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Como fazer o diagnóstico de mastite clínica no rebanho?

O diagnóstico da mastite clínica contribui para uma melhor precisão no tratamento e tomadas de decisão mais assertivas. Utilizar de tecnologias que auxiliam nesse processo é imprescindível.


Publicado em: 16/05/2022 às 08:40hs

Como fazer o diagnóstico de mastite clínica no rebanho?

Sabe aquela velha expressão “ver para crer”? Pois bem… no diagnóstico da mastite clínica ela se aplica muito bem. E sabe por quê? Porque não precisa de muito esforço para percebermos que algo não está legal com os animais da fazenda e a identificação da mastite clínica geralmente é realizada no próprio momento da ordenha, afinal, os sinais que a vaca nos dá são fundamentais e podem ser notados a olho nu.

É por isso que uma mão de obra treinada e uma equipe sempre antenada e observadora fazem toda a diferença! E claro, não menos importante, sempre apoiadas por ferramentas que auxiliem nesse processo para realmente concretizar as percepções iniciais de que o “trem está andando fora dos trilhos”.

Presença de alterações visuais no leite associados ou não a sintomas de inflamação no úbere e/ou indícios sistêmicos podem ser indicativos da doença. São vários os sinais aparentes nas vacas e – como exemplo – temos: queda na produção leiteira, redução no consumo, febre, prostração, desidratação, vermelhidão no úbere, entre outros. Sabe quando o funcionário chega e diz: “Xiiiii… hoje aquela vaca está jururu”? Pois bem, pode apostar que tem algo se passando com ela e há reais chances de ser mastite clínica.

Vale lembrar que a mastite clínica pode ser classificada de acordo com o grau de gravidade da reação inflamatória em leve, moderada ou grave.

E como diagnosticamos a mastite clínica?

Há várias possibilidades de apoio para identificar o problema no rebanho além da visualização direta dos sintomas. Abaixo, listamos algumas delas:

  • O teste da caneca consiste na retirada dos três primeiros jatos de leite antes da ordenha em uma superfície escura e telada. O objetivo é identificar alterações como presença de grumos, pus e sangue;
  • O exame físico do úbere identifica se há presença de dor, vermelhidão, endurecimento do quarto afetado ou inchaço por meio da palpação antes ou após a ordenha. Normalmente, em alguns casos, só no ato de relar no úbere, a vaca já mostra um grande incômodo.
  • Coleta de amostras do leite alterado para cultura microbiológica: com o objetivo de identificar o agente causador da inflamação da glândula, a ferramenta é considerada padrão-ouro de diagnósticos de infecções intramamárias. A identificação dos agentes pode ser feita pelo envio de amostras de leite para laboratórios especializados ou realizada na própria fazenda com equipamentos especializados para tal prática.

As metodologias de cultura microbiológica são, na maioria das vezes, de baixo custo e fácil execução, porém a acurácia dos resultados depende dos procedimentos de coleta das amostras, de seu manuseio e transporte. As amostras de leite devem estar livres de contaminação (como pelos e sujidades do ambiente) a fim de evitar resultados falso-positivos, e também, livres de resíduo de antibióticos para evitar resultados falso-negativos, portanto, as amostras devem ser coletadas antes do início do tratamento (quando este realmente se fizer necessário).

Ainda sobre a cultura, a sua principal vantagem é permitir uma tomada de decisão mais rápida em relação aos tratamentos e aplicações de medidas de manejo, uma vez que a identificação do agente se dá entre 18 a 24 horas após a detecção dos casos clínicos de mastite, ao contrário dos resultados de cultura convencionais (laboratório) que podem demorar alguns dias para ficarem prontos. Além disso, como os resultados de cultura negativos são bastante frequentes em amostras de mastite clínica (44%), esse método de diagnóstico possibilita o uso racional de antibióticos, reduzindo assim, os custos com o tratamento, descarte de leite com resíduos de antibióticos e o risco de resistência antimicrobiana por patógenos causadores de mastite.

Como sempre, prevenir é um dos principais e melhores remédios!

Segundo uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Lavras (UFLA), o aumento da frequência média anual de mastite clínica influencia diretamente no impacto econômico da mastite. O elevado impacto econômico evidencia a necessidade de monitoramento da doença e adoção de medidas preventivas, buscando reduzir a incidência do problema de forma a diminuir os prejuízos ocasionados. No caso do estudo em questão, as despesas com as medidas preventivas representaram – no máximo – 19,7% do impacto econômico, o que demonstra vantagens em investir nessa prática, pois ela irá contribuir significativamente para diminuição dos custos relacionados à mastite.

No estudo, foram consideradas como prevenção as despesas com monitoramento (cultura e antibiograma, contagem de células somáticas no tanque e contagem de célula somática individual), pré e pós dipping, vacinação, tratamento de vacas secas e manutenção de ordenhadeira.

Por definição, considera-se impossível eliminar todas as perdas causadas pela mastite em uma fazenda, desta forma, medidas de controle e prevenção podem minimizar a ocorrência da doença e resultar em relações custo-benefício favoráveis aos produtores.

Em regiões com a cadeia produtiva em desenvolvimento como o Brasil, há a necessidade de se fornecer infraestrutura e treinamentos técnicos para auxiliar produtores a adotarem eficientemente estratégias de manejo que minimizem o desenvolvimento de novas infecções e que resultem na produção de leite seguro e de alta qualidade para o consumo.

Fontes consultadas:

  • BUENO, V. F. F. et al. Mastite Bovina Clínica e Subclínica, na região de Pirassununga, SP: Frequências e Redução na Produção. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 3, n. 2, p.47-52, dez. 2002.
  • CARVALHO, N. L.; BEURON, D. C.; SANTOS, M. V. Impacto Econômico da Mastite. Revista Leite Integral, Belo Horizonte, v. 6, n. 42, p.22-26, ago. 2012.
  • LOPES, M. A.; DEMEU, F. A.; ROCHA, C. M. B. M. da; COSTA G. M. da; FRANCO NETO, A.; SANTOS, G. dos. Avaliação do impacto econômico da mastite em rebanhos bovinos leiteiros. Arquivos do Instituto Biológico. v.79, n.4, p.477-483. 2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/aib/a/sBzJQKV3YbPH6K35zKGCGCv/?format=pdf&lang=pt>.
  • SANTOS, M. V; FONSECA, L. F. L. Controle da Mastite e Qualidade do Leite: Desafios e Soluções. Pirassununga: Edição dos Autores, 2019. 301 p.
  • SANTOS, M.V; TOMAZI, T. O que sabemos sobre a mastite? Estratégias de prevenção. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/colunas/marco-veiga-dos-santos/o-que-sabemos-sobre-a-mastite-estrategias-de-prevencao-208919/>. Acesso em: 28/01/2022.
  • VEIGA, V. M. O. Retorno econômico de um programa de controle de mastite bovina em rebanhos no Estado de Minas Gerais. In: BRITO, J. R. F.; BRESSAN, M. Controle integrado da mastite bovina. Juiz de Fora: Embrapa-CNPGL, 1996. p. 97-111.

Autoria

  • Raquel Maria Cury Rodrigues, Zootecnista pela UNESP de Botucatu.
  • Maria Clara Navarro, Médica Veterinária pela PUC Minas – Betim. Analista de Sucesso do Cliente na OnFarm.

Fonte: Assis Comunicaões

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