Bovinos de Corte

Recria em confinamento no período da seca: uma excelente alternativa para diluição do ágio de compra do bezerro

O período seco do ano sempre foi um desafio para os pecuaristas, muito em função da baixa oferta de forragens, tanto em quantidade quanto em qualidade


Publicado em: 13/04/2021 às 08:10hs

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Nos últimos anos, o que se observa é uma intensificação desse período de seca, tornando a atividade mais desafiadora. Não é raro vermos situações de bezerros desmamados nos meses de Maio a Julho, e recriados a pasto na seca, chegando no período de chuvas pesando menos do que seu peso à desmama. Somado a esses fatores, o preço do bezerro não para de subir, alcançando valores históricos. O ágio do preço do bezerro referente ao preço boi gordo ficou em 51,9% no mês de março de 2021, a maior marca já alcançada para esse indicador de reposição.

Uma estratégia que pode reduzir os custos da @ produzida na recria e aumentar a margem para o pecuarista é intensificar a recria no período da seca, através da recria em confinamento, diluindo assim o preço inicial do bezerro, seja ele de desmame ou compra. O objetivo da recria em confinamento é pegar um bezerro de 6 a 7@, imprimir um ganho de peso diário de 0,750 kg no período de 90 a 150 dias, e entregar um garrote de 9 a 10@ na entrada do período das águas, possibilitando melhores margens se comparado a um sistema de recria tradicional. 

Abaixo segue uma análise comparando dois sistemas de recria: a recria confinada versus uma recria a pasto, usando um suplemento proteico de 0,1% do peso vivo( Tabela 1). 

Tabela 01: Comparativo de custo de recria confinada X recria a pasto tradicional

tab-recria

Notem que nesta análise, o custo da @ produzida a pasto na seca ( R$ 288,97/@) é 80% maior do que o custo da @ produzida no confinamento ( R$ 161,80/@), isso deve-se ao fato do ganho de peso diário a pasto, numa condição de pastagem regular na seca com baixa qualidade e baixa oferta de forragem, ser muito menor do que o ganho no confinamento (0,150 kg/dia versus 0,750 kg/dia, respectivamente). Nesta condição, um bezerro de 6@ suplementado a pasto na seca, entra nas águas com 6,56@, ou seja, ganhando cerca 0,56 @ num período de 120 dias. Já no confinamento produzimos 3@ nesse mesmo período, soltando um bezerro nos pastos de águas com 9@, praticamente o peso de um garrote.

Visando exemplificar a análise feita na tabela 01, segue algumas premissas adotadas: 

  1. consumo da dieta de recria no confinamento de 2,4% e do suplemento proteico de 0,1% do peso vivo
  2. custo da dieta de recria confinada R$ 0,564/ kg e do suplemento proteico R$ 1,85/kg. Portanto, um bezerro de recria irá consumir 5,4 kg MS/ dia a um custo alimentar diário de R$ 3,04, enquanto os bezerros suplementados a pasto consumirão 0,188 kg do suplemento ao custo diário de R$ 0,35. 
  3. Custo operacional diário a pasto, tomamos como base os custos fixos a pasto sugeridos pelas principais consultorias de mercado, que hoje está em torno de R$ 30,0/cabeça/mês, ou seja, R$1,00/cabeça/dia. Para custo operacional do confinamento de recria, inserimos o custo médio das operações que atendemos atualmente R$ 1,0/cabeça/dia, salientando que esse custo operacional é menor do que o custo de um confinamento de engorda, devido a vários fatores(ex.maior lotação de bezerros/área, menor quantidade de alimento fornecido por dia e apenas dois tratos diários).

Para finalizar essa análise,  somamos todos os custos envolvido,  nutrição mais o custo operacional mais o custo de compra deste bezerro de 6@, hoje estimado em R$ 2.850,00. Dessa forma, teremos um bezerro de 9@ saindo do confinamento de recria e entrando nos pasto de águas ao custo de R$ 3.335,5 , ou seja, R$ 370,60/@, enquanto o bezerro suplementado com proteinado no pasto de seca custará R$ 3.011,82 , porém apenas com 6,56@ a um custo final de R$ 459,12/@. Ou seja, nessa situação de recria confinada é possível diluir o custo de compra do bezerro, ficando o custo final desse animal 20% menor se comparado ao sistema de recria suplementado a pasto. 

Além da parte econômica, o sistema de recria confinada traz uma grande vantagem ao desenvolvimento dos pastos na época de transição seca-águas que é manter os animais fechados no confinamento durante a fase de rebrote dos pastos no início do período chuvoso. O início do período chuvoso é muito crítico para a planta forrageira, e também para os animais. As chuvas geralmente são irregulares, e quando o capim começa a brotar os animais ficam ávidos por consumir as folhas novas do pasto, fator negativo tanto para planta, como para os animais.  

Quando os animais não estão nos pastos durante o rebrote, a planta cresce sem ser consumida, isso proporciona que suas reservas energéticas sejam preservadas. Com isso temos plantas mais vigorosas no primeiro ciclo de pastejo e isso segue nos ciclos seguintes. Assim, os animais que estavam na recria confinada durante o período de rebrote, entram em um pasto com maior vigor, a produção de @/ha/ano no sistema pasto é maior, pois já começa com taxa de lotação mais alta, sem limitar o GMD (ganho médio diário) devido a boa oferta de forragem. Quando se inibe o rebrote de capim com os animais nos pastos, a carga animal deve ser menor até o momento em que o pasto atinja sua capacidade por completo. Isso impacta tanto na produtividade medida por @ produzidas / ha, quanto no desempenho individual dos animais, já que estes não têm oferta suficiente que garanta um consumo de pasto adequado.

No Brasil, nosso sistema de produção permite recriarmos animais em sistema de pastejo, com custo de produção relativamente baixo, especialmente no período de chuvas. Porém, no período de seca os desafios são enormes e, na grande maioria dos casos, temos perdas de produção e custos muito elevados. Várias alternativas de intensificação a pasto no período da seca têm sido propostas ao longo dos anos, a recria de bezerros confinados no período da seca vem ganhando espaço como alternativa viável para melhoria de rentabilidade e redução do ciclo de produção. Como toda nova tecnologia, esse tipo de sistema requer muitos cuidados e orientações de profissionais especializados e com experiência na condução correta, reduzindo os riscos e alcançando os resultados desejados. 

Eduardo Batista, Consultor nacional de bovinos de corte da Cargill Nutrição Animal

Fonte: Nutron

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