Bovinos de Corte

Pecuária de corte: potencial para crescer

Estudo do INAES mostra que planejamento e uso de tecnologia são a receita para o sucesso


Publicado em: 13/06/2016 às 19:50hs

Pecuária de corte: potencial para crescer

A pecuária de corte é um dos segmentos do agronegócio brasileiro mais bem-sucedido no mundo. Passamos de importador de carne, na década de 80 – quando inclusive enfrentamos racionamento desse alimento, a um dos maiores produtores e exportadores do planeta.

O Brasil tem o maior rebanho comercial bovino do mundo, com cerca de 214 milhões de cabeças. Entre 2000 e 2015 a produção de carne brasileira cresceu 45%, enquanto o rebanho bovino de corte aumentou 25%. Só no ano passado produzimos 9,2 milhões de toneladas de carne e vendemos para outros países 20% desse total.

Minas Gerais

Em Minas Gerais, o número de cabeças de gado é o segundo maior do país, com 21,8 milhões de animais ou 11% do rebanho nacional. O segmento de corte é o terceiro do setor agropecuário em relevância econômica, tendo acumulado R$ 7,3 bilhões em valor bruto de produção em 2015.

É claro que a crise fez o consumo interno de carne de boi cair, mas o mercado externo está em expansão. Apenas entre janeiro e abril deste ano, Minas já exportou US$ 132 milhões de carne bovina, que foi o quinto produto mais vendido pelo estado.

Os números são bons, mas ainda podem ficar melhores. Estudo realizado pelo INAES mostra que o potencial de Minas para a produção de carne bovina está longe de ser esgotado e poderia crescer exponencialmente. Para tanto, os pecuaristas precisam dar mais atenção à gestão do negócio, ampliar o uso de assistência técnica e investir mais na recuperação de pastagens e no melhoramento genético do rebanho.

Diagnóstico

Encomendado pela Comissão Técnica de Pecuária de Corte da FAEMG, o trabalho realizado pelo INAES é o primeiro a fornecer dados sobre a produção de bovinos de corte no estado. Investigou os aspectos econômicos, sociais e ambientais de diferentes sistemas de produção adotados em propriedades nas quatro principais regiões produtoras. O estudo pode ser acessado, na íntegra, clicando aqui.

Veja alguns dos resultados encontrados.

Quem está na atividade

  • 79,8% são casados
  • 87,6% têm filhos

70% acreditam que seus filhos assumirão os negócios

Escolaridade

Os produtores

  • 19,5% têm ensino fundamental completo
  • 28,1% ensino médio
  • 44,5% graduação
  • 7,8% pós-graduação

Mais da metade têm curso superior

Os herdeiros

  • 16,2% têm ensino fundamental
  • 22,8% ensino médio
  • 61% graduação

18,5% são formados em ciências agrárias

Tempo de atuação

  • 25,2% há até 10 anos
  • 31,5% entre 11 e 20 anos
  • 18,9% de 21 a 30 anos
  • 24,4% há mais de 31 anos

Apenas 1 em cada 4 pecuaristas de corte ingressou na atividade nos últimos 10 anos.

Principal dificuldade para se estabelecer na atividade

  • 37,9% financeira
  • 36,3% adequação técnica
  • 15,3% mão de obra
  • 10,5% inserção no mercado ou fazer adequação ambiental

Principal dificuldade atual da atividade

  • 34,7% mão de obra
  • 29,3% técnica
  • 21,8% financeira
  • 14,3% mercado

Apenas 21,5% usam algum tipo de financiamento do governo e só 22% conhecem linhas de crédito subsidiadas como o programa ABC.

93% dos pecuaristas apostam que a intensificação da atividade é uma tendência que se manterá ou aumentará. Mas apenas 33% dos pecuaristas entrevistados contratam assistência técnica.

67,7% estão otimistas quanto ao futuro da atividade; consideram a pecuária de corte como atividade ou mercado promissor, com perspectiva de crescimento de mercado, principalmente externo.

Pretensão de intensificação da atividade

  • 88% pretendem manter ou aumentar
  • 12% irão diminuir ou ainda não sabem

Acompanhamento da atividade

Faz planejamento

  • 2,4% técnico
  • 13,4% financeiro
  • 12,6% técnico e financeiro
  • 71,7% não faz

Faz controle

  • 19,4% caderno
  • 11,6% financeiro
  • 7,8% software
  • 61,2% não faz

A maioria dos pecuaristas não faz planejamento ou qualquer tipo de controle técnico e/ou financeiro da atividade

Produção

Taxa de lotação média dos participantes do estudo é 1,03 cabeça/hectare de pasto

Sistemas mais utilizados

  • Central – recria e engorda (34,6%) e completo (42,3%)
  • Nordeste – recria e engorda (61,5%) e completo (23%)
  • Norte – cria (50%) e completo (20,45%)
  • Triângulo – recria e engorda (42,8%) e completo (28,5%)
  • 38% também atuam na pecuária de leite; 20%, na agricultura; 14%, floresta; e 7%, em outras atividades
  • 39,2% das propriedades não têm área para agricultura

Destino da produção

  • 42% outras propriedades (sistemas de produção) em Minas Gerais
  • 45,7% frigoríficos do estado
  • 7,4% outras propriedades fora de Minas
  • 4,9% frigoríficos fora de Minas

Práticas na propriedade

  • 40,9% dos pecuaristas fazem manutenção das pastagens

Apenas 10% adubam o pasto, isso demonstra ineficiência tecnológica das propriedades em relação às pastagens e se traduz na baixa lotação média detectada nas propriedades pesquisadas.

Práticas utilizadas nas pastagens

  • 29,5% análise de solo
  • 29,6% reforma e recuperação
  • 40,9% manutenção

Manejo das pastagens

  • 38,7% contínuo
  • 34,7% diferido
  • 25,3% rotacionado
  • 1,3% não sabe

Estratégias nutricionais

  • 28,4% usam proteinados
  • 27,7% ração concentrada
  • 40,8% suplemento mineral
  • 3,1% suplemento com ureia

Reprodução

80,5% não fazem estação de monta. A não adoção dessa prática reduz as taxas de fertilidade do rebanho e a seleção para precocidade e fertilidade das fêmeas

Somente 27% das propriedades fazem inseminação artificial. O baixo percentual de inseminação artificial acarreta menor qualidade e progresso genético do rebanho no longo prazo

Legislação

  • 80,6% informou conhecer plenamente ou grande parte da legislação trabalhista.

Meio ambiente

  • 100% dos pecuaristas afirmaram ser possível conciliar a atividade de pecuária de corte com a preservação ambiental

Práticas de gestão ambiental

  • 82,8% possui Reserva legal
  • 91,4% APP
  • 28,3% georreferenciamento
  • 25,3% licença ambiental
  • 14,8% outorga para uso de água

Agrotóxico

Cerca de 30% das propriedades não faz uso de agrotóxicos. Das que utilizam, 62,2% têm funcionários treinados para a função, 74,7% fazem o correto manejo de embalagens e 64,8% têm local adequado de armazenamento de agrotóxico.

Comentário

Pierre Vilela, superintendente do INAES

“Os resultados mostram que há um campo amplo de ações que podem ser desenvolvidas para fomentar o crescimento sustentável da pecuária de corte no estado. Mas a prioridade deve ser ampliar o acesso ao conhecimento e às tecnologias. A capacitação de produtores e trabalhadores deve ser incentivada”.

Recomendação

“Os produtores devem investir preferencialmente em tecnologias como suplementação nutricional estratégica, melhoramento genético, manejo de pastagens e integração da pecuária com sistemas agrosilvipastoris. A aplicação de ferramentas gerenciais e de planejamento, bem como estratégias comerciais também deve estar em primeiro plano”.

Maior desafio

“Um dos principais desafios é, sem dúvida, a recuperação da capacidade de suporte das pastagens, uma vez que a produção a pasto é uma característica predominante da atividade. Fizemos um levantamento em 2015 que mostrou 75% das pastagens mineiras em condições ruins. O presente diagnóstico demonstra que essa degradação afeta diretamente a rentabilidade e sustentabilidade da pecuária de corte. Portanto, o investimento nesse insumo traria amplos benefícios econômicos e ambientais no curto e longo prazos”.

Reação

“O Sistema FAEMG já oferece cursos gratuitos em todas as áreas consideradas prioritárias, mas a demanda deve partir dos pecuaristas. E, com esse diagnóstico, poderá também intensificar a articulação com o poder público para desenvolver e/ou ampliar programas e projetos que vislumbrem a realidade e o potencial e apoiem o segmento”.

“Recomendamos a criação de projeto de assistência técnica compartilhada específico para a pecuária de corte, a exemplo de programas como Balde Cheio, Soja Plus, Café+Forte e ABC Cerrado.”

Viabilidade

“As perspectivas são de aumento na demanda por carne bovina, que será impulsionada pelo crescimento da população mundial. No entanto, o sistema produtivo de gado de corte terá que se adaptar ao novo cenário nacional e internacional, que demanda produtos sustentáveis e capazes de concorrer com a agricultura, cana-de-açúcar, madeiras, carnes de frango e suína. Já sabemos quais são os pontos fracos, o que o mercado quer e como prosperar. Agora é trabalhar para transformar o potencial em realidade”.