Bovinos Leite

Aquecimento global e manejo sustentável reduzem pegada hídrica na produção de leite, aponta estudo

Pesquisa de cientistas brasileiros e alemães mostra que boas práticas de manejo podem mitigar os efeitos das mudanças climáticas e otimizar o uso da água em fazendas leiteiras do Rio Grande do Sul


Publicado em: 18/11/2025 às 08:30hs

Aquecimento global e manejo sustentável reduzem pegada hídrica na produção de leite, aponta estudo
Foto: Gisele Rosso

Pesquisadores brasileiros e alemães analisaram o impacto das mudanças climáticas e das boas práticas de manejo sobre o consumo de água na produção leiteira. O estudo, publicado na revista Science of The Total Environment, avaliou 67 propriedades em Lajeado Tacongava (RS) e realizou 192 combinações entre cenários climáticos e práticas de manejo, com o objetivo de identificar estratégias que tornem a atividade mais eficiente e sustentável.

Efeitos do clima e das práticas de manejo no uso da água

A pesquisa mostrou que o aquecimento global tende a elevar o consumo de água — tanto a pegada verde, usada no cultivo de forragens e grãos, quanto a pegada azul, relacionada à água de dessedentação, lavagem e refrigeração. Já o tratamento de efluentes e a melhoria da produtividade agrícola (principalmente do milho e da soja usados na dieta dos animais) são medidas eficazes para reduzir a pegada hídrica total.

De acordo com o pesquisador Julio Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste, o uso racional da água e o aumento da eficiência produtiva são caminhos essenciais para minimizar o impacto ambiental da pecuária leiteira. “Aumentar a produção de leite por vaca, reduzir o consumo de água na ordenha e tratar os efluentes são medidas que contribuem diretamente para a sustentabilidade da atividade”, destacou.

Pegada hídrica varia conforme o sistema de produção

O levantamento apontou que a pegada hídrica média foi de 704 litros de água por quilo de leite corrigido para teor de gordura e proteína. Os resultados variaram conforme o sistema produtivo:

  • Sistemas a pasto: entre 299 e 1.058 litros de água/kg de leite;
  • Semi-confinados: entre 656 e 965 litros/kg;
  • Confinados: entre 562 e 950 litros/kg.

Os sistemas mais intensivos apresentaram maior eficiência hídrica, resultado da melhor conversão alimentar e maior produtividade diária por vaca.

Melhores combinações para reduzir o consumo

Os cenários com aumento de 25% na produtividade de milho e soja apresentaram as menores pegadas hídricas verdes. Já a redução no uso de água na lavagem da sala de ordenha, somada ao incremento na produção diária de leite, reduziu significativamente a pegada azul.

Por outro lado, cenários de altas temperaturas médias (entre 1,5 °C e 2,5 °C) e baixa produtividade agrícola elevaram o consumo total de água.

Água verde representa quase toda a pegada hídrica

O estudo mostrou que a água verde representa mais de 98% da pegada hídrica total na produção de leite, em todos os sistemas avaliados. A ração é responsável pela maior parte do uso de água, reforçando a importância de investir em cultivos mais eficientes e resistentes ao clima.

Nos sistemas a pasto, a média foi de 519 litros de água por quilo de leite corrigido; nos semi-confinados, 580 litros; e nos confinados, os valores variaram entre 313 e 549 litros.

Sustentabilidade e metas globais

As ações propostas pelo estudo contribuem diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, especialmente os que tratam da produção agropecuária resiliente (ODS 2), do uso responsável dos recursos naturais (ODS 12) e do combate às mudanças climáticas (ODS 13).

Segundo os pesquisadores, aumentar a produtividade agrícola é uma das principais ações de curto prazo para reduzir o consumo de água na pecuária leiteira. Contudo, os efeitos do aquecimento global podem limitar essa estratégia nos próximos anos, exigindo investimentos contínuos em tecnologia e manejo sustentável.a

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias
/* */ --