Publicado em: 01/07/2025 às 09:30hs
Com a crescente demanda por alimentos e a necessidade de preservar o meio ambiente, um novo estudo publicado na revista Agricultural Systems propõe caminhos para aumentar a produtividade da pecuária sem a abertura de novas áreas. A pesquisa, que contou com a participação de cientistas da Embrapa, foca em reduzir as chamadas lacunas de rendimento — a diferença entre o que é produzido atualmente e o que seria possível em condições ideais.
Os pesquisadores analisaram diferentes ferramentas para mensurar essas lacunas e propuseram métodos mais precisos para estimar o potencial produtivo dos sistemas pecuários. Segundo os autores, estratégias de manejo como pastejo seletivo, composição da pastagem e tipo de manejo adotado ainda são pouco considerados nos modelos atuais, o que compromete a precisão das análises e limita o avanço da produtividade.
As pastagens ocupam cerca de 70% da área agrícola do mundo e são essenciais para a segurança alimentar. Com o aumento da demanda por carne e leite, a intensificação dos sistemas existentes é considerada o melhor caminho para aumentar a produção de forma sustentável, evitando a conversão de novas áreas para uso agropecuário.
A pesquisa avaliou diversas abordagens para identificar onde há maior potencial produtivo:
De acordo com a pesquisadora Patrícia Menezes Santos, da Embrapa Pecuária Sudeste, esses métodos ajudam a identificar as áreas com maior potencial de aumento de produtividade e permitem decisões mais estratégicas, tanto para produtores quanto para gestores públicos. Ela reforça que a transformação depende de uma articulação maior, envolvendo assistência técnica, infraestrutura e políticas públicas que incentivem a adoção de tecnologias.
O pesquisador Geraldo Martha, da Embrapa Agricultura Digital, ressalta que o Brasil opera com baixos níveis de incentivos à agropecuária, especialmente na pecuária. A análise das lacunas de produtividade, considerando variáveis econômicas e biofísicas, ajuda a compreender os reais desafios enfrentados pelos produtores, que lidam com diferentes condições de recursos, preços e riscos.
A produtividade varia conforme o tipo de sistema. Enquanto sistemas de subsistência dependem de mão de obra manual e têm acesso limitado a tecnologia, sistemas comerciais contam com genética avançada, mecanização e ferramentas digitais, tornando-se mais resilientes e eficientes. Essa diferença impacta diretamente na estimativa das lacunas e nas decisões sobre como reduzi-las.
Segundo Gustavo Bayma, analista da Embrapa Meio Ambiente, modelos empíricos e mecanicistas, aliados ao uso de sensoriamento remoto, permitem avaliar grandes áreas de forma contínua e precisa, sendo fundamentais para calcular a capacidade de suporte das pastagens e orientar o manejo mais eficiente do rebanho.
Os autores destacam que a combinação de diferentes métodos de análise oferece uma visão mais completa sobre os gargalos e oportunidades da produção pecuária. A escolha da abordagem ideal depende dos dados disponíveis e dos objetivos de cada análise, mas os modelos de sistemas de produção, quando bem calibrados, são considerados os mais promissores.
Fechar as lacunas de rendimento pode trazer grandes benefícios para a agropecuária: aumento da produção sem desmatamento, maior rentabilidade para os produtores e redução das emissões de gases de efeito estufa por unidade de carne ou leite produzida. A combinação entre tecnologia, políticas públicas e capacitação técnica tem o potencial de tornar a pecuária mais eficiente, sustentável e integrada às metas ambientais globais.
A intensificação sustentável da pecuária baseada em pastagens depende do uso estratégico de ferramentas de análise, políticas públicas eficazes e apoio técnico contínuo. O estudo evidencia que há espaço para crescer dentro das áreas já utilizadas, promovendo ganhos econômicos e ambientais sem comprometer os ecossistemas nativos.
Fonte: Portal do Agronegócio
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