Bovinos de Corte

Manejo de dejetos e oportunidades

Dejetos bovinos: de problema ambiental a oportunidade econômica


Publicado em: 13/10/2025 às 09:00hs

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A geração de dejetos é uma realidade inevitável na pecuária. Para dimensionar o desafio, um único bovino pode produzir mais de 18 kg de dejetos por dia, ultrapassando 6,4 toneladas por ano. Quando não há manejo adequado, esse volume se torna um problema: transmite doenças, causa mau cheiro, polui o solo, a água e até o ar.

Mas olhar para os dejetos apenas como um passivo ambiental é deixar escapar uma oportunidade valiosa. Um rebanho de 100 animais, por exemplo, pode gerar nutrientes equivalentes a uma pequena fortuna em fertilizantes: 3.100 kg de Nitrogênio (N), 2.000 kg de Fósforo (P) e 6.200 kg de Potássio (K) ao ano. Isso, na prática, significa menos gasto com adubação e mais energia disponível dentro da própria fazenda.

Com o manejo correto, o que antes era problema vira economia e, em alguns casos, nova fonte de receita para o produtor rural.

Como aproveitar os dejetos

O sucesso no aproveitamento começa pela coleta do resíduo, que pode ser líquida, pastosa ou sólida. A dieta do animal e o sistema de produção influenciam muito na forma física do material, o que, portanto, determina o melhor método de transporte e tratamento para transformar dejetos em fertilizantes ou energia.

Compostagem, o pontapé inicial

Para quem busca uma solução simples e econômica, a compostagem é um excelente começo e primeiro passo. O processo se baseia em misturar o dejeto com materiais secos, como palha ou serragem, formando pilhas de compostagem. As pilhas, com cerca de 1,5 metro de altura e largura, devem ser revoltas sempre que necessário, para correção e ajustes de umidade, que deve ser mantida próxima de 60%, e temperatura, entre 50 e 80°C. Em um processo bem conduzido é possível obter uma redução de 50% de gases de efeito estufa e, em 60 a 90 dias, o material se transforma em um composto orgânico mineralizado de alta qualidade.

Esse método pode se encaixar em confinamentos de terminação, pois o ciclo da compostagem acompanha o giro de 90 dias do lote. Ao final do período, o pátio já está pronto para receber uma nova carga de dejetos raspados das baias.

Lagoas de estabilização: boa alternativa para volume maior

Em propriedades médias, como as de gado leiteiro, onde os dejetos são mais líquidos, as lagoas de estabilização oferecem solução prática. Os resíduos podem ficar armazenados de 60 a 120 dias em lagoas impermeabilizadas, passando por fermentação ao longo desse período, reduzindo sua carga de contaminantes e viabilizando seu uso. O líquido tratado pode irrigar pastagens, atuando como um bom condicionador do solo, enquanto o lodo sedimentado se torna um fertilizante concentrado, o que ajuda a reduzir custos com adubação mineral.

Biodigestores: energia e biofiertilizante

Para quem deseja aproveitar ao máximo o potencial dos dejetos, os biodigestores são a tecnologia mais completa. O sistema gera biogás e produz um biofertilizante líquido, estabilizado e de grande valor agronômico.

Para dimensionar esse potencial, vamos usar um exemplo prático: um rebanho de 50 bovinos. Com base nos dados de potenciais de produção de biogás e concentração de metano em dejetos de bovinos de corte, e considerando um sistema de biodigestão com eficiência de conversão de 37%, este rebanho teria potencial para gerar aproximadamente 28.700 kWh de eletricidade por ano. Essa energia é suficiente para suprir integralmente as demandas de 12 residências de perfil padrão ou mais de 4 casas com alto consumo de energia, incluindo ar-condicionado. Na prática, isso representa não apenas a autossuficiência energética da propriedade, mas um potencial de receita significativo.

A adoção de biodigestores é mais complexa e requer um dimensionamento adequado ao fluxo de dejetos da propriedade, exigindo um maior investimento inicial. O Departamento de Pesquisa, desenvolvimento e inovação da Premix, em parceria com a UNESP - Universidade Estadual Paulista e a USP - Universidade de São Paulo, mostrou que o uso do aditivo natural Fator P na dieta animal não comprometeu a produção de biogás. Neste caso, devido ao fato dos animais não receberem dieta composta por aditivos antibióticos e ionóforos melhoradores de desempenho, a inclusão do aditivo Fator P garantiu um biofertilizante seguro e livre de resíduos que possam influenciar negativamente a fermentação.

O Futuro da valorização dos resíduos

O aproveitamento dos dejetos vai além da energia e do fertilizante. Com sistemas mais avançados, é possível transformar ainda mais valor:

  • Fertilizantes organominerais: a fração sólida pode ser processada e certificada, aumentando a rentabilidade.
  • Biometano: o biogás, após purificado, se transforma em fonte de energia renovável, podendo ser utilizado como combustível para veículos.
  • CO₂ verde e amônia verde: tecnologias de ponta já permitem comercializar CO₂ capturado e produzir amônia de fonte 100% renovável.
Oportunidade

O que hoje é um custo e um desafio ambiental na propriedade pode se tornar uma poderosa fonte de receita e autossuficiência. O manejo estratégico de dejetos é mais do que cumprir a lei, é uma decisão de negócio inteligente que gera ativos valiosos.Pense nisto: um rebanho de apenas 50 cabeças tem o potencial de gerar 28.700 kWh em eletricidade por ano, além de um biofertilizante de altíssima qualidade. Na prática, isso significa redução na conta de energia, substituição e redução de custo com uso de gás GLP, e  diminuição da compra de fertilizantes. O resultado é um impacto direto e positivo no fluxo financeiro, fortalecendo não apenas a sustentabilidade, mas a rentabilidade do negócio.

Ao adotar as práticas corretas,  é possível agregar valor imediato ao resíduo e amplia as margens de lucro. As oportunidades são claras:

  • Produção de composto mineralizado e fertilizante líquido de alto valor;
  • Geração de energia elétrica e térmica para a fazenda;
  • Mitigação de gases de efeito estufa, abrindo portas para o mercado de créditos de carbono.

O caminho começa com o apoio técnico correto, seja de órgãos de extensão ou empresas especializadas. Avalie a solução que melhor se adapta à sua realidade e comece a transformar o manejo diário de dejetos em uma oportunidade para a propriedade.

Willian Rufino Andrade é zootecnista e Phd. em Nutrição e Produção Animal e Analista de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação na Premix.

As referências bibliográficas encontram-se com o autor.

Fonte: Premix Nutrição Animal

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