Publicado em: 23/07/2025 às 16:30hs
O Confina Brasil, pesquisa-expedicionária da Scot Consultoria, está em sua sexta edição e, em menos de dois meses de atividade, já visitou mais de 50 propriedades de pecuária de corte intensiva em sete estados do país. A primeira etapa, realizada em junho, incluiu 37 visitas técnicas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Tocantins.
Desde sua criação em 2020, o projeto tem como objetivo mapear e analisar dados do segmento de corte intensivo, conectando produtores, técnicos e empresas líderes, além de promover uma ampla rede de relacionamento no setor.
O Confina Brasil vai além da simples coleta de dados, buscando compreender a realidade da pecuária sob diferentes perspectivas. A iniciativa destaca histórias, desafios enfrentados, estratégias adotadas, boas práticas e soluções técnicas aplicadas nas diversas regiões visitadas.
Ao término da edição, será lançado um relatório técnico detalhado, com um panorama fiel e atualizado da atividade, baseado na diversidade dos modelos de produção e perfis dos produtores.
Durante as visitas, a equipe identificou particularidades regionais importantes, assim como pontos de convergência entre os sistemas de confinamento. Fatores como logística de insumos, condições climáticas, perfil do solo e acesso à tecnologia influenciam diretamente as decisões produtivas e estratégias de gestão adotadas.
São Paulo: tecnologia, diversidade e sustentabilidade
Em São Paulo, os confinamentos visitados mostram alto grau de tecnificação e diversidade de perfis. As propriedades visitadas variam desde pequenos sistemas para cerca de 500 cabeças até grandes estruturas com capacidade para quase 30 mil animais.
A proximidade com a indústria sucroenergética favorece o uso de coprodutos da cana-de-açúcar, presentes em 85% dos confinamentos, com destaque para o bagaço de cana como fonte de fibra. As dietas se caracterizam pela diversidade, chegando a conter mais de 10 ingredientes, incluindo resíduos de amendoim, milho, soja e laranja. Para viabilizar o uso desses insumos e reduzir custos, são realizadas análises bromatológicas rigorosas para garantir o equilíbrio nutricional.
Na área de sustentabilidade, 85% das propriedades praticam a coleta e aproveitamento dos dejetos, mostrando integração produtiva entre pecuária e agricultura.
Outro destaque é o crescimento do sistema de engorda terceirizada (boitel): mais da metade dos confinamentos visitados (7 em 13) adotam esse modelo, que oferece flexibilidade e rentabilidade para produtores em regiões com altos custos de infraestrutura ou pequena escala produtiva.
Minas Gerais: economia circular e uso eficiente de coprodutos
Em Minas Gerais, a adoção de coprodutos agroindustriais e estratégias de economia circular foi um dos principais pontos observados. Na região de Perdizes, por exemplo, a Bem Brasil utiliza os resíduos da produção de batatas na alimentação do gado confinado na Fazenda Água Santa. Os dejetos do gado são tratados e reaproveitados no cultivo, fechando o ciclo produtivo da propriedade.
Ainda na rota mineira, 78% dos confinamentos utilizam coprodutos da destilaria de milho e grãos úmidos ou reidratados. Esse processo consiste em colher milho com maior umidade ou hidratar milho seco, ensilar e fermentar o material, gerando alimento estável e energético, com melhor digestibilidade do amido. Essa técnica tem aumentado a eficiência alimentar e a inclusão do grão na dieta dos bovinos.
Goiás: dietas mais uniformes e uso estratégico do confinamento
No entorno de Brasília e na região de Iaciara, no nordeste de Goiás, a pesquisa apontou uma diminuição da variabilidade das dietas, que passaram a utilizar em média 4 a 6 ingredientes. As bases são insumos nobres como milho, farelo de soja, e silagens de milho ou sorgo.
Goiás é um dos maiores produtores nacionais de milho e soja, o que facilita o acesso a esses insumos e reduz custos logísticos. O milho foi encontrado em 100% dos confinamentos, seja em grão, silagem, milho moído, gérmen ou coprodutos da destilaria. Além disso, 84% das propriedades utilizam coprodutos do etanol de milho, como DDG e WDG.
Outro ponto relevante é o uso do confinamento para acelerar o ganho de peso em animais jovens, prática adotada em todas as propriedades visitadas. Essa estratégia permite recuperar peso logo após o desmame ou recria, reduzindo o ciclo produtivo total.
Bahia: aproveitamento de coprodutos da cotonicultura e inovação logística
Na Bahia, segundo maior produtor brasileiro de algodão, é comum o uso de coprodutos da cotonicultura, como caroço e capulho, nas dietas do gado. A logística interna eficiente foi destacada, com investimentos em sistemas automatizados, como a instalação de quatro BatchBox — grandes reservatórios que facilitam o fornecimento de alimentos nos vagões distribuidores, aumentando a eficiência especialmente em confinamentos de grande porte.
Também foi observada a prática do plantio de mix de culturas (sorgo, milheto, girassol e capim) em propriedades da região de Luís Eduardo Magalhães, contribuindo para a nutrição animal e a recuperação do solo arenoso.
Tocantins: estratégias para mitigar estresse térmico e sustentabilidade
No sul do Tocantins, clima seco e altas temperaturas são desafios constantes para a produtividade. Para minimizar os efeitos do estresse térmico, os confinamentos adotam coberturas sintéticas e o plantio de eucaliptos ao redor das baias, criando sombreamento natural e conforto térmico para os animais.
A propriedade Encontro da Natureza se destacou pelo trabalho de enriquecimento e reutilização de dejetos, fortalecendo a integração entre sustentabilidade e eficiência produtiva.
A cada quilômetro percorrido, o Confina Brasil revela a diversidade, a capacidade de adaptação e o foco em eficiência que caracterizam a pecuária de corte intensiva no país. O projeto segue na missão de mapear e entender os múltiplos modelos produtivos, contribuindo para o desenvolvimento do setor.
Fonte: Portal do Agronegócio
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