó.
Apesar de um crescimento de 11% nas exportações no mês, o mercado interno segue excedente em oferta. De janeiro a setembro, as importações somaram 1,65 bilhão de litros equivalentes, queda de 4,8% frente a 2024, mas ainda consideradas altas pelo setor. Já as exportações recuaram 36,7% no mesmo período, totalizando 52,9 milhões de litros.
A saturação do mercado tem provocado compressão das margens tanto para produtores quanto para indústrias. A produção segue elevada, enquanto o consumo interno não cresce no mesmo ritmo, resultando em estoques altos e queda nos preços dos derivados.
Segundo o Cepea, em setembro, o leite UHT, o queijo muçarela e o leite em pó registraram quedas de 2,87%, 2,08% e 1,66%, respectivamente, no atacado paulista.
Mesmo com leve redução de 0,9% no Custo Operacional Efetivo (COE) em setembro, o recuo não foi suficiente para compensar a queda nas cotações do leite. O aumento do preço dos grãos também afetou o poder de compra dos pecuaristas.
Em setembro, foram necessários 26,5 litros de leite para comprar um saco de 60 kg de milho, alta de 5,4% em relação a agosto. Embora o índice esteja ligeiramente abaixo da média de 12 meses (27,5 litros), o cenário indica perda de rentabilidade e maior cautela nos investimentos por parte dos produtores.
As sucessivas quedas nos preços podem gerar desaceleração gradual na produção, mas o início da safra das águas — especialmente no Sudeste e Centro-Oeste — deve compensar parte desse efeito. Assim, o volume tende a seguir em alta, mas com crescimento mais moderado.
O Cepea aponta que esse movimento pode abrir espaço para estabilização das cotações em dezembro, quando as indústrias iniciam o planejamento de abastecimento para 2026. No entanto, uma recuperação consistente dos preços só é esperada a partir do segundo bimestre de 2026, com a redução da oferta no Sul e possível reequilíbrio do mercado.
Fonte: Portal do Agronegócio
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