Publicado em: 23/07/2021 às 13:20hs
Um dos fatores que mais influencia no desenvolvimento e propagação dos carrapatos é o clima, tão diverso no Brasil. Com as variadas temperaturas e pressões, a presença do parasita ocorre em tempo e intensidade diferentes em cada uma delas. Durante o inverno, período em que as infestações costumam ser menos drásticas, o produtor deve focar no planejamento e aproveitar para se preparar para as próximas estações, em que a propagação da praga aumenta.
Segundo Lucas von Zuben, biólogo e CEO da Decoy Smart Control, desenvolvedora de soluções biológicas para controle de pragas, o pecuarista não deve subestimar as épocas mais frias, pois as primeiras gerações de carrapatos podem surgir nesses períodos. “É fundamental que o produtor se preocupe e conheça o desenvolvimento do parasita em sua região. As temperaturas mais amenas podem dar a impressão de que o período de infestação já passou. Esse relaxamento pode custar caro quando o verão chegar”, alerta.
Para se ter uma ideia, o carrapato é um dos maiores inimigos da produção de leite e carne no Brasil e gera grandes prejuízos à pecuária nacional. Pulso da economia do país, o setor chega a perder R$ 10 bilhões por ano com as consequências que a praga ocasiona, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Na região Sul, mesmo com as baixas temperaturas e seca no inverno, o carrapato consegue se desenvolver. Principal praga da pecuária gaúcha, os parasitas causam a morte de ao menos 100 mil bovinos por ano, gerando grandes prejuízos à pecuária regional, segundo estimativas da SEAPDR. O ácaro é mais prejudicial aos rebanhos de raças europeias, criados predominantemente no estado. “Nos meses mais frios ainda há carrapato nas criações de produtores gaúchos”, alerta von Zuben.
A região Sudeste apresenta condições climáticas que favorecem a sobrevivência do carrapato durante todo o ano. Nos meses de inverno, em que predominam temperaturas mais baixas e menor umidade, o ciclo se alonga, acarretando um menor número de gerações anuais. “Entretanto, nos meses de inverno, entre abril e agosto, que são mais secos e frios, os carrapatos ainda são recorrentes e precisam ser controlados, de modo a evitar prejuízos ainda maiores nas estações mais quentes”, explica o especialista.
Segundo o biólogo, nas regiões Nordeste e Norte as elevadas temperaturas durante grande parte do ano favorecem uma infestação constante ao longo de todos os meses. “Nestes casos, é possível que o carrapato apresente cinco gerações ao longo do ano”, alerta. O mesmo pode acontecer no Centro-Oeste. “Apesar da região ser conhecida por ter quatro gerações por ano, pesquisas recentes têm mostrado que podem acontecer até cinco gerações de carrapatos no período de doze meses”, destaca.
As condições ambientais no Brasil, especialmente no período de estiagem, favorecem diretamente o desenvolvimento dos carrapatos. “Com as fêmeas já fecundadas, é o melhor cenário para se desprender dos animais e liberar os ovos no solo. Ao mesmo tempo, as condições ambientais facilitam a eclosão das larvas, provenientes dos ovos depositados nas pastagens”, explica o especialista.
De acordo com o biólogo, cada fêmea pode colocar até três mil ovos e, com condições favoráveis e tratamento ineficaz, o parasita pode aumentar gravemente os danos no rebanho. “Altas infestações impactam diretamente na sanidade e produtividade do rebanho. Os animais podem apresentar perda de peso e redução da produção de leite, além de favorecer o desenvolvimento da Tristeza Parasitária”, alerta von Zuben.
A primeira orientação do especialista é se preparar para manejar corretamente os animais e a pastagem. Assim, os erros no manejo são mitigados, prezando pelo bem-estar do rebanho. De acordo com o biólogo, entretanto, as alternativas de combate mais encontradas pelos produtores no mercado são agentes químicos que, independentemente da apresentação, possuem ação agressiva. “Os produtos são extremamente tóxicos, tanto para quem manipula, quanto para o animal e o meio ambiente. Além disso, o uso excessivo durante muitos anos aumentou a resistência da praga, implicando em dosagens maiores e em períodos cada vez mais curtos, deixando as soluções sem efetividade”, explica.
Segundo von Zuben, o controle biológico tem se apresentado como um importante aliado da pecuária. “É uma técnica utilizada para combater espécies nocivas, reduzindo os prejuízos causados por elas. A tecnologia consiste em controlar pragas e insetos transmissores de doenças por meio do uso de seus inimigos naturais”, pontua.
A Decoy desenvolveu um tratamento contra o carrapato-do-boi baseado na tecnologia. São dois produtos: um para ser aplicado no rebanho e outro na pastagem. As soluções têm como princípio ativo esporos de fungos, inimigos naturais dos carrapatos. Quando distribuídos no gado e no ambiente, entram em contato com o parasita, germinam e se desenvolvem, levando-o à morte em poucos dias.
“O produto não deixa resíduos no leite e na carne e pode ser utilizado em todo o rebanho, inclusive em vacas prenhes e bezerros”, completa von Zuben. “Além disso, a solução não é tóxica para humanos, e nem para os animais, e, como se trata de um inimigo natural dos ectoparasitas, não há problemas com resistência ao seu método de controle”, ressalta.
Enquanto aguarda a aprovação de documentos junto ao MAPA para iniciar a comercialização, a Decoy estabeleceu um programa de parcerias com pecuaristas. “Disponibilizamos as soluções aos produtores por 12 meses e eles fornecem informações sobre o tratamento, além de uma ajuda de custo para o desenvolvimento das pesquisas. Até agora, temos mais de mil associações em todo o Brasil”, finaliza o CEO.
Fonte: Motim
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