Todo começo de ciclo ocorre de forma mais lenta, espaçada, sem muitas novidades; afinal, para nós brasileiros “o ano só começa depois do carnaval”, correto? 

Aparentemente o mercado do boi gordo não segue muito essa “regra”. O primeiro mês de 2022 já acabou e, com ele, um novo recorde nas cotações do boi gordo. Segundo o indicador CEPEA/B3, as cotações do boi gordo para jan./22 fecharam em média R$ 338,46/@, sendo que o patamar de 340 reais/@ foi rompido no final do mês.

O resultado de alta nos preços pode ser explicado pelo maior peso no lado da demanda em relação à oferta. O mercado externo assumiu o papel de protagonista, puxado pelo forte peso da China e praticamente todos os maiores importadores. Segundo os dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), dos 20 maiores importadores de carne bovina, 17 apresentaram alta nas compras. A China, que sempre atuou como principal destino da nossa proteína, voltou às compras após o fim do embargo de mais de 4 meses por conta do caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). Dessa maneira, o mês de janeiro encerrou com a importação de aproximadamente 160 mil toneladas, 26,8% maior que no mesmo período do ano passado. 

Passando para o mercado futuro, o sentimento é de estabilidade das cotações para os próximos meses, o que traz certo otimismo no planejamento do primeiro giro do confinamento. Por outro lado, a atividade em 2022 deve ser tratada com muita cautela, visto o aumento no custo das matérias primas. Um dos indicadores da atividade, a relação de troca entre boi gordo e milho, apontou queda no fechamento de janeiro. Isso se deu pela maior valorização do milho 9,1%MoM (em relação ao mês anterior) vs. Boi Gordo que foi de 5,5%MoM, ilustrados na figura e gráfico abaixo. 

Figura 1 - Média das cotações do indicador à vista e preço do milho

Gráfico 1: Relação de troca entre a venda de um boi gordo pronto para o abate e compra de saco de milho.

Dessa maneira, a relação de troca fechou jan./22 em 3,52, 3,33% abaixo do mês anterior e abaixo da média histórica do indicador. 

O resultado desse indicador aponta o quanto a atividade de confinamento em 2022 será desafiadora e necessitará de muita atenção em todas as pontas, do planejamento e estudo do caixa da fazenda à estratégia nutricional, manejo e programação de abate. A produtividade e investimentos visando a otimização dos índices zootécnicos, seja ele por mudanças nutricionais e de manejo, inclusão de aditivos e melhora na qualidade dos alimentos ofertados precisará ser analisada nos mínimos detalhes, pois a lucratividade da atividade dependerá da excelência dos resultados em todas as etapas dentro da porteira. 

Gabriel Zylberlicht, Inteligência de Mercado da Nutricorp