Bovinos Leite

O que preciso saber sobre o tamanho de partículas na alimentação de vacas leiteiras para a obtenção máxima de saúde e produção

Quando se trata de alimentação de bovinos, precisamos revisar alguns conceitos e entender o que realmente nós alimentamos: o rúmen


Publicado em: 12/07/2023 às 08:00hs

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 Isso mesmo, em nutrição de ruminantes, a etapa inicial é alimentar adequadamente essa câmera fermentativa. O rúmen possui um ecossistema microbiano vasto, com mais de 1 quadrilhão de microrganismos, com destaque para protozoários, bactérias e fungos. Esses microrganismos produzem ácidos graxos voláteis (AGVs) que as vacas usam como fonte de energia e para a síntese proteica.  

Toda essa população microbiana, em especial bactérias, quando passam do rúmen para o intestino, são fonte de proteína (proteína microbiana), a principal fonte de proteína para as vacas. E qual a relação entre o rúmen e a fibra na alimentação das vacas? São duas principais. A primeira é que, pelas condições que vimos que há no rúmen, ele é capaz, por meio da fermentação, de usar fibra e torná-la nutriente disponível para animais. A segunda é que a fibra é fundamental para manter o funcionamento adequado do rúmen. A manutenção do vasto ecossistema microbiano no rúmen depende do pH do ambiente ruminal estabilizado.

Para prever essas respostas de pH ruminal, dependemos de uma avalição conjunta da concentração química e física das partículas dos alimentos. A análise combinada (química e física) da fibra se trata do conceito de fibra detergente neutro fisicamente efetiva (FDNfe). Esse modo é eficiente para entender a capacidade de estimular a mastigação, a produção de saliva e, consequentemente, a produção de bicarbonato de sódio, que é essencial para o tamponamento do pH ruminal.

Para obter a estimativa de FDNfe, precisamos então de duas análises – a química, por meio da análise bromatológica, e a física, feita por meio da ferramenta Penn State Particle Separator (PSPS). O NASEM 2021, livro construído por um comitê com os 12 especialistas americanos mais renomados da nutrição, traz um ponto importante aqui: pela falta de padrão de métodos de análises do FDNfe, optou-se por usar o FDN de forragem (FDNf) para estimar a efetividade da fibra nas dietas, já que existe uma forte correlação entre o pH ruminal e a FDN da forragem. 

O livro ainda apresenta um novo conceito: com a FDN fisicamente ajustada, inclusive com um sistema que dispõe de aplicativo para cálculo (MUNCH Effective Fiber App), é possível predizer o tempo de ruminação adequado e o consumo de matéria seca para o pH ruminal desejado. Essa nova abordagem leva vários fatores em consideração e não deixa de considerar o tamanho partículas (% dieta acima 19 mm). 

Na prática, para entender outros pontos a respeito do tamanho de partículas e PSPS, no dia a dia são formuladas dietas para vacas leiterias observando vários aspectos. A equipe Nutron observa a saúde ruminal de uma maneira bem ampla, por meio do indicador rumem healh index (rH index), que leva em consideração tamanho das partículas, a estrutura delas, % de FDN, moléculas alcalinas – como amônia, bases e tampões – e ainda correlaciona ácidos dos ingredientes, tipo de carboidratos não fibrosos e sua taxa de digestão. Complexo, mas necessário. Não podemos esquecer que estamos falando da saúde do rúmen, o “motor” da vaca. Essa é uma das premissas para uma dieta bem formulada. 

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Figura 1: Modelo de predição de saúde ruminal, rumem health index (rH index) 
Fonte: Cargill Animal Nutrition,2023.

Outra análise fundamental que o tamanho de partículas pode oferecer é entender na prática como está sendo a qualidade de entrega da dieta. É uma análise de consistência e estabilidade da entrega dos alimentos. São avaliadas 10 amostras da mesma mistura, sendo que misturas excelentes têm um coeficiente de variação entre 1 a 3%, mas valores entre 3 a 5% são considerados bons e aceitáveis. A partir de 5%, muitos pontos podem precisar de revisão, como tempo de mistura, sequência de adição de ingredientes, manutenção do vagão deficiente, processamento dos volumosos. O foco está no processo, deve-se procurar onde está a oportunidade de melhoria. 

Uma última análise que o tamanho de partículas pode oferecer por meio da PSPS é avaliar a dieta consumida pelos animais. Não é desejado que as vacas selecionem e tenham consumo diferente da dieta que você está formulando. A avaliação aqui é a comparação da dieta 1 hora antes do próximo fornecimento com a dieta fresca entregue. O objetivo é que não tenha uma diferença superior a 20% no fundo da PSPS (abaixo de 4 mm). Na prática, é comum que a seleção aconteça por vários motivos que levam à mistura ruim, mas um dos principais desafios nas fazendas são partículas longas que oferecem a oportunidade de as vacas selecionarem. É preciso atenção ao tamanho ideal, que não dever ser acima de 5 cm. 

Não restam dúvidas de que avaliar o tamanho de partículas é fundamental e, no futuro, com o avanço da tecnologia, talvez possamos ter ferramentas digitais que possam nos ajudar a avaliar de forma precisa e rápida esse componente. Já possuímos estudos que tentaram isso com near infrared spectroscopy (NIR), mas não conseguiram até então boa correlação. Seria muito interessante se pudéssemos fazer as análises por meio de imagem digital de um celular, acelerando e descomplicando toda análise do tamanho de partículas para dietas em qualquer lugar. A cada dia, a nutrição de precisão vem se destacando e as mudanças são contantes. 

Renan Menegasso Bagio é pós-graduado em Produção e Sanidade Animal pelo Instituto Federal Catarinense e Coordenador de Produtos na Cargill Nutrição Animal; Vitória Cristina Fortunato é Graduanda em Agronomia – IFC Araquari; Juliano Santos Gueretz, Fabiana Moreira e Elizabeth Schwegler são pós-graduados em Produção e Sanidade Animal pelo Instituto Federal Catarinense.

Fonte: Ketchum

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